Poder de escolha

Seja para evitar uma gravidez indesejada ou para prevenir as doenças sexualmente transmissíveis, existem diversos métodos que possibilitam um planejamento familiar e uma vida sexual ativa, saudável e segura

O mundo passou por grandes transformações ao longo dos séculos e as pessoas conquistaram mais independência e direitos. A sociedade já não se assusta mais quando o assunto é igualdade entre homens e mulheres.

Um dos maiores trunfos são os métodos contraceptivos. Se antigamente a mulher não podia decidir engravidar ou não, agora ela pode planejar sua vida de forma mais eficiente, além de manter uma vida sexual ativa e saudável. Isso reflete no aumento da expectativa de vida e no tamanho das famílias atuais.

Com relação ao número de filhos, em 1980, a média era de quatro por mulher e agora é de um a dois. Elas também estão esperando mais tempo para tê-los. Entre as jovens de 25 a 29 anos de idade, em 2000, 69,2% delas tinham filhos e, em 2010, esta proporção caiu para 60,1%. 

Existe uma tendência de queda da taxa de natalidade. Conforme o exercício demográfico realizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o número de filhos por mulher vem reduzindo desde a década de 1960. 

A quantidade de nascimentos caiu 13,3% entre 2000 e 2012, quando a taxa de fecundidade foi de 1,77 filho por mulher e são diversos os motivos que levaram a este quadro, como a busca por melhores posições no mercado de trabalho e uso de contraceptivos.

Métodos disponíveis

Existem duas classificações para os métodos contraceptivos: os reversíveis, conhecidos como temporários, que ao terem seu uso interrompido, possibilitam a gestação; e os irreversíveis, conhecidos como definitivos, com intervenção cirúrgica, como vasectomia, no caso dos homens, e laqueadura tubária, para as mulheres; além do Essure, sem intervenção cirúrgica. 

“Os contraceptivos podem ser hormonais e não hormonais. Os hormonais são as pílulas anticoncepcionais, os adesivos transdérmicos, o anel vaginal, os injetáveis e os implantes subcutâneos. Os não hormonais são o Dispositivo Intrauterino (DIU); os preservativos, que também servem como barreira contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs); a laqueadura; o Essure, método contraceptivo permanente, implantado na tuba uterina, que se acomoda dentro da trompa, e esteriliza a mulher como a laqueadura, mas sem cirurgia; e a vasectomia para os homens”, explica a médica ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Alessandra Bedin.

A função dos contraceptivos hormonais é bloquear a ovulação, uma vez que a mulher não engravida sem ela. Já o DIU, considerado não hormonal, deixa o ambiente uterino desagradável para o espermatozoide.

Funcionamento e eficácia

O anel vaginal é feito de silicone transparente e flexível e deve ser inserido na vagina pela própria mulher, liberando os hormônios estrogênio e progestagênio continuamente, com duração de três semanas e uma de intervalo. Os dispositivos sem hormônio, DIU, e com hormônio, SIU, são introduzidos no útero pelo ginecologista e são de longa duração.

O implante contraceptivo é um bastonete de 4 cm de comprimento, produzido com um material plástico especial, chamado EVA (etileno-acetado de vinila), flexível e estéril. Contém em sua composição um tipo sintético do hormônio natural progesterona, chamado etonogestrel e muito semelhante aos presentes nas pílulas anticoncepcionais.

Ele é adequado para mulheres que não desejam ou não devem usar estrogênio e têm interesse em um anticoncepcional de longa ação. A inserção do implante é rápida, com duração de aproximadamente dois minutos, e não é dolorosa. É realizada pelo médico, de forma simples, no próprio consultório, com um aplicador especialmente projetado para esta finalidade e anestesia local. 

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o implante subcutâneo é considerado o método anticoncepcional mais eficaz de todos, sendo que em cada dez mil mulheres que usam o implante, apenas cinco terão uma falha. Ele é mais eficaz até que a laqueadura das trompas uterinas, com cinco falhas em cada mil mulheres.

Já entre os contraceptivos hormonais, como pílulas, DIU, liberador de levonorgestrel, adesivo, injetáveis e anel vaginal, o implante tem também o maior índice de eficácia: 99,95%. O efeito do método foi testado em diversos estudos internacionais e comprovado durante mais de nove anos de comercialização do produto em vários países.

