O perigo dos transtornos mentais e comportamentais

Mais de 70% dos trabalhadores brasileiros sofrem de algum transtorno mental e/ou comportamental devido ao alto nível de estresse a que são submetidos diariamente

Nos primórdios da evolução, quando a espécie humana vivia em cavernas e caçava para se alimentar, os perigos eram constantes. Animais selvagens, fenômenos da natureza e confrontos com inimigos aconteciam com frequência. O organismo desenvolveu, então, uma mecanismo fisiológico de fuga ou luta, quando exposto a alguma situação de estresse. As glândulas suprarrenais liberam adrenalina na corrente sanguínea, o que promove maior força muscular e velocidade. As pupilas se dilatam para que a visão se torne mais aguçada. A circulação sanguínea é readaptada. Sai do sistema digestivo e é realocada para os músculos.

“A princípio, estresse não é uma doença, é uma reação fisiológica de defesa. Uma vez que o perigo se afasta, o corpo relaxa e volta às condições normais. Porém, não é o que observamos na sociedade atual. Seguimos expostos ao estresse de maneira constante, devido a problemas profissionais, pessoais e financeiros”, destaca o clínico geral e diretor da clínica Ser Integral, Dr. Roberto Debski.

As estatísticas a respeito do nível de estresse são alarmantes. Em 2005, dados da International Stress Management Association (ISMA) apontavam que o Brasil tinha cerca de 20 milhões de trabalhadores enfrentando algum tipo de problema causado pelo estresse ocupacional.

Passados dez anos, o índice cresceu em ritmo semelhante à proporção das incertezas do cenário econômico globalizado. Um nova pesquisa da ISMA-BR, realizada em 2015, indica que 72% dos trabalhadores brasileiros sofrem de algum transtorno mental e/ou comportamental devido ao alto nível de estresse a que são submetidos diariamente.

“A incerteza do cenário que vivemos traz situações diárias de estresse. Uma cascata de pensamentos negativos faz com que a produção de hormônios seja excessiva. Um atleta lida com situações de competição diariamente. A diferença é que ele sabe o dia e a hora do evento. No ambiente corporativo, não há essa certeza. A qualquer momento pode ser necessário enfrentar uma situação desafiadora”, relata o psicólogo e especialista em neurociência aplicada, Silvio Aguiar.

Quando a resposta a esse ambiente é cansaço e falta de disposição ao fim do dia, trata-se de fadiga, problema que se dissipa facilmente diante de um momento de lazer e não causa perda das funções cognitivas.

Agora, quando esse estado de alerta do organismo deixa de ser pontual, apenas uma resposta natural a uma situação de perigo, e se torna constante, o estresse passa da fase aguda para a fase crônica – ou de resistência. A partir desse momento, as reações fisiológicas sofrem algumas alterações.

“A parte externa da suprarrenal (córtex) passa a produzir corticoides em excesso. Quando isso ocorre, é como se estivéssemos tomando medicamentos à base de corticoides, o que causa uma série de reações no organismo, como baixa da imunidade, úlcera, alterações de sono, queda da libido, cansaço, perda de energia, disfunção erétil e ganho de peso”, enumera o Dr. Debski.

Quando essa condição é levada adiante, sem nenhuma melhora do estilo de vida ou tratamento medicamentoso, o estresse evolui para a terceira e última fase: a exaustão. O organismo entra em cansaço extremo e perda da vitalidade. A partir desse ponto, o sistema de adaptação a situações de estresse começa a falhar.

É nesse momento que, principalmente as pessoas com predisposição a doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, começam a adoecer até chegar a atingir extremos, como a Síndrome de Burnout – esgotamento físico e mental provocado pelo estado de tensão emocional e estresse no ambiente de trabalho – ou até a morte súbita ocupacional.

Apesar de parecerem situações atípicas, estão se tornando cada vez mais incidentes. Entre os 72% de brasileiros que sofrem com estresse crônico, conforme levantado pela pesquisa da ISMA-BR, 30% deles têm a doença em um nível grave. “Acaba a reserva de energia. O estresse vai desgastando os sistemas de defesa até um ponto extremo”, alerta o médico.

