Os avanços obtidos pela ciência no tratamento da Aids tornaram a doença menos assustadora. No entanto, engana-se quem pensa que este é um assunto controlado. Somente no Brasil, o Ministério da Saúde (MS) estima que 866 mil pessoas vivam com o HIV. Deste montante, apenas 593 mil estavam em tratamento no País, segundo o dado mais recente, obtido em 2018.
São números como esses que indicam a importância da Aids ainda ser tema de campanhas de conscientização. É este o intuito da campanha denominada Dezembro Vermelho.
De acordo com a infectologista do Hospital 9 de Julho, Dra. Sumire Sakabe, trata-se de um momento para colocar a doença e suas consequências em evidência. “Dimensionar a questão na sua vida e na vida das pessoas da comunidade. Podemos parafrasear o ‘tirar os esqueletos do armário’, criar um momento para conversarmos sobre assuntos importantes que a gente deixa passar na correria da vida”.
Raio-X dos preservativos
Composição
A maioria dos preservativos é feita de látex ou poliuretano, que passam por um processo de vulcanização (injeção de calor e pressão) para se tornarem mais resistentes. Durante a fabricação, o material recebe a adição de alguns produtos químicos para se mais tornar mais resistente e reduzir o efeito de componentes alérgicos. Na fase final do processo, a borracha é moldada para ganhar o formato anatômico e passa por um banho de talco e sílica antes de ser embalada.
Eficácia
Quando usada da forma correta, a camisinha apresenta uma eficácia de 98% contra a gravidez e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), como gonorreia, sífilis, HPV e clamídia. Caso seja usada de modo intuitivo, sem respeitar as orientações de colocação correta, a eficácia cai para 85%.
Tamanho
O modelo clássico de preservativo tem: 19 cm e comprimento, 5 cm de largura e 0,07 mm
de espessura. No entanto, o mercado de preservativos é bem inovador e oferece diversas opções diferenciadas.
Sensações e experiências
• Divertidas: é possível encontrar camisinhas com efeito fluorescente, brilho dourado, além de sabores e aromas inusitados, como de espumante, caipirinha, chocolate
e café.
• Texturas: com relevos pontilhados e ondulados, esses modelos prometem estimular ainda mais o prazer do casal.
• Formatos: o mercado oferece diferentes tamanhos para proporcionar melhor ajuste ao corpo de cada homem. Há, ainda, formatos mais anatômicos, com a ponta mais larga, evitando o contato direto com a cabeça do pênis.
• Sensações: há modelos produzidos com um aditivo especial que proporcionam mais controle ao homem, gerando um efeito retardante da ejaculação. Há também preservativos que, em contato com o corpo, provocam sensações de mudança de temperatura, tanto quente quanto fria.
Dicas de exposição
O ideal é que os preservativos sejam posicionados em áreas que facilitem o acesso e a compra, pois, em geral, o shopper deseja fazer uma compra rápida. O ideal é que os modelos tradicionais fiquem separados dos inovadores, sempre colocados próximos às seções de produtos de higiene pessoal masculina e outros itens complementares, como os géis lubrificantes íntimos.
Fontes: Hypermarcas; e Prudence
Essa importante reflexão trazida pelas ações do Dezembro Vermelho também pode colaborar para frear um quadro preocupante registrado pelo Boletim Epidemiológico de 2019. O documento mostra que, entre 2008 e 2018, houve crescimento na taxa de detecção de HIV entre homens jovens, com idades 15 e 29 anos, além de um pequeno aumento também em pessoas do sexo masculino com mais de 59 anos de idade.
Entre homens jovens de 15 a 19 anos de idade e de 20 a 24 anos de idade, o aumento foi, respectivamente, de 62,2% e 94,6%, entre 2008 e 2018. A principal via de transmissão foi sexual, sendo 40% em exposição homo/bissexual. Além da orientação sexual, raça e cor também geram importantes dados para o cenário do HIV/Aids no Brasil.
