Uma alternativa de qualidade diante da crise

Com o bolso apertado, brasileiros realizam concessões para seguir seus tratamentos de saúde, fazendo com que os genéricos se tornem uma ótima opção. Nessa toada, seguem em crescimento e com muito potencial no País

Três mil e oitocentos registros, em 21,7 mil apresentações disponíveis. Este é o total de medicamentos genéricos ofertados no País, que contam com opções para praticamente todas as doenças conhecidas. Apesar de ainda serem um mercado discreto quando comparados a outros países no mundo, os genéricos comprovam, por números, que ganharam a aprovação popular.

Segundo dados da QuintilesIMS (antigo IMS Health), os genéricos movimentaram R$ 23,5 bilhões no ano móvel de fevereiro de 2017 (acumulado de março de 2016 a fevereiro deste ano), alta de 13,80% em relação ao mesmo período do ano anterior, e de 95,78% na comparação com 2013.

Esse crescimento é superior ao registrado pelo mercado total de medicamentos, que aumentou 12,77% de 2016 para 2017, e 64,58% de 2013 para 2017. Em volume (unidades), no ano móvel de fevereiro de 2017, os genéricos contabilizaram 1,149 bilhão de unidades vendidas, acréscimo de 11,95% em relação ao mesmo período do ano anterior. A alta também é maior do que a atingida pelo mercado total de medicamentos, que alcançou apenas 3,86%.

São diversos os motivos que fazem os genéricos se fortalecerem no mercado de medicamentos. Entre eles, o aumento da expectativa de vida dos brasileiros que, com a idade mais avançada, demandam por mais tratamentos de saúde.

Outra razão, mais recente, se justifica pelo momento de instabilidade econômica, que faz com que os brasileiros tenham de fazer concessões para continuar seus tratamentos de saúde. “Medicamento é um item essencial, com o qual o consumidor não pode ficar sem. E em tempos de crise, os genéricos tendem a crescer acima do mercado farmacêutico total em razão, principalmente, da migração de demanda dos medicamentos de referência para esta classe, já que se busca economizar com produtos de qualidade”, comenta o farmacêutico do setor de lançamentos do Teuto, Thiago Lobo Matos.

A presidente executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), Telma Salles, reforça que o crescimento do setor se explica no binômio qualidade e preço. “Por lei, os genéricos precisam ser, no mínimo, 35% mais baratos que os medicamentos de referência. Mas, na prática, esses valores chegam a ser, em média, 60% menores por conta da competição entre as empresas”, explica. 

Realidade global

Mesmo com crescimento anual de dois dígitos, o potencial dos genéricos no Brasil ainda é enorme. No País, esses medicamentos estão no mercado há cerca de 18 anos e, portanto, ainda há muitas oportunidades futuras de expansão, tendo em vista as patentes de medicamentos de referência que ainda estão para expirar.

A partir da análise do que já acontece em outros países, onde esse mercado já é mais maduro, é possível ter noção do crescimento que o Brasil ainda pode atingir, conforme afirma o diretor da divisão de genéricos da Merck, Eduardo Lima.“Nos Estados Unidos, por exemplo, os genéricos já estão no mercado há 30 anos e a variedade destes medicamentos, por lá, já é muito grande”, diz.

O diretor de marketing e Inteligência de Mercado da Sandoz, Guilherme Barsaglini, lembra que a participação dos genéricos no mercado farmacêutico brasileiro corresponde a apenas 30% do total de medicamentos.

Na União Europeia, os genéricos representam 70% do mercado total; nos Estados Unidos, equivalem a 75%; e, no Canadá, a 90% do geral. “Isso demonstra que ainda há muito espaço a ser conquistado no mercado de genéricos brasileiro”, finaliza Barsaglini.


 

Dez medicamentos genéricos mais vendidos em valor (R$)

Ranking

        Produto

   Fabricante

1.

Citrato de Sildenafila

Neo Química

2.

Losartana Potássica

Neo Química

3.

Citrato de Sildenafila

Eurofarma

4.

Sinvastatina 

Sandoz do Brasil

5.

Losartana Potássica

EMS Pharma

6.

Pantoprazol 

Aché

7.

Losartana Potássica

Medley

8.

Omeprazol 

Teuto do Brasil

9.

Losartana Potássica

Teuto do Brasil

10.

Losartana Potássica

Eurofarma

Fonte: QuintilesIMS (antiga IMS Health). Ranking de Produtos Genéricos, em Valores R$, a Preço Lista, no canal varejo/farmácia, ano móvel fev.17 (acumulado dos meses de mar.16 a fev.17)

Reajuste de preços 

Desde o dia 31 de março último, os brasileiros contam com uma nova tabela de preços dos medicamentos, que passaram pelo reajuste anual. E com os genéricos também vale a regra.

“A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) definiu os percentuais de reajustes de preços de medicamentos e os genéricos tiveram aumento de 1,36%”, constata a presidente executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), Telma Salles.

Mas mesmo com o reajuste, os genéricos seguem com preços, no mínimo, 35% inferiores aos medicamentos de referência. “O percentual de diferença entre o medicamento genérico e o de referência não é determinado pelo mercado e, sim, pela força da lei. Portanto, é obrigatório”, esclarece o presidente executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Antônio Britto.

Dez medicamentos genéricos mais vendidos em volume (unidades)

Ranking

        Produto

   Fabricante

1.

Dipirona Sódica 

Neo Química

2.

Losartana Potássica

Neo Química

3.

Citrato de Sildenafila

Neo Química

4.

Losartana Potássica

Teuto do Brasil

5.

Levotiroxina Sódica

Merck

6.

Losartana Potássica

EMS Pharma

7.

Maleato de Enalapril

Teuto do Brasil

8.

Citrato de Sildenafila

Eurofarma

9.

