Oferecer o sortimento adequado e evitar a ruptura nas gôndolas são fatores essenciais para proporcionar a melhor experiência de compras ao shopper
A escolha do sortimento adequado de medicamentos ao perfil do shopper e do ponto de venda (PDV), evitando a ruptura, é um dos maiores desafios do setor.
Afinal, boa parte das farmácias brasileiras atua com formato reduzido de loja. Isso torna as dificuldades e dúvidas ainda maiores em torno do que pode ser ideal ou não para o estabelecimento.
Segundo explica o gerente de projetos da Mind Shopper, Cristiano Samara, o mix de produtos considera ainda dois fatores.
Entre eles, a variedade – que corresponde à quantidade de categorias, departamento e marcas disponíveis na loja.
Outro ponto é a profundidade – relativa ao número de SKUs (Stock Keeping Unit, em português: Unidade de Manutenção de Estoque) registrados dentro de cada categoria.
“Cada sortimento depende de diversos fatores e não somente de ter ou não um produto na gôndola”, analisa Samara.
Ele acrescenta que quanto mais enxuto e direcionado o número de SKUs, mais o PDV consegue entregar ao cliente o que ele de fato procura.
“Dessa forma, a loja evita problemas, como falta de produtos ou itens ‘encalhados’”, completa.
Alternativas para lojas de quaisquer tamanhos
Então, para oferecer o sortimento adequado e completo, de fato, é preciso de uma loja de grandes dimensões? Segundo a CEO da Connect Shopper e idealizadora do grupo Mulheres do Varejo, Fátima Merlin, não.
“A equação sortimento adequado X espaço em loja é simples de resolver. Basta saber que toda e qualquer categoria precisa ter uma classificação sobre seu papel e função econômica”, orienta.
“O mix ser desenhado de acordo com esta relevância, seja para o shopper, para o varejista ou para a indústria”, acrescenta Fátima.
Nesse sentido, a dica é acompanhar métricas, como a presença em cupom ou sequência de compras, que irão indicar se a categoria é rotina (compras recorrentes) ou conveniência (compras por impulso), isto porque o mix de cada uma deve ser trabalho de maneira diferente.
O diretor comercial da Associação Multimarcas de Farmácias (Farmarcas), Fábio Chacon, reforça a importância de a loja ter dados sobre a movimentação do negócio para tomar decisões adequadas.
“É possível estabelecer um mix adequado de produtos com estoque e exposição de acordo com a real demanda”, diz.
Sem rupturas de medicamentos nas gôndolas
A ruptura, que consiste na falta de produto na gôndola, é extremamente nociva ao negócio, especialmente no caso de medicamentos.
Ela pode fazer com que a farmácia perca não só uma venda, mas o cliente, sem contar os danos à imagem do estabelecimento.
Segundo Chacon, uma pesquisa realizada pelo Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa (IFEPEC) mostrou que 17% dos entrevistados não compraram o que pretendiam nas farmácias e, deste percentual, 76,5% não adquiriam o produto por falta de estoque. “Esse dado mostra a relevância de um mix completo”, reforça.
Para entender como a ruptura acontece, Fátima explica que há diferentes causas:
- Ruptura operacional, quando o produto está no estoque, mas não está na gôndola;
- Ruptura de sistema e comercial, quando o setor não efetuou um pedido ou compra;
- Ou quando há atraso por parte do fornecedor.
“A ruptura de medicamentos ou outros produtos caminha junto com o superestoque, ou seja, quando a loja tem mais do que precisa de um produto e falta de outro. Lembrando que a gôndola da loja física não é elástica”, diz Samara.
Assim, independentemente da causa, para solucionar o problema, é preciso monitorar e desenvolver ações práticas para combatê-la.
“O processo passa pelo investimento na integração de processos, colaboradores capacitados e plataformas adequadas que ajudem a otimizar tudo isto”, aconselha.
Garantia de segurança
A ruptura nas gôndolas também pode passar pela classe de medicamentos. Nesse caso, um dos reflexos do consumidor pode ser o de abandonar toda a lista presente na receita médica para encontrá-la em outro estabelecimento.
Nesse sentido, alguns estabelecimentos optam pela intercambialidade de medicamentos, mas para que esse processo aconteça sem riscos, deve-se seguir uma série de critérios.
O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), Dr. Marcos Machado, explica que existe previsão legal para a realização, pelo farmacêutico, da intercambialidade entre medicamento referência e seu genérico correspondente (e vice-versa), conforme previsto na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC)16/07 alterada pela RDC 51/07; e entre medicamento de referência e seu similar intercambiável (e vice-versa), conforme previsto na RDC 58/14.
“A intercambialidade deve ser realizada somente pelo farmacêutico, uma vez que por legislação [Resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF) 349/00] esta é uma atribuição exclusiva deste profissional”, afirma.
De acordo com o executivo do CRF-SP, no que tange à questão técnica, a interpretação farmacêutica das prescrições deve ser realizada com fundamento nos aspectos:
- Terapêuticos (farmacêuticos e farmacológicos);
- Adequação ao indivíduo;
- Contraindicações;
- Interações.
“Conforme previsto na Resolução 357/01, do CFF, o prescritor deverá ser sempre contatado pelo farmacêutico para esclarecimentos de eventuais dúvidas que possam surgir em relação ao receituário. Em caso de dispensação indevida, como, por exemplo, a realização de intercambialidade de forma incorreta, além de se tratar de uma infração sanitária, o farmacêutico pode responder eticamente pelo fato, considerando que o Código de Ética Farmacêutica (Anexo I da Res. CFF 596/14) proíbe ao farmacêutico aviar receitas com prescrições médicas ou de outras profissões, em desacordo com a técnica farmacêutica e a legislação vigente”, finaliza.
Fonte: Guia da Farmácia
Foto: Shutterstock
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