Terapias alternativas em alta

Busca de soluções eficazes, porém, menos agressivas e mais sustentáveis para os tratamentos de saúde, faz com que medicamentos fitoterápicos cresçam fortemente no mercado

Homeopatia, medicina tradicional chinesa, acupuntura, musicoterapia, naturopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, yoga… São diversas as modalidades de recursos terapêuticos que têm sido procuradas pelos brasileiros para a busca da cura ou prevenção das mais diversas doenças. E nesse hall de opções, estão os medicamentos fitoterápicos, obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais.

Este Suplemento Especial Fito apurou onde estão as principais forças dos medicamentos fitoterápicos no País. Acompanhe:

Matéria-prima Natural

O fato de terem origem em ativos vegetais faz com que os medicamentos fitoterápicos sejam considerados menos agressivos quando comparados às versões sintéticas.

“A preferência pelo seu uso tem crescido bastante, principalmente porque as pessoas estão buscando mais qualidade de vida e produtos menos agressivos ao organismo”, justifica o diretor presidente da Bionatus Laboratório Botânico e diretor vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas do Setor de Fitoterápicos, Suplemento Alimentar e Promoção da Saúde (Abifisa), Elzo Velani.

MENOS CONTRAINDICAÇÕES E EFEITOS ADVERSOS

Parte da população usuária de medicamentos fitoterápicos dá preferência a estes medicamentos pelas fórmulas com menos aditivos, menor industrialização e volume cada vez mais reduzido de substâncias artificiais.

“Ainda que fitoterápicos não estejam isentos de contraindicações ou efeitos adversos, a priorização da prevenção em lugar do tratamento e, em último caso, de terapias curativas mais brandas e naturais já é um caminho desejado pelo consumidor”, analisa o superintendente de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e Assuntos Regulatórios da Natulab, Olavo Rodrigues.

Para ele, uma grande força desse mercado está na busca por uma vida mais saudável e, acima de tudo, o movimento de “volta ao natural”, contemplando a saúde de forma integral, holística e com foco em prevenção.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Mesmo que com menor impacto ou com resultados mais lentos, políticas públicas também têm sido importantes para o setor.

“A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) também impulsionou o acesso a esses tratamentos”, reforça Rodrigues. A PNPMF, desenvolvida em 2006 pelo Ministério da Saúde (MS), vem garantindo à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. Tanto que chegou a 12 o número de medicamentos disponíveis atualmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre eles: Alcachofra, Aroeira, Babosa, Cáscara Sagrada, Hortelã, Garra-do-Diabo, Guaco, Espinheira-Santa, Plantago, Salgueiro, Soja e Unha-de-Gato.

Segundo o MS, seguem sendo estudados mais insumos para melhor atender a população. Ao todo, já foram investidos mais de R$ 35 milhões em 93 projetos de plantas medicinais e fitoterápicos no âmbito do SUS e, em 2016, foram registrados 89.037 atendimentos individuais de fitoterapia.

Evolução do mercado de Fitoterápicos

*MAT (Moving Annual Total, em português: Movimento Anual Total)
Fonte: Close-Up Retail Market RM® – Banco MAT 12/2017 – unidades e reais com desconto

“Entre 2013 e 2016, a busca por tratamentos à base de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos mais que dobrou: o crescimento foi de 161%, segundo dados do MS. No ano passado, essa procura chegou a quase 16 mil. Cerca de 3.250 estabelecimentos de 930 municípios brasileiros oferecem os produtos”, comenta o gerente de marketing da Aspen Pharma, Jackson Figueiredo.

A membro do Conselho de Administração para a Área Médico-Científico da Herbarium, Dra. Jackeline Barbosa, lembra, ainda, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) também vem estimulando o uso de recursos da medicina tradicional e integrativa nos sistemas de saúde.

“Em seu documento Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional, preconiza o desenvolvimento de políticas, observando os requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso racional e acesso universal. A fitoterapia está inserida neste conjunto de recursos”, conta.

EFICÁCIA COMPROVADA

Enquanto medicamentos, os usuários podem ter a tranquilidade de uso de produtos seguros e eficazes. “Eles contam com rigorosos estudos de toxicologia e eficácia terapêutica; são submetidos à avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e somente são produzidos por laboratórios com Certificação de Boas Práticas de Fabricação e Controle”, descreve Velani.

A médica geriatra e responsável pelo Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma, Dra. Rita de Cássia Salhani Ferrari, afirma, inclusive, que o Brasil possui uma legislação superior a muitos países no mundo quando se tratam de produtos fitoterápicos.

“Nossa legislação sanitária é comparável e, em alguns aspectos, é até mais avançada do que a legislação europeia, principalmente a da Alemanha, onde se encontra o berço da fitoterapia científica. Os produtos fitoterápicos brasileiros possuem Controle de Qualidade de medicamentos constituídos por ativos sintéticos e têm de possuir alguma comprovação de eficácia e segurança, seja por meio de estudos clínicos, seja pelo uso tradicional”, garante.

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Outro atrativo desses medicamentos para os usuários é o fato de serem considerados sustentáveis. Segundo explica o consultor médico da Herbarium, Dr. Cezar Jones, o produto sustentável é aquele que apresenta o melhor desempenho ambiental ao longo do ciclo de vida, com função, qualidade e nível de satisfação iguais, ou melhor, se comparado com um produto-padrão.