Hidroclorotiazida

EMS Pharma

10.

Hidroclorotiazida

Teuto do Brasil

Fonte: QuintilesIMS (antiga IMS Health). Ranking de Produtos Genéricos, em unidades, no canal varejo/farmácia, ano móvel fev.17 (acumulado dos meses de mar.16 a fev.17)


Oportunidades e desafios

Para a indústria, os genéricos têm potencial de se desenvolverem ainda mais no País, por diversas razões. Entre elas, a possibilidade de tratar a maioria das doenças conhecidas e o vencimento de patentes de grandes laboratórios, que possibilitam a expansão das linhas de tratamento, segundo explica o presidente da Prati-Donaduzzi, Eder Maffissoni, indicando outras perspectivas de expansão para a classe.

“Sabemos que o potencial de crescimento dos genéricos é muito maior e enxergamos oportunidades em medicamentos para o tratamento de doenças, como Alzheimer, Parkinson e câncer”, acrescenta.

Além dos nichos citados pelo executivo da Prati-Donaduzzi, há outros que podem ser explorados, especialmente entre o desenvolvimento de produtos de alta complexidade, de difícil desenvolvimento e produção. E a EMS reforça o desejo em apostar neste segmento a partir de genéricos inalatórios, já que são poucas as empresas que dominam tal tecnologia.

“Visamos ser um desses laboratórios em breve. O mercado de inalatórios no mundo, considerando os produtos com patentes a expirar, deve movimentar US$ 18 bilhões entre 2014 e 2018”, revela o diretor comercial da unidade de Genéricos da empresa, Aramis Domont.

Apesar de todas as oportunidades, é preciso pontuar que esse mercado também têm desafios importantes a ser vencidos para que possa prosperar mais no País.

Um deles é a morosidade na análise dos pedidos de patentes pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), cujo tempo tem sido, em média, de 12 anos.

“Essa demora propicia aos detentores das patentes um benefício maior que os 20 anos definidos por lei. Como a fila é grande no INPI, o intervalo entre o depósito e a análise se prolonga”, lamenta Telma.

Outra dificuldade diz respeito à sobreposição de funções entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o INPI na análise de patentes, que também tem sido um fator de demora nas aprovações. Mas um novo acordo, recém-firmado entre os dois órgãos, deve amenizar essa difícil realidade.

“O novo formato de análise determina que a Anvisa fará a análise de dados relacionados à saúde e, o INPI, a avaliação de dados de patenteabilidade (inovação, atividade inventiva e utilidade industrial). E para temas considerados de fronteira, será criado um grupo intersetorial, com representantes tanto da Anvisa, quanto do INPI”, indica Telma, salientando que a expectativa é de que o acordo traga maior agilidade para as análises de pedidos de patentes, visto que pelo menos 21 mil processos relacionados a medicamentos estão acumulados no INPI e na Anvisa desde 2010.

Faturamento do mercado farmacêutico total em valor (R$)*

Mar.12 a Fev.13

Mar.13 a Fev.14

Mar.14 a Fev.15

Mar.15 a Fev.16

Mar.16 a Fev.17

TOTAL

53.801.811.125

60.882.211.195

68.195.906.517

78.518.950.449

88.551.645.471

Marca

24.065.075.829

27.728.079.512

31.077.772.078

35.672.362.353

40.520.307.459

Referência

17.445.608.511

18.474.324.357

19.902.232.611

21.797.063.632

24.066.336.143

Genérico

12.005.364.746

14.342.958.386

16.854.832.708

20.654.323.600

23.505.137.905

Similar

285.762.039

336.848.940

361.069.121

395.200.864

459.863.964

Faturamento do mercado farmacêutico total em volume (unidades)**

Mar.12 a Fev.13

Mar.13 a Fev.14

Mar.14 a Fev.15

Mar.15 a Fev.16

Mar.16 a Fev.17

TOTAL

2.835.056.095

3.078.899.191

3.298.639.912

3.563.268.627

3.701.087.833

Marca

1.362.857.213

1.513.229.917

1.620.565.785

1.736.655.411

1.760.662.902

Genérico

728.709.547

823.139.551

906.270.655

1.027.174.284

1.149.923.348

Referência

711.996.444

704.613.116

730.115.411

752.451.580

738.031.908

Similar

31.492.891

37.916.607

41.688.061

46.987.352


52.469.675


*Fonte: QuintilesIMS (antiga IMS Health), auditoria de mercado farmacêutico Pharmaceutical Market Brazil, base de fev.17. Demanda em valores (R$) a Preço Lista [preço máximo de um medicamento regulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED)], no canal varejo, total Brasil

**Fonte: QuintilesIMS (antiga IMS Health), auditoria de mercado farmacêutico Pharmaceutical Market Brazil, base de fev.17. Demanda em Unidades, no canal varejo, total Brasil

1. Marca: é chamado de marca similar ou cópia. Não é considerado um genérico porque tem uma marca comercial e não tem comprovação de testes de bioequivalência e biodisponibilidade. Exemplo: Anador.

 2. Genéricos: pela lei, é considerado um medicamento genérico quando provada a sua bioequivalência e for aprovado em testes de biodisponibilidade comparado com uma determinada referência. Geralmente são produzidos após a expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade. Exemplo: Dipirona Sódica.

3.Referência: é um produto de marca pura e inovadora para o mercado, ou seja, o primeiro medicamento aprovado e comercializado com determinada molécula ou combinação de moléculas. Exemplo: Novalgina.

4. Similar: é chamado de genérico similar ou similar sem marca, pois é um produto que não possui uma marca comercial e não é considerado genérico pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devido a não possuir testes comparativos de bioequivalência e biodisponibilidade. Exemplo: Eucaliptol.



Autor: 
Kathlen Ramos

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