A chegada dos parasitas

O aumento da temperatura é o cenário perfeito para a contaminação por vermes. Doenças atacam principalmente o intestino e causam diarreias, vômitos e outros incômodos ao paciente

Com a proximidade do verão, é mais comum a queixa de pessoas com problemas em todo o sistema digestivo e intestinal. O desconforto é causado pelas verminoses, doenças provocadas por vermes. Entre os mais comuns, estão Áscaris (lombriga), Ancilóstomos, Estrongiloides, Tênias (do porco, do boi e do peixe), a Enterobíase, a Himenolepíase e a Esquistossomose (barriga d’água).

A visita a praias e piscinas públicas e o consumo de alimentos e bebidas sem procedência segura são dois dos principais responsáveis pelo crescimento do número de pessoas doentes nos meses mais quentes do ano.

“Para se proliferarem, os vermes necessitam, principalmente, do calor e da umidade. A ocorrência das verminoses, portanto, acaba sendo maior nesta época do ano. Outros fatores contribuem para a ocorrência das doenças, como saneamento básico deficiente, não disponibilidade de tratamento de água, higiene precária das pessoas e alimentos, além da contaminação do solo, água e alimentos”, explica o infectologista do Hospital Moriah, Dr. Fernando de Oliveira.

A maneira que a contaminação acontece justifica os dois principais grupos de risco: crianças e pessoas com menos acesso a saneamento básico adequado. 

“Pessoas que não têm o hábito de lavar as mãos antes das refeições, sem noções básicas de higiene, estão sob risco. Nesse grupo, estão incluídas as crianças pequenas, que estão começando a engatinhar e andar, que comumente levam muitos objetos à boca e que ainda estão aprendendo os conceitos de higiene”, revela a infectologista pediátrica do Hospital Sírio-Libanês, Dra. Giovanna Gavros Palandri. 

 MAPA NO CORPO

Bicho geográfico é a denominação comum para o Ancylostoma braziliense/caninum, parasitas que afetam, principalmente, gatos e cachorros. Os animais com a verminose eliminam os ovos nas fezes que, no solo, se transformam nas larvas infectantes após cinco a dez dias.

O parasita entra na pele humana, normalmente nos membros inferiores e nádegas, que são as áreas que o indivíduo mais tem contato com o solo contaminado (ao sentar). O parasita caminha por baixo da pele, dando a impressão de fazer um caminho, por isso seu nome popular. Os sintomas aparecem após alguns dias, sendo o principal deles, a coceira excessiva.

Fontes: infectologista do Hospital Samaritano, Dra. Bianca Grassi; e infectologista pediátrica do Hospital Sírio-Libanês, Dra. Giovanna Gavros Palandri

O intestino é uma das partes do corpo que mais sofrem. Isso acontece porque a contaminação ocorre, normalmente, por via fecal/oral. Ou seja, o primeiro contato do verme com o corpo é por meio da boca, sendo fácil o caminho até o intestino. 

O clínico geral do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Marcus Graz, afirma que o intestino costuma ser o primeiro destino dos vermes que entram pela boca durante alimentação e consumo de água. É nas alças intestinais que eles crescem, se desenvolvem e se multiplicam.

“O agente que causa a doença fica localizado em determinada parte do intestino fino ou grosso, causando um processo inflamatório no local. Ele cursa, em última análise, em dor abdominal e diarreia. Em algumas patologias, o verme pode se localizar também em outros locais, como o Sistema Nervoso Central (SNC), pele, medula óssea, pulmão e fígado”, comenta o infectologista do Hospital Moriah.

Entre os sintomas mais comuns das doenças, estão diarreia, náusea, vômitos, dor abdominal, fadiga, irritabilidade, perda de apetite. Segundo o clínico geral do Hospital Israelita Albert Einstein, na maioria das vezes, os sintomas são brandos no início.

