Pacientes-alvo

Os fitoterápicos podem ser utilizados no tratamento das mais diversas patologias, mas são comumente empregados em casos de doenças crônicas ou que exijam uso prolongado de medicamento, por apresentarem menos efeitos colaterais e menor risco de dependência

Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 70% e 90% da população dos países em desenvolvimento, no âmbito da Atenção Primária à Saúde, faça uso das plantas medicinais, muitas vezes pelas práticas populares representarem o único recurso de acesso a tratamentos de saúde. Além disso, uma forte corrente que busca terapias menos agressivas, motivada até mesmo por modismos, provoca o crescimento dos fitoterápicos.

De uma maneira geral, esse tipo de medicamento é mais utilizado no combate de distúrbios mais leves, como, por exemplo, desarranjos gastrointestinais, prisão de ventre, dores lombares, varizes, tosses, alguns tipos de inflamações ou como cicatrizantes e calmantes leves.

Os fitoterápicos também são buscados por pacientes que necessitam fazer uso frequente ou contínuo de medicamentos, como no tratamento de doenças crônicas e déficits cognitivos, pois além de oferecerem a mesma segurança e eficácia dos medicamentos convencionais, provocam menos efeitos colaterais e menor chance de dependência.

“Muitas vezes, o medicamento fitoterápico é escolhido prioritariamente em razão de apresentar menores efeitos colaterais e uma ação mais branda em situações de uso crônico. Considerando um processo reumático com dores intensas em um indivíduo que apresenta, por exemplo, problemas gástricos e sendo um problema crônico, apesar dos medicamentos de origem sintéticas serem mais efetivos, haverá maior manifestação de efeitos adversos o que, muitas vezes, inviabilizará sua utilização e, talvez, a opção terapêutica mais indicada seja o uso de um medicamento fitoterápico”, destaca a professora titular e farmacêutica responsável pela Farmácia-Escola da Universidade de São Paulo (FCF-USP), Maria Aparecida Nicoletti.

Apesar dos fitoterápicos serem indicados com mais frequência para doenças de menor gravidade e/ou de evolução crônica, existem exceções como o Viscum album, fitoterápico usado por 80% dos pacientes com câncer na Alemanha – país precursor da fitoterapia científica.

“Outro exemplo que está emergindo recentemente é o uso da Cannabis sativa (princípio ativo da maconha) em doenças graves, como a síndrome de Gravet, crises epilépticas refratárias, esclerose múltipla e câncer, entre tantas outras”, destaca o médico cofundador e primeiro presidente da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (Sobrafito), José Roberto Lazzarini Neves, que garante que, em breve, serão comprovados cientificamente muitos outros usos dos medicamentos fitoterápicos produzidos a partir da Cannabis. “Muita coisa tem sido pesquisada nesse campo, criando uma robustez de evidências científicas.”

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Alternativa considerável

Além de ser eficaz tanto no combate de males mais simples aos mais complexos, os fitoterápicos também podem ser utilizados como tratamento auxiliar ao feito com medicamentos tradicionais, desde que o profissional de saúde assegure que não há risco de interação. E mais importante que isso, é fundamental que o paciente tenha a consciência de que os fitoterápicos não são mais brandos por terem origem natural.

“Para o consumidor, ainda existe o mito de que a planta é inofensiva, e este mito carrega a ilusão de que um produto fito é menos prejudicial ao organismo do que um produto de origem sintética. Ambos os produtos podem ser seguros e eficazes”, avalia a diretora comercial do Aché, Vânia Machado.

Para evitar problemas devido ao desconhecimento da população, o profissional de saúde precisa explicar que os extratos vegetais apresentam substâncias químicas sintetizadas pelas plantas, com atividade farmacológica e que também podem causar efeitos indesejados, ditos colaterais, e até interações com outras substâncias.

As plantas com maior frequência nas prescrições são:

Uncaria tomentosa (unha-de-gato): usada no tratamento de abscessos, artrite, asma, inflamações e reumatismo. 

Camellia sinensis (chá verde): para tratar dores de cabeça, no corpo, auxiliar a digestão. Também funciona como desintoxificante do organismo e energizante.

Valeriana officinalis (valeriana): usada como sedativo e ansiolítico. 

Casearia sylvestris (guaçatonga): eficaz contra afta, artrite, doenças de pele e diarreia.

Hamamelis: auxilia no trato de ferimentos superficiais da pele, hemorroidas, varizes ou queimaduras.   

Echinacea (equinácea): para tratar doenças respiratórias, constipação e picadas de cobra.

Calendula officinalis (calêndula): ajuda no tratamento de acne, aftas, gastrite, dermatite, úlceras, psoríase, rachaduras no seio e varizes.

Garcinia cambogia (garcinia): utilizada como um moderador de apetite por quem deseja perder peso. 

Chamomilla recutita (camomila): possui efeito sedativo, analgésico, anti-inflamatório e anti-séptico. 

Ginko biloba: muito indicada para combater problemas psico-comportamentais de senilidade, como pouca concentração e memória fraca.

Aesculus hippocastanum (castanha-da-índia): tratar insuficiência vascular como, por exemplo, úlceras venosas, hemorroidas, varizes e inflamação.

Tribullus terrestres (abre-os-olhos): considerada um ‘Viagra’ natural. Também funciona como suplemento para melhorar o desempenho esportivo. 

Gymena sylvestris (gymena): usada para controlar o açúcar do sangue, aumentando a produção de insulina.

Passiflora (maracujá): possui propriedades ansiolíticas e sedativas, muito indicadas para o tratamento da insônia. 

Hypericum perforatum (hipérico): usada no tratamento da depressão leve a moderada, ansiedade e insônia. Em forma tópica, funciona como um bom adstringente.  

Maytenus ilicifolia (espinheira-santa): útil no combate a dores de estômago, gastrite, úlcera, azia e queimação.  

Erythrina mulungu (mulungu): eficaz no tratamento de problemas psicológicos relacionados com o estresse. 

Ilex paraguariensis (pholina negra): é um indutor de saciedade que auxilia na perda de peso. 

Arnica: tem efeito analgésico e anti-inflamatório, contribui para alívio de dores, inchaço e redução de hematomas. 

Rhamnus purshiana (cáscara sagrada): ajudar no tratamento de prisão de ventre, inchaço abdominal, fluxo menstrual desregulado, hemorroidas, problemas de fígado e dispepsia. 

Das 20 espécies mais utilizadas, dez apresentam risco de interação medicamentosa.

Fontes: Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (Sobrafito); e Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba  (UFPB)

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