O papel social dos genéricos

Total de recursos que os usuários de medicamentos deixaram de gastar ao optar pelos genéricos já soma quase R$ 90 bilhões, valor que representa acessibilidade aos tratamentos de saúde

Mesmo diante da crise econômica, o desejo do brasileiro em cuidar da saúde continua. Mas algumas concessões precisaram ser feitas para que seus objetivos fossem concluídos, com destaque para o valor total do tratamento. Essa realidade reforça o papel social que os genéricos têm conquistado neste momento, já que a população busca alternativas mais econômicas nos seus cuidados. 

“O aumento da procura dos brasileiros por genéricos no momento de crise é decorrente da migração de demanda para produtos que geram mais economia ao bolso do consumidor, e que, ao mesmo tempo, possuem a mesma qualidade dos medicamentos de referência. Isso faz com que os genéricos tenham se tornado a primeira opção de compra pela população”, analisa o farmacêutico do setor de lançamentos do Teuto, Thiago Lobo Matos.

De fato, a economia proporcionada pelos genéricos aos consumidores já chega perto dos R$ 90 bilhões, desde que começaram a ser produzidos no País, em 1999.

“Esse é total de recursos que os consumidores deixaram de gastar com medicamentos ao optarem pelos genéricos disponíveis no mercado. A economia diária é percebida na hora da compra do medicamento, quando a opção é pelo genérico”, comenta a presidente executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), Telma Salles. 

Segundo Telma, no caso dos anti-hipertensivos, por exemplo, as vendas de genéricos em unidades cresceram 38% nos últimos três anos (de 2014 a 2016), contra uma expansão de 26% dos similares e de 10% entre os medicamentos de referência no mesmo intervalo de tempo.

Já os genéricos antilipêmicos, voltados para o controle do colesterol, registraram expansão de 29% entre 2014 e 2016, em unidades. No mesmo período, os similares cresceram 12% e os medicamentos de referência contabilizaram contração de -10%.

“Esses são exemplos bastante claros de como os genéricos crescem na crise por oferecerem qualidade, segurança, eficácia e preços mais baixos para os consumidores”, reforça a executiva da Pró Genéricos. 

Doenças crônicas

Sem dúvida, a situação socioeconômica pode influenciar a adesão ao tratamento em casos de usuários com baixo poder aquisitivo, segundo comenta o presidente da Prati-Donaduzzi, Eder Maffissoni.

“Como os medicamentos genéricos são mais baratos, auxiliam na adesão dos pacientes ao tratamento, melhorando a saúde e diminuindo os custos das terapias”, justifica.

No caso das doenças crônicas, que são aquelas que exigem medicamentos de uso contínuo, o papel dos genéricos ganha ainda mais expressividade, já que o tratamento não pode ser interrompido. Hoje, esse público é, de fato, bastante favorecido, já que mais de 30% dos genéricos vendidos são produtos para o controle de patologias, como hipertensão, diabetes e colesterol alto.

“No Brasil, o consumo de medicamentos para o tratamento de diabetes, por exemplo, cresceu mais de 900% nos últimos 18 anos, ou seja, desde que os genéricos chegaram ao mercado”, comprova Telma, acrescentando que, no mesmo período, o consumo de medicamentos para tratamento de pressão arterial avançou mais de 500%; e para o tratamento de colesterol, cresceu 1.840,35%. 

Papel ativo de farmácias e indústria

Os portadores de doenças crônicas merecem atenção especial dos profissionais da saúde considerando que, muitas vezes, acabam negligenciando a administração de medicamentos pelo entendimento de que o problema de saúde apresentado não tem cura, segundo alerta a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.

Assim, os farmacêuticos também precisam atuar para o esclarecimento sobre todas as consequências possíveis que uma doença crônica não controlada pode trazer à qualidade de vida das pessoas.

