Os segredos da adesão aos fitoterápicos

Ampliar a comunicação e a educação entre especialistas da área da saúde é essencial para aumentar o número de prescrições e a segurança dos consumidores sobre a eficácia dos fitoterápicos

Ao passar por uma consulta médica, é natural sair com a prescrição de um medicamento sintético, seja qual for o problema de saúde. Entretanto, essa realidade tende a mudar, segundo projeta a médica geriatra e responsável pelo Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma, Dra. Rita de Cássia Salhani Ferrari.

“Mesmo com o avanço dos medicamentos de síntese, há uma fonte inesgotável daqueles oriundos da natureza e que sofrem uma síntese química a partir deles em laboratório”, diz.

Ela lembra, por exemplo, que a Aspirina®, composta por Ácido Acetilsalicílico (AAS), teve sua descoberta a partir de uma planta, Salix alba. E assim, como esse produto, há diversos medicamentos sintéticos derivados de uma fonte natural (colchicina, digoxina, etc.).

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 89% da população mundial recorre às plantas medicinais para suas enfermidades”, aponta a Dra. Rita de Cássia.

Portanto, esse é um cenário que está mudando à medida que a comunidade científica acessa publicações da área em revistas renomadas, respaldando o uso das plantas medicinais em algumas doenças.

“Nossa legislação de fitoterápicos no Brasil, publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é extremamente bem-vista no mundo inteiro.Tendemos a uma convergência regulatória com a legislação da Europa (EMA), por exemplo, onde há um país como a Alemanha, considerado o berço da fitoterapia”, pondera a especialista da Marjan.

A indústria também age diretamente em contato com a classe médica, a fim de disseminar os benefícios dos fitoterápicos. “A Cimed atua fortemente no ponto de venda (PDV) e, em paralelo, está desenvolvendo um projeto para trabalhar juntamente aos médicos”, conta a gerente de produtos do Grupo Cimed, Nicole Arnais.

Garantia de qualidade

Os medicamentos fitoterápicos, assim como as demais categorias de medicamentos, são registrados junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Para tanto, cumprem todos os regulamentos técnicos da categoria, segundo explica a gerente de produtos do Grupo Cimed, Nicole Arnais. “A segurança e eficácia pode ser baseada em evidências clínicas ou em dados de uso seguro e efetivo, publicados em literatura técnico-científica”, diz.

A médica geriatra e responsável pelo Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma, Dra. Rita de Cássia Salhani Ferrari, reforça, ainda, que o rigor brasileiro em relação aos fitoterápicos é maior do que em muitos países.

“Nossa legislação não é igual a dos Estados Unidos, onde a maior parte dos fitoterápicos não passa pelo registro do Food and Drug Administration (FDA). Por isso, nossa legislação feita pela Anvisa é extremamente bem-vista ao redor do mundo”, justifica.

A exigência por qualidade é tamanha que, para este ano, as indústrias do setor devem passar por um novo desafio. “A Anvisa passou a exigir as análises de pesticidas para todos os fitoterápicos registrados. Esse será um passo muito importante para melhorar ainda mais o rigor de qualidade dos nossos fitoterápicos, porém, existe uma fase de adaptação das indústrias, visto que não era algo regulado até então”, lembra a coordenadora de marketing Consumo da Herbarium, Natana Martins.

A Marjan também procura trabalhar ao lado desses profissionais, por meio de programas de Educação Médica Continuada, como workshops ou simpósios, em que especialistas nacionais e internacionais discutem sobre as evidências científicas dos extratos botânicos. “ É uma maneira adequada de levar informação de qualidade ao profissional de saúde para poder prescrever os fitoterápicos com segurança”, considera a Dra. Rita de Cássia.

Além disso, cada vez mais, os profissionais responsáveis pelas prescrições estão tendo conhecimento sobre a fitoterapia, seja em congressos médicos, seja na informação acessada pelas mídias.

“Ainda não é como na Alemanha, por exemplo, mas estamos caminhando paulatinamente para uma maior informação. Muitas vezes, o próprio paciente chega ao consultório médico questionando a respeito de algum extrato vegetal sobre o qual ele teve acesso à informação pelas mídias sociais. Isso acaba fazendo com que o médico tenha interesse também em pesquisar a respeito daquele assunto. Dessa forma, dissemina-se cada vez mais informação de respaldo científico relacionado à fitoterapia”, pondera.

Esse trabalho de disseminação de informações já começa a trazer frutos. Segundo a Dra. Rita de Cássia, embora não se tenha dados oficiais sobre quantos por cento das prescrições, hoje, são constituídas por fitoterápicos, pode-se dizer que, dependendo da doença e da idade do paciente, os médicos preferem a utilização de fitoterápicos. Afinal, os extratos botânicos são utilizados para a fabricação de medicamentos nas indústrias farmacêuticas e, aqui no Brasil, passam pelo mesmo controle de qualidade dos medicamentos compostos por substâncias sintéticas.

“Se pensarmos que a tolerabilidade é extremamente relevante em pacientes idosos, que são polimedicados, por exemplo, o uso da fitoterapia nesta faixa etária assume um papel relevante e preponderante”, justifica.

Aumentando a adesão entre consumidores

Há alguns medicamentos fitoterápicos que são comercializados isentos de prescrição médica. Para eles, segundo a Dra. Rita de Cássia, a informação ao consumidor sobre as possibilidades terapêuticas pode ser útil, desde que haja sempre o respaldo científico daquele fitoterápico e sem se esquecer de apontar outras possibilidades terapêuticas, para que o consumidor tenha acesso a uma informação completa.

Os farmacêuticos também podem ser disseminadores do conceito correto da fitoterapia, sabendo suas vantagens e desvantagens, e desmistificando o conceito equivocado de que fitoterapia é igual à homeopatia e de que não causa nenhum efeito colateral.

“É papel desses profissionais orientar o consumidor sobre os benefícios de um medicamento fitoterápico e suas indicações”, reforça Nicole.

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