Estudo inédito para tratamento de insuficiência cardíaca em pacientes com doença de Chagas

A doença de Chagas afeta aproximadamente seis milhões de pessoas no mundo, principalmente no continente latino-americano. Até 30% das pessoas cronicamente infectadas desenvolvem alterações cardíacas

Pela primeira vez, o Brasil e outros países da América Latina serão palco de um estudo que avaliará um tratamento para insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida em pacientes com doença de Chagas, o PARACHUTE-HF (Prevention And Reduction of Adverse outcomes in Chagasic Heart failUre Trial Evaluation). Com previsão de início ainda em 2019, a investigação será realizada pela Novartis em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa Clínica (BCRI). Serão recrutados cerca de 900 pacientes em vários centros de pesquisa no continente latino-americano.

A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é uma doença tropical negligenciada potencialmente fatal. Segundo estimativas, a doença afeta aproximadamente seis milhões de pessoas em todo o mundo. Ela é é responsável por aproximadamente 12 mil mortes por ano.

Participantes do estudo sobre a doença de Chagas

Liderado pelo presidente do comitê executivo e diretivo do estudo, professor de Medicina na Duke University Medical Center e membro do Duke Clinical Research Institute, Renato Delascio Lopes, o estudo internacional, prospectivo e randomizado testará o medicamento indicado para insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER), sacubitril/valsartana, em comparação ao enalapril em pessoas com ICFER causada por cardiomiopatia chagásica crônica.

“Este ano completa 110 anos em que o médico brasileiro Carlos Chagas identificou o protozoário Trypanosoma cruzi no sangue humano. Após mais de um século, a doença de Chagas ainda continua sendo um grande problema de saúde pública. O Brasil tem ao menos um milhão de infectados. Este será o primeiro estudo randomizado de grande porte para avaliar uma potencial terapia para insuficiência cardíaca especificamente nesta população negligenciada, podendo representar um marco importante para o tratamento da doença”, avalia Lopes.

Cada país latino-americano terá um coordenador nacional como parte do comitê diretivo do estudo. No Brasil o professor Felix Ramires, médico assistente da Unidade Clínica de Miocardiopatias do InCor-HCFMUSP.

Sobre a doença de Chagas

A doença é endêmica em 21 países da América Latina, sendo a segunda causa de desenvolvimento de insuficiência cardíaca crônica. No entanto, devido à mobilidade populacional, nas últimas décadas tem sido cada vez mais detectada nos Estados Unidos, no Canadá, em países europeus e em alguns países do Pacífico Ocidental.

A doença de Chagas apresenta-se em uma fase aguda inicial, em que um alto número de parasitas circula no sangue. Na maioria dos casos, os sintomas estão ausentes ou são leves e inespecíficos. Durante a fase crônica, a doença afeta principalmente o coração e os músculos digestivos. Isso leva a distúrbios cardíacos em até 30% dos pacientes e alterações digestivas, neurológicas ou mistas em até 10% dos pacientes. Além disso, a infecção pode eventualmente levar à morte súbita devido a arritmias cardíacas ou insuficiência cardíaca progressiva.

A cardiomiopatia chagásica é a manifestação clínica mais impactante da doença de Chagas, resultando na maioria da morbimortalidade. Os pacientes, mesmo mais jovens, tendem a ter pior qualidade de vida. Além disso, tendem a terem maiores taxas de hospitalização e mortalidade em comparação com outras etiologias.

Foto: Shutterstock
Fonte: Novartis

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