
*Maria Aparecida Nicoletti
Estamos vendo na mídia, inúmeros casos de intoxicações de bebidas contaminadas por metanol, com algumas vítimas sendo levadas a óbito, o que demanda uma atenção diferenciada para a identificação de sintomas que possam estar relacionados a uma possível intoxicação por metanol.
A farmácia como um estabelecimento de saúde deverá estar preparada para as orientações em caso de intoxicação por metanol, além de outras intoxicações, para dar o encaminhamento correto e mais urgente possível.
É importante não confundir o metanol com o etanol (álcool etílico), esse último sendo o tipo de álcool presente em bebidas alcoólicas. Embora quimicamente semelhantes, o etanol não é tóxico nas mesmas proporções que o metanol. A adulteração ocorre quando o etanol de uma bebida é substituído, total ou parcialmente, pelo metanol, resultando em envenenamento.
O metanol (álcool metílico) é um solvente industrial e combustível, altamente tóxico para o ser humano, que às vezes aparece como contaminante em bebidas alcoólicas – principalmente em destilados artesanais ou falsificados, quando não há controle de qualidade adequado.
Embora com nomes parecidos, metanol e etanol, são completamente diferentes em relação ao poder de intoxicação e aplicações.
O metanol, ou álcool metílico (CH₃OH), é um composto orgânico simples, altamente tóxico, incolor e volátil, com um odor levemente adocicado. Ele é uma substância de uso industrial, mas frequentemente aparece em casos de adulteração de bebidas alcoólicas, com risco fatal.
Embora seja perigoso para o consumo humano, o metanol tem uma série de usos industriais importantes como combustível (produção de biodiesel), solvente industrial (fabricação de tintas, plásticos etc.) e é utilizado como base na produção de produtos químicos além de ser empregado como anticongelante.
A ingestão de metanol, mesmo em pequenas quantidades, pode ser fatal. A toxicidade ocorre quando o corpo metaboliza o metanol, transformando-o em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico, que danifica células nervosas e outros tecidos.
Com a ingestão, os primeiros sintomas, como náusea, tontura e dor de cabeça, podem ser confundidos com os de uma embriaguez comum. No entanto, após um período de latência de 10 a 15 horas, os efeitos mais graves surgem.
A exposição ao metanol pode causar danos severos ao sistema nervoso central, resultando em cegueira permanente, falência de rins e fígado, e até a morte por parada cardíaca ou respiratória. A ingestão de apenas 15 mL pode causar cegueira.
O grande problema é que o metanol não tem cheiro ou gosto específico em pequenas quantidades, o que o torna perigoso em bebidas adulteradas. Casos de intoxicação por metanol em bebidas já causaram mortes em várias partes do mundo.
Importante: Em caso de ingestão, deve-se procurar assistência médica imediata e o vômito não deve ser induzido.
A intoxicação por metanol geralmente é diagnosticada clinicamente; um diagnóstico definitivo por cromatografia gasosa raramente está disponível a tempo de orientar o tratamento. Na maioria dos casos, há uma forte suspeita ou um histórico claro de ingestão. Além da dose e do tipo de álcool ingerido, o tempo decorrido até a apresentação e a presença de etanol coingerido determinam os sinais clínicos e os achados laboratoriais esperados.
Pacientes avaliados logo após grandes ingestões podem apresentar apenas sedação ou embriaguez e ter um grande hiato osmolar (por exemplo, maior que 25), mas com acidose mínima. Se se passarem várias horas sem a presença de etanol coingerido, surgirá uma acidose metabólica profunda com alto hiato aniônico (por exemplo, bicarbonato sérico abaixo de 8 mEq/L [ou mmol/L]), frequentemente com um hiato osmolar persistentemente elevado. Nesses casos, são comuns coma, hiperpneia de Kussmaul, convulsões e hipotensão.
Queixas de visão borrada, escotomas centrais (ponto cego ou uma área de visão reduzida no campo visual de uma pessoa, podendo ser um ponto escuro, embaçado ou até mesmo um conjunto de luzes cintilantes), midríase fixa (dilatação anormal e persistente da pupila, que não se contrai (não reage) mesmo com a presença de luz), hiperemia do disco óptico e cegueira sugerem intoxicação avançada por metanol. No entanto, a presença de ingestão de etanol, ingestões menores ou fracionadas e doenças concomitantes podem modificar a evolução clínica e os achados laboratoriais.
Portanto, a identificação dos sintomas e do histórico anterior é imprescindível para o encaminhamento ao setor de urgência do estabelecimento de saúde mais próximo.
*Maria Aparecida Nicoletti, farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP).
Foto: Shutterstock
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