Você sabe a diferença entre fitoterápico e planta medicinal?

Existem, atualmente, diversos produtos classificados como chás fitoterápicos no mercado. Essa é uma alternativa de venda interessante, mas é preciso saber como se dá a classificação deles e para que servem

As plantas medicinais são aquelas capazes de aliviar ou curar enfermidades e têm tradição de uso como medicamento em uma população ou comunidade. Para usá-las, é preciso conhecer a planta e saber onde colhê-la e como prepará-la. Normalmente, são utilizadas na forma de chás e infusões. Quando a planta medicinal é industrializada para se obter um medicamento, tem-se como resultado o fitoterápico.
O processo de industrialização evita contaminações por microrganismos e substâncias estranhas, além de padronizar a quantidade e a forma correta que deve ser utilizada, permitindo uma maior segurança de uso. Os fitoterápicos industrializados devem ser regularizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes da comercialização.

De acordo com a coordenadora científica do Fito Summit Brasil, nutricionista e farmacêutica Lucyanna Kalluf, planta medicinal é todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semissintéticos. “A diferença entre planta medicinal e fitoterápico reside na elaboração da planta para uma formulação específica, o que caracteriza um fitoterápico.”

Sendo assim, segundo a especialista, um fitoterápico é todo medicamento tecnicamente obtido e elaborado, empregando-se exclusivamente matérias-primas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de diagnóstico, com benefício para o usuário.

“É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de qualidade. É o produto final acabado, embalado e rotulado”, explica Lucyanna.

É importante ressaltar que a função de uma planta e um medicamento fitoterápico é a mesma, mas a eficácia entre um e outro é diferente. “Ao se comparar os efeitos de um chá de (infusão) de passiflora e um comprimido de passiflora, que atua nos distúrbios do sono e controle da ansiedade, por exemplo, o chá teria uma menor eficácia comparada ao uso do extrato da passiflora em cápsulas que têm uma maior ação terapêutica, ou seja, o efeito acontece nos dois, mas o extrato é bem mais eficaz”, esclarece a especialista da Fito Summit Brasil.

Medicamentos fitoterápicos x Produtos tradicionais fitoterápicos

A farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti, lembra que com a publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 26/14, os fitoterápicos foram divididos em duas categorias: medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos.

Segundo a norma, são considerados medicamentos fitoterápicos aqueles obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e eficácia sejam baseadas em evidências clínicas e que sejam caracterizados pela constância de sua qualidade.

São considerados produtos tradicionais fitoterápicos os obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e efetividade sejam baseadas em dados de uso seguro e efetivo, publicados na literatura técnico-científica, e que sejam concebidos para serem utilizados sem a vigilância de um médico para fins de diagnóstico, de prescrição ou de monitorização.

“Os produtos tradicionais fitoterápicos não podem se referir a doenças, distúrbios, condições ou ações consideradas graves, não podem conter matérias-primas em concentração de risco tóxico conhecido e não devem ser administrados pelas vias injetável e oftálmica. Não se considera medicamento fitoterápico ou produto tradicional fitoterápico aquele que inclua na composição substâncias ativas isoladas ou altamente purificadas, sejam elas sintéticas, semissintéticas ou naturais e nem as associações destas com outros extratos, sejam eles vegetais ou de outras fontes, como a animal”, afirma.

Planta medicinal

A planta medicinal é aquela selecionada, silvestre ou cultivada, utilizada popularmente para o tratamento de doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é toda e qualquer planta contendo substâncias que possam ser usadas para prevenir, aliviar, curar ou modificar um processo fisiológico normal ou patológico e que possa servir como fonte de fitofármacos e de seus precursores para síntese químico-farmacêutica.

“Tanto o fitoterápico como o medicamento ‘convencional’ (que contém fármaco(s) obtido(s) por síntese química) são considerados medicamentos alopáticos. No caso dos medicamentos fitoterápicos, a ação farmacológica será em decorrência do fitocomplexo presente, ou seja, várias substâncias presentes atuando em conjunto decorrentes da composição da planta a partir do extrato seco padronizado ou de alguma solução extrativa”, comenta Maria Aparecida, acrescentando que, neste contexto, dependendo da composição do medicamento fitoterápico, a partir de várias substâncias ativas presentes, poderá desencadear mais de uma atividade farmacológica.

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