Combate ao problema

A mudança no estilo de vida é fundamental para reduzir o nível de estresse no organismo. Praticar exercícios físicos, manter uma alimentação balanceada, gerenciar as emoções e regular o sono são atitudes fundamentais para evitar que o excesso de trabalho, cobrança e preocupações esgotem a saúde. Durante esse processo de mudanças, que geralmente é difícil e demanda tempo e dedicação, a suplementação vitamínica pode ser um aliado importante.

Os benefícios do consumo de polivitamínicos são comprovados por pesquisas clínicas. Um estudo realizado com o apoio do laboratório Boehringer Ingelheim dividiu 450 homens e mulheres saudáveis, com idade superior a 25 anos e profissionalmente ativos, em dois grupos.

Enquanto um recebeu cápsulas de um polivitamínico composto por vitaminas, sais minerais, oligoelementos e ginseng, em um período de 12 semanas, o outro recebeu placebo. Os resultados foram medidos com a aplicação de um questionário de avaliação que observa a função cognitiva, o humor e a fadiga. O estudo demonstrou que o polivitamínico promoveu significativa redução da fadiga, melhora da concentração e da capacidade de reação.

Isso ocorre porque, de maneira geral, as vitaminas e os minerais são cofatores de reações metabólicas. O aporte adequado desses nutrientes favorece a recuperação do bom funcionamento do organismo como um todo. Além disso, dentro de um quadro de estresse, que frequentemente está associado à má alimentação, é comum que existam carências nutricionais.

Devido a reações específicas que provocam no organismo, algumas vitaminas e minerais têm efeitos importantes no combate aos sintomas do estresse crônico.

Aliados importantes

Está disponível no mercado uma série de polivitamínicos que promovem o combate ao estresse e à fadiga. Confira quais são os principais nutrientes que compõem a fórmula desses produtos:

Ácido fólico: tem ação direta no Sistema Nervoso Central (SNC), pois age como cofator na produção de serotonina. Ajuda a combater depressão, falhas cognitivas e irritabilidade.

Vitamina B12: atua no combate da depressão, além de combater úlceras aftosas associadas à queda da imunidade e desregulação hormonal.

Ferro: tem a capacidade de dar disposição, pois ajuda a hemoglobina do sangue a fornecer o oxigênio dos pulmões ao resto do corpo. Deve ser tomado com vitamina C para que seja mais bem absorvido.

A carência de vitamina B12, por exemplo, colabora para o surgimento de alterações neurológicas, que reduzem a qualidade de vida do indivíduo. Por isso, a suplementação desse nutriente é frequentemente recomendada em quadros de depressão e declínio da função cognitiva. A mesma substância ainda ajuda a combater úlceras aftosas que podem estar associadas à queda da imunidade e desregulação hormonal.

A suplementação de ácido fólico também pode ser necessária em alguns quadros de estresse crônico, por ter ação direta no sistema nervoso. Segundo estudos realizados pelo Institute for Functional Medicine, nos Estados Unidos, mais de 40% dos casos de depressão são causados pela falta de folato no organismo. O nutriente age como cofator na produção de serotonina, um neurotransmissor que garante o bom humor, tendo um papel importante na capacidade cognitiva e na saúde emocional.

Por fim, o consumo de ferro também tem um papel importante no combate ao estresse e à fadiga, já que ele ajuda a dar disposição. Diante de uma carência de mineral, é comum sentir cansaço, sonolência e desânimo. Em picos agudos, pode resultar em anemia.

“A suplementação de vitaminas pode ser um recurso dentro de uma série de medidas que precisam ser tomadas para reverter um quadro de estresse crônico. Além de tratar possíveis carências nutricionais, é preciso fazer exercício, cuidar da alimentação, aprender a controlar as emoções, praticar meditação. É preciso ter um olhar multifatorial para o problema”, finaliza o Dr. Debski.

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