Índice de obesidade e doenças relacionadas deve piorar na pandemia

Isolamento social recomendado como estratégia para combater a disseminação do novo coronavírus contribui para a obesidade na pandemia

Estudos têm mostrado que a obesidade na pandemia tem crescido e que os níveis de atividade física caíram durante o isolamento e permaneceram mais baixos até onde a quarentena foi flexibilizada.

A queda do condicionamento físico pode ser seguido por um aumento do sobrepeso e obesidade na população, o que já é reconhecido por agravar casos de Covid-19.

No Brasil, uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que quatro em cada dez pessoas ganharam peso durante o pandemia.

Esse fenômeno não é isolado e também foi registrado em países como a Itália, Israel, Reino Unido e França.

Em Curitiba, o excesso de peso já está presente em 50,9% da população, sendo que 16% já são considerados obesos, de acordo com o último levantamento da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde.

E, assim, a pandemia deve agravar ainda mais estes números.

Segundo o médico Dr. Alcides Branco, com 20 anos de experiência no tratamento da obesidade e mais de 10 mil pacientes operados em todo mundo, haverá um aumento da demanda nos sistemas de saúde devido à obesidade.

“A gente vê pelos artigos científicos o grande número de pacientes obesos e portadores de diabetes que tiveram complicações com a Covid-19. Precisamos tratar clinicamente ou até mesmo de forma cirúrgica. Já está provado que os pacientes com difícil controle de obesidade e diabetes o melhor tratamento é a cirurgia bariátrica e metabólica“, explica o cirurgião.

Estresse, ansiedade e saúde mental

Além do impacto na saúde física, a pandemia também tem reflexos na saúde mental.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Pernambuco avaliou 16,4 mil pessoas e observou que 73% das pessoas que participaram da pesquisa relataram algum nível de estresse devido ao isolamento social.

Segundo a psicóloga Adriane Branco, a ingesta alimentar aumentada devido a ansiedade, sedentarismo e ficar mais em casa, levou, portanto, ao aumento de peso em 40% dos pacientes em seus consultórios.

“Com o passar dos meses, as pessoas ficaram cada vez mais ansiosas, deprimidas, algumas com síndrome do pânico, diante das incertezas e medos sobre a pandemia. O efeito após cinco meses é de uma demanda muito grande de pacientes que começam a buscar ajuda”, explica a psicóloga.

Falta rotina alimentar 

Neste mesmo sentido, a nutricionista Dra. Magda Ramos aponta que a mudança de hábitos levou à redução do gasto energético e aumento do consumo calórico diário. “Ficar em casa tornou o acesso a alimentação mais fácil. Ficou mais fácil comer fora de hora e beliscar. Gastando menos e consumindo mais, o aumento do peso acontece”, explica.

Segunda a especialista, o segredo para evitar o ganho de peso e evitar complicações no futuro é seguir uma rotina de saúde, incluindo horários fixos para alimentação, dar preferência para alimentos in natura e evitar alimentos processados.

“Essa orientação visa um aporte maior de vitaminas, minerais e proteínas que garante, inclusive, um melhor desempenho do sistema imunológico. Mantendo esse padrão alimentar, sem excesso de doces, frituras e bebidas alcóolicas, é possível até mesmo perder peso e evitar outras doenças como diabetes e pressão alta”, afirma Magda.

Obesidade, diabetes e doença cardíaca 

A obesidade é uma doença crônica que está diretamente relacionada ao desenvolvimento de comorbidades como o diabetes, a hipertensão arterial, alterações das gorduras do sangue, principalmente aumento dos triglicérides e diminuição do bom colesterol.

O que afeta diretamente a saúde do sistema cardiovascular.

Segundo a cardiologista Dra. Cláudia Savaris, o impacto da evolução para quadros mais graves de problemas cardiovasculares já pode ser sentido.

Estudos mostram a queda dos números de atendimento de infarto e aumento de oito vezes de casos de morte súbita.

Segundo a especialista, a ansiedade e o medo de uma contaminação por Covid-19 está, contudo, afastando pacientes cardiopatas de hospitais e centros de atendimento.

O que está elevando o número de mortes por infarto em casa.

“Há um hiato grande entre os pacientes não terem procurado hospital, não terem recebido atendimento e evoluído para morte. São pacientes crônicos que estão morrendo em casa”, alerta a cardiologista.

Redução nos atendimentos

Estudos também mostram que 55% países desenvolvidos reduziram atendimentos aos pacientes crônicos e isso irá gerar um impacto na saúde pública e suplementar brasileira.

“No Brasil, com uma população de 220 milhões, o impacto será ainda maior. Se essa lógica estiver correta, nós teremos mais doentes crônicos, com casos de maior gravidade e gerando necessidade de procedimentos de alto grau de complexidade”, diz Cláudia.

Para a especialista, uma das estratégias que podem ser adotadas para atender a demanda crescente destes pacientes crônicos é a utilização da telemedicina.

Dessa forma, há um aumento de 40% no número de atendimentos via telemedicina em todo o mundo.

Vamos precisar de um plano urgente de reestruturação da saúde no Brasil. Estratégia, alocação de recursos e opções de atendimento médico nas diversas regiões do país são importantes para evitar o número de mortes”, acrescenta a cardiologista.

Foto: Divulgação

Fontes: Doutores Alcides Branco, Cláudia Savaris e Adriana Branco

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