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) enviou recentemente à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) um dossiê solicitando a inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS) de dois tipos diferentes de contraceptivos reversíveis de longa duração (LARC, sigla em inglês) para ser usados por jovens com idades entre 15 e 19 anos. Esses anticoncepcionais, o implante subcutâneo e o Sistema Intrauterino liberador de Levonorgestrel (SIU – LNG), oferecem contracepção por três e cinco anos, respectivamente, e contribuem para a redução de gestações não planejadas entre adolescentes.

A recomendação da OMS é de incluir os anticoncepcionais reversíveis de longa duração na lista básica de medicamentos ofertados pelos sistemas públicos de saúde de diversos países. 

Do total de partos realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, 20% ocorre em meninas com idades entre dez e 19 anos, segundo divulgado pela Febrasgo.

A preferência nacional

Entre os métodos contraceptivos, a pílula anticoncepcional é a mais usada pelas mulheres. “É a preferida pela facilidade com que é conseguida, pelo baixo preço, pela venda sem necessidade de receituário médico e pela sua ótima eficácia”, explica o ginecologista Dr. Jurandir Piassi Passos.

O médico salienta que, como qualquer medicamento, tem seus efeitos colaterais, que podem ser desde uma leve dor de estômago ou cabeça, até quadros bem graves de trombose que podem acabar deixando sequelas na mulher.

O consultor em saúde, Dr. Odair Albano, explica que a primeira pílula anticoncepcional surgiu em 1961, nos Estados Unidos. “Continha 150 mcg de mestranol e 9.850 mcg de noretinodrel. Combinava os dois hormônios femininos, um estrogênio e um progestagênio sintético, em altas concentrações.” 

Já no ano seguinte, em função dos efeitos adversos, principalmente cardiovasculares, foi lançado outro medicamento, com metade da concentração dos hormônios. Nos anos seguintes, a concentração de etinilestradiol foi sendo progressivamente reduzida e, atualmente, existem pílulas com apenas 15 mcg do hormônio.

“Hoje, existem pílulas com concentrações até dez vezes menos de estrogênio e 164 vezes menos de progestagênio, em diferentes apresentações com 21, 22, 24 e 28 comprimidos, e ainda com possibilidade de uso estendido e que foram agregando eficácia contraceptiva, segurança e benefícios extracontraceptivos”, detalha o Dr. Albano.

De acordo com o ginecologista, Dr. José Bento, com a evolução da indústria farmacêutica, a dosagem foi sendo reduzida cada vez mais e, atualmente, as pílulas causam pouquíssimos efeitos colaterais, e com diversas opções no mercado, possibilitando que sua utilização vá além da contracepção. “Atualmente, existem pílulas que além da contracepção, promovem melhorias na pele, reduzem o fluxo sanguíneo, melhoram os sintomas da Tensão Pré-Menstrual (TPM).”

Com a mudança do papel da mulher na sociedade, as pílulas anticoncepcionais também evoluíram. “A eficácia continua sendo importante, mas outros aspectos são considerados. A prescrição pelo médico deve ser individualizada, observando-se os Critérios de Elegibilidade da OMS e as necessidades de cada paciente”, diz. 

Como regra, o anticoncepcional moderno deve oferecer uma boa eficácia contraceptiva, benefícios extracontraceptivos (regularização do ciclo menstrual, redução de sintomas pré-menstruais e dos efeitos androgênicos), poucos efeitos adversos (manutenção do peso, sexualidade e baixos riscos metabólicos e tromboembolismo), segurança e boa tolerabilidade. 

Muitas mulheres também não desejam menstruar todos os meses, com suspensão da pausa e, neste caso, a pílula deve manter a mesma eficácia, segurança e tolerância para ter seu uso estendido.

Os médicos esclarecem que existem estudos indicativos de que a pílula anticoncepcional protege a fertilidade da mulher, uma vez que diminui os riscos de endometriose, cisto no ovário, aparecimento de mioma e pólipo uterino. “Além disso, ela também protege a mulher contra o câncer do ovário e do endométrio”, ressalta o Dr. Bento.

Para a eficácia, os ginecologistas dizem que a pílula anticoncepcional tem 98% de resultado positivo, desde que seja tomada corretamente, sempre no mesmo horário.

Essa taxa é medida pelo Índice de Pearl, que avalia a porcentagem de falha do método e é calculada pelo número de gestações por 12 meses por 100 mulheres. A taxa de falha dos contraceptivos hormonais orais é muito baixa, oscila entre < 1% por ano com uso perfeito e < 10% por ano pelo uso atípico (erros no uso), segundo a OMS, os índices de falha são ainda menores, na média 0,3% e 3% respectivamente.

Autor: Renata Martorelli e Vivian Lourenço

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Essa matéria faz parte do Especial Mulher 2016.

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