“Uma hipertensão não controlada poderá levar a danos nos vasos, coração, rins e cérebro, e envolve não somente a administração de medicamentos (tratamento farmacológico), mas também tratamento não farmacológico, como a mudança dos hábitos de vida”, exemplifica.

Para a especialista da USP, os farmacêuticos fazem uma enorme diferença em relação à Educação em Saúde à população e, para tanto, eles contam com uma ferramenta efetiva e, muitas vezes, decisiva para a orientação correta do uso de medicamentos: a interação direta com o paciente.

“O resgate da função assistencial do farmacêutico vem sendo feito a partir de um novo modelo denominado Atenção Farmacêutica (AF). O maior benefício da implantação dessa prática está no restabelecimento da relação terapêutica entre o farmacêutico e o paciente”, comenta. 

Diante da importância da disseminação de informações sobre saúde entre a população, até mesmo a indústria tem se envolvido na capacitação de balconistas e os farmacêuticos.

“Em 2016, mais de 11 mil pessoas foram treinadas por meio da Universidade Sandoz, entre farmacêuticos, balconistas, distribuidores e profissionais de saúde, ajudando a melhorar os serviços em estabelecimentos farmacêuticos e levando informação qualificada a pacientes”, comenta o diretor de marketing e Inteligência de Mercado da Sandoz, Guilherme Barsaglini.

Além de desenvolver treinamento próprio, a companhia também possui parcerias com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Universidade de São Paulo (USP) para realização de cursos e capacitação profissional.

A Merck também enxerga a importância dos farmacêuticos para a população. “Esses profissionais estudaram Farmácia e a farmacopeia dos produtos e conseguem ser multiplicadores para dar atenção aos pacientes. Assim, desenvolvemos fóruns em muitas das 72 mil farmácias espalhadas pelo País, a fim de garantir que prestem um serviço melhor à população”, conta o diretor da divisão de genéricos da Merck, Eduardo Lima.

E não são somente as farmácias que podem envolver a população na adesão ao tratamento por meio da Educação em Saúde. A indústria de medicamentos também tem contribuído nesse sentido.

A Sandoz, por exemplo, mantém diversos programas. Um deles, que acontece desde 2015, é o Cuidamos da Saúde de Sua Família (www.cuidamosdasaude.com.br), desenvolvido para levar conhecimento que ajude na educação sobre o uso responsável dos antibióticos.

A empresa também promove outros dois programas de orientação ao paciente, o Somar e o Bem-Estar. “Eles auxiliam na aplicação e adesão ao tratamento, conscientizando o paciente sobre a necessidade do tratamento e auxiliando-o em situações que apresentem dúvidas”, afirma Barsaglini.

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Uso responsável

A grande diferença em relação à conscientização do paciente é o contato direto do farmacêutico com o usuário de medicamento, considerando que cada paciente tem necessidades individuais. E essa atuação precisa ser cada vez mais intensificada na dispensação de medicamentos, para que a Educação em Saúde seja uma rotina nas farmácias/drogarias.

“Essa ação pode contribuir para o entendimento da população quanto ao uso racional de medicamentos, desde questões mais simples até as mais complexas no universo da terapia medicamentosa”, constata Maria Aparecida.

Segundo a especialista da USP, a população precisa de informações a respeito dos tipos de medicamentos disponibilizados na dispensação, formas farmacêuticas, posologia, via de administração, duração do tratamento, reações adversas, entre outras informações de desconhecimento geral.

“É importante que o farmacêutico estabeleça uma linguagem que seja de entendimento do paciente para que o medicamento possa ser utilizado com segurança e de forma efetiva”, aconselha.

E as informações transmitidas do farmacêutico para o paciente também devem esclarecer o papel, os benefícios e as vantagens dos genéricos. “Esses profissionais devem orientar o paciente no uso desses medicamentos, trazendo credibilidade ao produto e segurança ao consumidor”, opina Maffissoni, da Prati-Donaduzzi.

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