Há Covid-19 na comida? No cabelo? 10 questões respondidas sobre o contágio

Posso ter relações sexuais? Devo parar de fumar? Desde o início da pandemia e o isolamento social, muitas pessoas sofrem com diversas dúvidas

Sabemos os riscos e conhecemos algumas complicações que podem surgir por conta do novo coronavírus, mas muitas pessoas estão simplesmente em pânico ou paranoicas, acreditando no risco de contágio em qualquer situação. O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) – órgão americano para controle e prevenção de doenças – divulgou diretrizes para higienizar quase todas as superfícies, baseado em um estudo recente que dá respaldo à tese de que o novo coronavírus consegue viver até três dias em alguns materiais. Mas com o que exatamente devemos nos preocupar? Consultamos médicos de diferentes especialidades para tirar algumas dúvidas sobre os riscos de contágio em diversas situações:

Contágio: posso pegar Covid-19 ao comer um alimento?

Não há evidências de que a Covid-19 seja transmitida por meio de alimentos, e o cozimento completo eliminará o vírus. “No caso das embalagens, elas devem ser limpas com água e sabão, desinfetante, água sanitária ou álcool de limpeza 70”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez.

Obesidade e coronavírus: encontro de pandemias é tema de talk show

É seguro pedir refeições por aplicativos ou delivery?

Se uma pessoa doente manipula a comida, os riscos não podem ser descartados, mas aquecer ou reaquecer alimentos deve matar o vírus. “Como regra geral, não vimos que a comida é um mecanismo de disseminação”, diz a Dra. Marcella. O risco de contaminação da embalagem pode ser minimizado, esvaziando o conteúdo em um prato limpo, descartando a embalagem em um saco de lixo e lavando bem as mãos antes de comer. “Tire a comida do recipiente com uma colher e coma com garfo e faca, não com as mãos”, diz a médica.

Remédios caseiros (comer alho, tomar Vitamina C, beber água a cada 15 minutos) podem curar ou prevenir o vírus?

“Não há evidências de que comer alho ou gengibre, beber água a cada 15 minutos ou tomar vitamina C proteja as pessoas do novo coronavírus, nem que isso cure a doença. O mesmo vale para o uso de óleos essenciais, prata coloidal e florais. Algumas postagens sugeriram que colocar óleo de gergelim em seu corpo ou pulverizar-se com álcool ou cloro matará o vírus. Isso também é falso”, afirma a Dra. Marcella. No entanto, sabemos do papel da alimentação na manutenção e fortalecimento do organismo, pois é responsável por fornecer nutrientes essenciais para as funções orgânicas, inclusive as imunológicas.

“Uma alimentação equilibrada, variada, colorida, com alimentos os mais naturais e funcionais possíveis, associada a uma hidratação adequada, certamente vai ajudar o organismo a ter respostas mais favoráveis do sistema imune. Para citar alguns alimentos com funcionalidades, que devem ser incluídos no hábito alimentar para a manutenção da saúde e a prevenção de doenças, podemos listar os vegetais folhosos escuros, os legumes em geral, todos os que nascem para cima da terra e das mais diversas cores, os tubérculos e raízes, as leguminosas, que são as principais fontes de proteínas vegetais, os cereais, particularmente os integrais, as frutas, as sementes oleaginosas, que têm gorduras boas, as carnes magras e os laticínios enriquecidos com probióticos, além de água, água de coco, chás e sucos funcionais”, afirma a médica.

Devo estocar alimentos?

“Não é um momento de pânico e nem de estoque demasiado de alimentos, mas como você deve evitar ir várias vezes ao mercado, é melhor que você compre o suficiente para um mês”, diz a Dra. Marcella. A Harvard Medical School recomenda manter em casa um suprimento de duas semanas a 30 dias em alimentos não perecíveis. E se você não os usar agora, eles podem ser úteis em caso de falta de energia ou condições climáticas extremas.

“É melhor investir naqueles alimentos saudáveis que duram mais tempo. Os mais compactos duram mais, como a cenoura, diferente do tomate que estraga mais fácil. Com relação às verduras, acelga e repolho são boas opções que também duram mais”, afirma cirurgião plástico Dr. Mário Farinazzo.

Posso ter relações sexuais com meu parceiro (a)?

Beijar definitivamente poderia espalhar o novo coronavírus. E, embora os coronavírus não sejam tipicamente transmitidos sexualmente, é muito cedo para saber, segundo a OMS. “No entanto, cabe o bom senso. Se você e seu parceiro estão em isolamento social há mais de duas semanas, tomam o máximo de cuidado ao sair de caso apenas para as ocasiões mais necessárias, como ir ao mercado ou à farmácia, não há problema na prática sexual. No entanto, se um de vocês apresentar sintomas de coronavírus, o afastamento terá que acontecer”, afirma a Dra. Ana Carolina Lúcio Pereira.

“Mas que fique bem claro: não é o momento para busca de novos parceiros sexuais, porque não temos como saber quem está infectado (já que alguns casos são assintomáticos) e não podemos ter certeza de que alguém está cumprindo o isolamento”, diz a médica.

Contágio: a Covid-19 é especialmente prejudicial para mulheres grávidas?

Recentemente, o Ministério da Saúde acrescentou as gestantes no grupo de risco para o novo coronavírus. Embora os estudos realizados até agora não identifiquem as grávidas como mais suscetíveis ao desenvolvimento de complicações, o órgão tomou a decisão visando redobrar a atenção com essa população.

