Vaidade não tem idade

A imagem de idosos acamados e sem vida social já não corresponde à realidade; ainda ativas no mercado profissional e nos espaços de lazer, as pessoas com mais de 60 anos de idade também se preocupam com a aparência física

A ideia de idosos acamados, depressivos e sem qualquer vida social já não corresponde à realidade da grande maioria das pessoas que têm mais de 60 anos de idade atualmente.

Além de estarem vivendo mais – a expectativa de vida saltou de 62,52 anos para 75,8 anos em 37 anos –, os idosos estão vivendo melhor. Seguem ocupando diversos papéis na sociedade, como mercado de trabalho, restaurantes, cinemas, locais turísticos e academias. Com disposição para ver e serem vistos, é natural que eles ainda sintam necessidade de cuidar da aparência.

Vaidade não é um sentimento restrito à juventude. O desejo de sentir-se bem com a imagem refletida no espelho acompanha o ser humano nas mais diferentes fases da vida.

“A vaidade é fundamental em qualquer faixa etária, pois está ligada ao nosso psicológico diretamente e, logo, à nossa autoestima. Por isso, ser idoso não pode estar relacionado a deixar de se cuidar, mas, sim, a se amar ainda mais a cada ano completado”, afirma a dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dra. Narjara Montefusco.

O interesse por manter a beleza mesmo após os 60 anos de idade pode ser comprovado pelo aumento da quantidade de idosos no consultório. “Muitas vezes, eles possuem mais tempo e dinheiro para se cuidar. Tenho muitos pacientes em torno de 60 anos de idade que não têm aparência de idosos, muitas vezes, com mais atividades sociais e de trabalho do que os mais jovens”, revela a dermatologista, Dra. Adriana Cairo. “E eles são inteirados em todos os procedimentos, pois pesquisam muito antes de realizar o tratamento.”

Procurar um especialista acostumado a lidar com pacientes maduros ajuda a entender as mudanças que ocorrem na pele, no cabelo, nas unhas com o avançar dos anos.

Na terceira idade, é comum que ocorra uma diminuição da densidade dos fios, tanto para homens como mulheres, por exemplo. Já a pele sofre com a perda natural de gordura, colágeno e massa óssea, o que acaba por resultar em flacidez. Esses efeitos desagradáveis ainda são agravados com a chegada da menopausa e da andropausa, que promovem ressecamento, afinamento e perda do brilho e elasticidade da face.

Ainda que os sinais da idade sejam inevitáveis, é possível atenuá-los com cuidados dermatológicos básicos, sem que haja necessidade de intervenções estéticas mais invasivas.

“Podemos nos manter bem cuidados com 60, 70, 80, 90 anos de idade. A medicina e a dermatologia evoluíram muito junto com o aumento da expectativa de vida dos meus pacientes”, garante a Dra. Adriana.

Cuidados na maturidade

As mudanças que ocorrem nos cabelos são fruto de grande insatisfação na terceira idade. Os fios começam a perder o viço e ficar com uma textura diferente da fase mais jovem, em seguida, costumam vir as queixas de queda e proliferação das mechas brancas.

“Quando o assunto é cabelo, os homens costumam procurar muito mais tratamento do que as mulheres”, conta a Dra. Narjara, que recomenda hidratação uma vez por semana para não se perder a resistência, a maciez e o brilho dos fios.

Entre as mulheres acima dos 60 anos de idade, o maior interesse está nos tratamentos disponíveis para rejuvenescimento facial e flacidez. Para atenuar as marcas da idade mais avançada, a coordenadora responsável pela dermatologia do Rio Branco Centro Médico, Dra. Fernanda Caldeira, indica: “Hidratação, tonificação, produtos antiaging, como tensores, ácidos e estimuladores de colágeno, antioxidantes orais e protetores solares, incluindo os com versões anti-idade”.

A pele do corpo também exige cuidados diários. A hidratação no pós-banho é um dos rituais de beleza que devem ser seguidos à risca, segunda a Dra. Narjara. “Quando saímos do banho, os poros estão dilatados e conseguem absorver melhor os nutrientes dos cremes. Hidratar-se durante o vapor que ainda está no banheiro é a melhor opção.”

Esses cuidados com a pele devem se estender a áreas às vezes negligenciadas, como colo, pescoço e mãos. São regiões sensíveis, que sofrem muita exposição solar e de agentes poluentes.

“Essas partes são tão importantes quanto as outras. As mãos costumam perder volume com o passar do tempo e apresentar manchas e, por isso, o preenchimento cutâneo e lasers são tratamentos bem procurados nos consultórios”, comenta a Dra. Narjara.

Consumo da beleza por idosos

O estudo Comportamento de compra de cosméticos na melhor idade: diferenças ou similaridades entre os gêneros?, publicado no International Journal of Business & Marketing, mostra que a grande maioria (95%) dos idosos compra produtos de beleza em farmácias, enquanto a compra em outros tipos de lojas, catálogos ou outros totaliza apenas 1,7%.

Os dados podem ser justificados pelo fato do setor de cosméticos apresentar estreitas relações com a indústria química e farmacêutica, que faz parte do cotidiano de cuidados com a saúde do idoso. A pesquisa ainda atribuiu a grande compra de produtos cosméticos em farmácias, tanto de forma impulsiva quanto planejada, à variada e vasta amostra de produtos nesses estabelecimentos.

Quando questionados acerca do gasto mensal com cosméticos, 57,8% dos participantes admitem gastar entre R$ 62,51 e R$ 100,00;

17,8% gastam entre R$ 101,00 e R$ 150,00;

24,4% gastam mais do que R$ 151,00.

Os homens tendem a adquirir produtos para cabelo e pele, enquanto as mulheres tendem a consumir com maior frequência maquiagens, demaquilantes e hidratantes faciais.

Ainda sobre os cuidados com as mãos, não se deve esquecer-se das unhas e cutículas, que precisam ser hidratadas e fortificadas pelo menos uma vez por semana nessa fase da vida.

“Cremes e pomadas específicos e esmaltes fortalecedores ajudam bastante, além de suplementação com algumas vitaminas e minerais”, recomenda a Dra. Fernanda.

A indústria de beleza está investindo cada vez mais em cosméticos voltados para a terceira idade, por isso, diante de tantas opções, é preciso ter cautela para indicar à consumidora produtos que, de fato, atendem às necessidades específicas dos idosos.

“Recomendo aqueles que tenham em sua fórmula ácidos, como o glicólico, telúrico, retinoico, entre outros, que auxiliam na renovação celular, além de antioxidantes, como a famosa vitamina C”, orienta a Dra. Narjara.

Já itens de maquiagem devem necessariamente conter hidratante e Fator de Proteção Solar (FPS) alto. “É preciso dar preferência a produtos mais cremosos e evitar itens em pó ou com toque seco, para não acentuar e marcar as rugas do rosto ao sorrir”, complementa a Dra. Adriana.

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