Na última década, houve uma queda de 20% na proporção de casos entre pessoas brancas. No mesmo período, a redução foi de apenas 1% para as pessoas negras, enquanto houve aumento de 20,5% para as amarelas, 37,7% para as pardas e 100% para a população indígena. Observando a série histórica, nota-se que, desde 2009, os casos são mais prevalentes em mulheres negras (pretas e pardas), enquanto entre homens isto ocorre desde 2012.
“Trabalho há 33 anos nesta área e tivemos uma grande transformação na possibilidade do cuidado do HIV neste período. No entanto, o que continua nos preocupando é que a epidemia atinge de forma mais significante as populações mais excluídas socialmente. É preciso levar cada vez mais informação, diagnóstico e acesso às estratégias de prevenção e tratamento à população vulnerável”, alerta a médica sanitarista e coordenadora adjunta do Programa Estadual DST/Aids de São Paulo, Dra. Maria Clara Gianna.
Cuidado e prevenção
Quando se trata do vírus da AIDS, mais importante do que estar atento a sintomas, é preciso estar atento a comportamentos. Todo e qualquer indivíduo com vida sexual ativa tem risco de se infectar. Quanto maior o número de parceiro(a)s e quanto maior o número de exposições sem preservativo, maior o risco.
“Não se transmite HIV no abraço, no beijo ou no assento do banheiro. Relações sexuais seguem sendo a principal via de contágio, enquanto a transmissão da mulher grávida para o bebê acontece cada vez menos, pois aquelas adequadamente tratadas e bebês adequadamente acompanhados têm um risco muito pequeno de infecção”, destaca a Dra. Sumire.
“Há ainda a possibilidade de infecção pelo uso de drogas injetáveis, mas esta é uma via de transmissão menos comum no Brasil, pelo simples fato de que, por aqui, as pessoas se injetam menos.”
Qualidade de vida
Segundo a infectologista do Hospital 9 de Julho, Dra. Sumire Sakabe, um estudo publicado em junho deste ano observou 39 mil pessoas com HIV e 370 mil não infectadas e concluiu que pessoas vivendo com HIV que iniciaram a terapia antirretroviral em boa condição imunológica têm expectativa de vida próxima a de não infectadas, ainda que comorbidades sejam mais frequentes no primeiro grupo. “Pessoas com HIV podem trabalhar, viajar, se reproduzir e viver uma vida muito parecida com a vida das não infectadas”, destaca.
A grande diferença é que pessoas com HIV precisam tomar medicamentos de forma regrada, todos os dias, fazer exames e consultas periódicas. “Elas têm risco aumentado para doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e Acidente Vascular Cerebral (AVC), bem como alguns tipos de neoplasias”, explica a Dra. Sumire.
Além de manter o tratamento correto, o ideal é que o paciente com HIV reforce as medidas para prevenção de doenças, ingerindo alimentos saudáveis, evitando tabaco e álcool, bem como outras drogas, pratique exercícios regularmente, tome as vacinas recomendadas e faça os exames de rastreio indicados pelo seu médico.
A infecção pelo HIV pode passar completamente despercebida ou ainda ter sintomas na fase aguda que, em geral, melhoram sem tratamento. Febre, aumento dos gânglios, manchas na pele, diarreia, dor de cabeça, mal-estar são alguns dos sinais mais comuns desta fase, comumente confundidos com viroses comuns.
Depois da fase aguda, em geral, passa-se alguns anos sem sintomas. “Já quando a Aids se estabelece, os sintomas muitas vezes são decorrentes de doenças oportunistas, como tuberculose, infecções por fungos, outros vírus, ou por neoplasias, como sarcoma de Kaposi e alguns tipos de linfoma. Outras vezes, os sintomas são causados pelo próprio HIV, como perda de peso, febre, diarreia e queda de cabelo”, descreve a Dra. Sumire.