“Considerando-se a origem vegetal dos fitoterápicos, fica evidente que a preservação e a renovação das fontes utilizadas na fabricação desses produtos são renováveis e, portanto, sustentáveis”, justifica.

PERFIL ETÁRIO DA POPULAÇÃO

Com o aumento da expectativa de vida da população, o número crescente de idosos acima de 65 anos de idade, usualmente polimedicados, faz com que haja a necessidade de opções terapêuticas que sejam consideradas eficazes e com uma melhor tolerabilidade, conforme analisa a Dra. Rita de Cássia. “Muitos fitoterápicos se encaixam nesse conceito por terem eficácia comprovada e um bom perfil de eventos adversos”, sinaliza.

Desafios e oportunidades para o crescimento

O Brasil é o País com maiores características naturais para se tornar celeiro de insumos farmacêuticos do planeta, porque tem terra, sol e água em abundância. Além disso, em território nacional, encontram-se universidades com pesquisadores de alta qualidade, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que é uma referência mundial em tecnologia agrícola.

Apesar de todas essas vantagens capazes de fortalecer o mercado de medicamentos fitoterápicos, o setor ainda enfrenta alguns desafios. Entre eles, é a falta de capacitação do médico prescritor.

“Infelizmente, as universidades de Medicina não possuem, na grade curricular, as disciplinas que abordem os medicamentos fitoterápicos, as plantas medicinais, os processos de fabricação, a farmacologia, etc., o que restringe a prescrição destes medicamentos para a população brasileira”, pontua Velani.

O superintendente de P&D e Assuntos Regulatórios da Natulab também acredita que o maior desafio do setor é o desconhecimento por parte dos prescritores.

Algumas novidades e apostas da indústria

As principais apostas da Natulab no mercado de medicamentos fitoterápicos estão nos Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs). Entre os últimos lançamentos da empresa, estão os fitoterápicos Cardomarin, que tem como princípios ativos as silimarinas (cuja função terapêutica é de proteção hepática, sendo indicada como coadjuvante em casos de esteatose hepática e lesões do fígado); e Pausefemme, à base de isoflavonas da soja, que trata os sintomas indesejados da menopausa.

Já a Aspen Pharma aposta no mercado de calmantes fitoterápicos. Um dos medicamentos do portfólio nesse segmento é o Calman, que traz (extrato seco de Passiflora incarnata L., extrato seco de Crataegus oxyacantha L. e extrato seco de Salix alba L.). “Ainda este ano, lançaremos um novo fitoterápico no mercado”, revela o gerente de marketing da empresa, Jackson Figueiredo.

Na Bionatus, os investimentos da empresa estarão focados, principalmente, nas compras governamentais, por meio de licitações públicas. “Temos praticamente todos os medicamentos fitoterápicos listados na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e um departamento de Licitações que atua em todas as unidades da federação, divulgando o conceito dos medicamentos fitoterápicos junto à classe médica”, afirma o diretor presidente da Bionatus Laboratório Botânico e diretor vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas do Setor de Fitoterápicos, Suplemento Alimentar e Promoção da Saúde (Abifisa), Elzo Velani.

“Acreditamos que o fortalecimento das compras públicas trará como consequência um crescimento das prescrições nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), aumentando o conhecimento dos prescritores e da população, e este fato pode contribuir para uma migração para farmácias e drogarias”, analisa.

Além disso, a empresa também está firmando parcerias estratégicas com redes de farmácias para a produção de medicamentos fitoterápicos clones com marca própria.

Segundo Velani, os medicamentos clones têm o mesmo conceito dos similares, com a única diferença de que é necessário apontar um laboratório parceiro.

“As marcas próprias, hoje, são uma realidade de mercado e, recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução autorizando a produção de clones de medicamentos fitoterápicos pelas indústrias farmacêuticas com a marca própria da rede de farmácia”, diz. Entre os últimos lançamentos da empresa está o Isoclin (isoflavonas de soja).

“As escolas de formação superior não estão prontas e sequer dispõem de disciplinas específicas sobre o tema em suas grades curriculares. Além disso, há desconhecimento por parte da população em geral e dos profissionais do ponto de venda (PDV) sobre as técnicas de produção de medicamentos fitoterápicos, que permitam distingui-los dos sintéticos e de outras categorias, como homeopáticos e florais”, diz.

Apesar desses grandes desafios, também há diversas oportunidades no Brasil em relação aos fitoterápicos. Entre os pontos fundamentais a ser explorados está o fato de que o País, uma superpotência agrícola, dispõe da maior biodiversidade do mundo. Assim, tem potencial para desenvolver internamente os próprios medicamentos fitoterápicos, sejam eles inovadores ou clássicos, tornando-se menos dependente de empresas estrangeiras e despontando como exportador de produtos e tecnologia nessa área, segundo comenta a diretora de marketing da Natulab, Ivana Marques.

“Também há espaço para melhorar o treinamento e desenvolvimento do PDV, já que farmacêuticos podem prescrever estes produtos, com balconistas auxiliando na orientação a respeito dos fitoterápicos”, finaliza.

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