Sobre a transmissão de mãe para filho durante a gestação, um novo estudo chinês, que será publicado na edição de junho da revista científica Emerging Infectious Diseases, confirma que esse contágio é improvável.

“O estudo acompanhou uma mulher grávida com infecção confirmada por SARS-CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave – Corona Vírus 2), que causa a doença do novo coronavírus, e que foi submetida à cesariana de um bebê cujo teste deu negativo na província de Zhejiang, na China. Até então, não foi observado risco de transmissão para o feto”, afirma a Dra. Ana Carolina. As gestantes e os familiares devem tomar as mesmas medidas de precaução amplamente divulgadas na mídia para redução do contágio da doença.

“Então, é necessário evitar contato próximo com pessoas apresentando infecções respiratórias agudas; lavar frequentemente as mãos (pelo menos 20 segundos), especialmente após contato direto com pessoas, superfícies e antes de se alimentar; se não tiver água e sabão, usar álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível; evitar colocar a mão no rosto; higienizar as mãos após tossir ou espirrar; usar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes limpos (com detergente, água sanitária e álcool de limpeza) e bem ventilados.”

O Covid-19 pode passar pela pele, entrar no corpo e me infectar?

“Na verdade, a nossa própria pele pode dificultar as coisas, pois ela é composta de uma variedade de diferentes micróbios, bactérias, sebo e proteínas mortas que formam uma grande barreira física. Mas pode ser possível que uma pessoa possa adquirir o Covid-19 tocando uma superfície ou objeto que contenha o vírus e, em seguida, tocando sua própria boca, nariz ou possivelmente seus olhos”, afirma a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff.

Como esse é um vírus do sistema respiratório, é mais comum que o contágio seja por meio de gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou até mesmo fala. “Essas gotículas podem pousar na boca ou no nariz de pessoas próximas ou possivelmente serem inaladas pelos pulmões”, diz a médica.

Existe o risco de o vírus ficar no meu cabelo ou barba?

“Sim, existe. O vírus pode ficar nos cabelos, na barba, nas roupas ou objetos. Se por ventura seu cabelo ou sua barba forem contaminados por gotículas respiratórias, então você precisaria tocar na parte do cabelo ou da barba que possui essas gotículas e em seguida tocar a boca, nariz ou olhos”, diz a Dra. Paola. Se você lembrar de higienizar sempre as mãos antes de tocar seu rosto, esse risco de contágio será menor”.

Roer unhas aumenta o risco de contágio pela Covid-19?

É definitivamente um péssimo costume tocar o rosto – especialmente sua boca, nariz e olhos – e estamos percebendo agora, com a pandemia do novo coronavírus, o quanto isso pode ser perigoso. Mas ainda há um hábito pior: roer as unhas. “Quando isso acontece, você está transferindo todos esses germes presentes naquele local. E você pode ficar doente. Temos que levar em consideração que a parte de baixo das unhas é uma área de difícil acesso e higienização, o que faz com que elas acumulem grande sujidade e se tornem um ambiente propício para a proliferação e sobrevivência de microrganismos transmissores de patologias, como o coronavírus”, explica a Dra. Paola.

Os germes que entram na boca representam uma das maneiras mais fáceis de contrair qualquer infecção. “Existem muitas infecções nessa época do ano, de bacterianas a virais e gripais. Mas, além disso, como agora temos o novo coronavírus, há ainda mais motivos para não roer as unhas”, acrescenta.

Se somente eu manuseio meu maço de cigarro, por que devo evitar fumar?

Os fumantes correm um risco especialmente alto. Em um estudo da China, onde ocorreu o primeiro surto de Covid-19, os fumantes tiveram 14 vezes mais chances de desenvolver complicações graves do que os não fumantes. Mesmo ocasionalmente, fumar cachimbo, narguilé ou até cannabis (maconha) pode colocá-lo em maior risco. Segundo especialistas, o que acontece com as vias aéreas quando você fuma é algum grau de inflamação, muito semelhante à bronquite.

Além disso, há outros problemas no cigarro, como os circulatórios. “A nicotina e as toxinas do cigarro provocam a diminuição do fluxo nos vasos sanguíneos. Uma vez que a circulação está prejudicada, a quantidade de oxigênio e nutrientes que chegam aos órgãos é menor”, explica a angiologista, Dra. Aline Lamaita.

“Por conta de todas as doenças associadas, o tabagismo é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal causa de morte evitável no mundo. No Brasil, nos últimos dez anos, segundo o Ministério da Saúde, houve redução de 33,8% no número de fumantes adultos no País, mas uma em cada dez pessoas que reside nas capitais brasileiras ainda mantêm o hábito de fumar”, diz a Dra. Aline. Apesar de estressante no começo, a adoção de novos hábitos, dentre eles os cuidados com a saúde mental e a atividade física diária, pode deixar esse período mais leve. “E dia após dia lembre-se que você está fazendo um bem enorme para sua saúde”, finaliza a angiologista.

Foto: Shutterstock

Fontes: Dra. Aline Lamaita, Dra. Ana Carolina Lúcio Pereira, Dra. Marcella Garcez,  Dr. Mário Farinazzo e Dra. Paola Pomerantzeff

2 Comentários

Deixe um comentário