Novos fármacos, novas doenças, novos tratamentos e diferentes perfis de pacientes. Trabalhar com saúde significa estar atento, diariamente, a todas as transformações que essa área sofre. E para estar sempre atualizado e seguro em relação ao atendimento, os farmacêuticos precisam investir em educação continuada.
Para o coordenador de Assistência Farmacêutica da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e CEO da Clinicarx, Cassyano Correr, para os farmacêuticos, assim como para outros profissionais da saúde, a educação continuada não é uma opção, é algo obrigatório.
“Por isso, cada vez mais usamos o termo “aprendizado por toda vida”. A graduação, apenas, infelizmente não garante que um profissional vá desempenhar bem sua função de salvar vidas e proteger pacientes por toda a carreira. A ciência evolui muito rápido”, comenta Correr.
A educação continuada tem como objetivo a reciclagem de conhecimento, descoberta de novas áreas ou mesmo outras formas de desenvolver as funções farmacêuticas.
“Como o farmacêutico tem uma formação generalista, é fundamental que busque uma área para se especializar logo após o término da graduação. Além disso, tanto as empresas e os bons profissionais têm se dedicado a educação continuada, pois o conhecimento de uma certa forma é garantia de uma boa empregabilidade”, afirma a docente do curso de Farmácia do Centro Universitário FMU|FIAM-FAAM, professora Maria F. Azevedo.
Segundo ela, em paralelo ao ganho de conhecimento, o profissional que participa da educação continuada, perenemente, está com contato com outros profissionais, dando-lhe a oportunidade de aumentar seu network.
A Prof. Maria Azevedo estima que, em 2023, o Brasil passe a ser o quinto país que consume mais medicamento no mundo. “Em consonância ao consumo, temos o lançamento de novos medicamentos e novas diretrizes de tratamento. Sem a educação continuada, o profissional não conseguirá prestar um bom atendimento, pois as informações vêm um ritmo muito acelerado. Além disso, as mudanças nas legislações, portarias e restrições de uso são atualizadas frequentemente. Sem esse conhecimento, podemos colocar em risco a saúde de população”, adverte.
Aprofundando os conhecimentos
Como foi dito, quando o curso de graduação chega ao fim, o farmacêutico se forma como um generalista. Mas isso pode mudar a partir do momento em que ele se identifica com determinadas áreas e passa a se especializar. E o universo de opções é vasto: da oncologia à fitoterapia clínica, existem inúmeras áreas em que esse profissional pode aprofundar conhecimentos, conforme explica o professor mestre e coordenador-geral do curso de farmácia da UNIP, Alipio de Oliveira do Carmo.
Passos para um bom atendimento
1. Cuidados com o paciente
O passo número um é colocar o paciente no centro. Portanto, um bom atendimento passa por identificar, analisar e depois propor soluções para esse paciente que sejam relevantes para sua saúde.
2. Empatia
Não é possível falar em bom atendimento sem empatia. O que diferencia um robô de um ser humano é a “conexão entre dois seres vivos”.
3. Ética e intercambialidade de medicamentos
A intercambialidade é um detalhe nesse amplo tema, pois orientar corretamente sobre opções de tratamento com similares ou genéricos pode ser algo do interesse, portanto pode ser parte de um bom atendimento. Contudo, é fundamental que se respeite o desejo do paciente pela intercambialidade e a autorização médica via receituário.
4. Atendimento
Em um mundo cada vez mais digital, em que é possível comprar o mesmo produto em diferentes lugares, por diferentes canais, em que se pode escolher até mesmo consultas médicas pela internet, o único fator que pode fazer diferença de escolha no fim é o atendimento, ou como se diz hoje, a experiência. Caso contrário, é um mundo de commodities em que apenas o preço faz diferença.
Fonte: coordenador de Assistência Farmacêutica da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e CEO da Clinicarx, Cassyano Correr
“O farmacêutico que quiser prescrever um Medicamento Isento de Prescrição (MIP) precisa ter especialização em farmácia clínica. E são inúmeros os exemplos. Até mesmo quando falamos em fitoterapia. Um paciente hipertenso pode ter problemas ao consumir gengibre, por exemplo, porque essa substância pode interferir na pressão arterial. Se for atendido por um profissional especializado, este saberá analisar o perfil e orientar, garantindo segurança no atendimento”, exemplifica o Prof. Carmo.
Ele comenta que, atualmente, muitas universidades oferecem cursos livres com menor duração, que permitem, ao farmacêutico buscar essas especializações de forma mais rápida.
“A especialização impacta diretamente na qualidade e na segurança do atendimento, bem como na evolução do paciente. Estudos apontam que pacientes hipertensos que tiveram acompanhamento por meio de Atenção Farmacêutica conseguiram reduzir em 40% o uso de medicamentos. Sem um profissional especializado, isso não seria possível”, conta o Prof. Carmo.
Caminhos para especialização
Atualmente, os meios digitais e os cursos de menor duração ajudam o profissional a buscar conhecimento com mais facilidade. “Para não se perder com tantas informações, é importante focar em meios confiáveis, como conselho de classe, universidades, etc., ter uma meta, por exemplo, qual área quer aprender ou na que deseja trabalhar também traz mais produtividade à atualização”, recomenda a Prof. Maria Azevedo, acrescentando a importância de elencar os temas com os objetivos profissionais e elaborar um cronograma para execução.
Entre os temas fundamentais para a atualização dos farmacêuticos que atuam no varejo, Correr destaca a farmacoterapia, isto é, a aplicação clínica dos medicamentos para promoção, manutenção e recuperação da saúde.
“Mas o farmacêutico precisa continuar se aperfeiçoando também no estudo da clínica, em como prestar um cuidado farmacêutico cada vez melhor”, diz. Para ele, o principal caminho hoje passa pela Educação a Distância (EAD).
“Existe uma gama imensa de oportunidades, cursos gratuitos e pagos, que permitem que uma pessoa crie sua própria trilha de aprendizado e compartilhe experiências com outras pessoas. Além disso, manter a leitura em dia, por meio de artigos, blogs e livros, também ajuda. Cada pessoa tem seu próprio estilo de aprendizagem”, finaliza.
Fonte: Guia da Farmácia
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