“Cuidado com os alimentos, como cozimento adequado e a lavagem de saladas e verduras cruas são fundamentais. O uso do cloro na água do cozimento pode ajudar, assim como a higiene adequada das mãos antes do preparo e consumo de alimentos”

“As verminoses da pele provocam coceira, enquanto no aparelho digestivo podem provocar diarreias persistentes e intensas, fadiga, perda de peso e inchaço na barriga. Casos mais graves podem provocar desnutrição, infecção generalizada e até a morte. Mas, felizmente, isso é bem raro”, comenta. 

Apesar de grande parte das verminoses apresentar os mesmos sintomas, algumas possuem características específicas que ajudam no diagnóstico. A infectologista pediatria do Hospital Sírio-Libanês desdobra alguns dos vermes e suas doenças:

• Áscaris: na fase inicial, é possível ocorrer uma forma de pneumonia pela passagem do verme pelos pulmões. Na fase tardia, quando há grande quantidade de vermes adultos no intestino, pode acontecer uma obstrução intestinal ou a migração do verme com problemas na vesícula biliar, fígado e pâncreas.

• Tênias do peixe (Difilotrías): podem causar anemia por deficiência de vitamina B12.

• Ancilóstomos, Necatores: pela penetração da larva na pele, pode cursar com lesões pruriginosas no local. Na fase inicial, podem acometer pulmões, causando sintomas leves de tosse. Tardiamente pode cursar com anemia por perda de sangue pelo intestino.

• Estrongiloides: parecido com os Ancilóstomos, também podem penetrar pela pele. Inicialmente, vão para os pulmões, podendo causar sintomas leves, como tosse e desconforto no peito. Em pacientes com imunodeficiência, podem causar quadro grave com disseminação do verme pelo corpo.

• Esquistossomose: quando não tratada e após muitos anos, pode causar lesões no fígado e baço, levando ao quadro conhecido como “barriga d’água”.

• Neurocisticercose: se adquire pela ingestão dos ovos da Tênia do porco. Pode causar dor de cabeça, náusea, vômitos, confusão mental e até convulsões. 

A prevenção das verminoses é bastante simples. “Mantendo as medidas de higiene, principalmente lavando as mãos constantemente (principalmente após ir ao banheiro e antes de comer) e fazer a higiene dos alimentos são dois pontos importantes. Antes de comer alimentos crus, lavar bem e deixar de molho e comer comidas somente de fontes conhecidas”, cita a infectologista do Hospital Samaritano de São Paulo, Dra. Bianca Grassi.

O Dr. Graz complementa realçando que o desprezo adequado do esgoto e o tratamento da água de consumo são algumas das melhores maneiras de evitar verminoses.

 Algumas medidas devem ser tomadas se o paciente estiver sentindo-se mal. A diarreia e o vômito são responsáveis por desidratação, sendo necessário repor a água e os sais minerais com bastante água, soro fisiológico e bebidas isotônicas.

“Cuidado com os alimentos, como cozimento adequado e a lavagem de saladas e verduras cruas são fundamentais. O uso do cloro na água do cozimento pode ajudar, assim como a higiene adequada das mãos antes do preparo e consumo de alimentos”, diz ele.

Algumas medidas devem ser tomadas se o paciente estiver sentindo-se mal. A diarreia e o vômito são responsáveis por desidratação, sendo necessário repor a água e os sais minerais com bastante água, soro fisiológico e bebidas isotônicas. É importante que haja ingestão de alimentos, evitando aqueles que possam irritar o intestino, como frituras, doces, café, refrigerantes, entre outros.

Os parasitas devem ser tratados, também, com medicamentos. “Existem muitas opções de tratamentos anti-helmínticos, popularmente conhecidos como ‘vermífugos’. Classicamente, os mais utilizados no tratamento das verminoses são o albendazol e o mebendazol. A nitazocanida é um medicamento mais recente e que tem amplo espectro de ação, ou seja, tem uma cobertura adequada para a maioria das verminoses do dia a dia”, conclui a Dra. Giovanna. Há ainda os repositores da flora intestinal, para os casos de diarreia aguda. 

Foto: Shutterstock

As farmácias na adesão ao tratamento

Edição 298 - 2017-09-01 As farmácias na adesão ao tratamento

Essa matéria faz parte da Edição 298 da Revista Guia da Farmácia.

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