As doenças reumáticas são comumente associadas à terceira idade, uma vez que seu aparecimento está diretamente ligado ao desgaste natural dos ossos, dos músculos, das cartilagens e articulações ao longo dos anos. Entretanto, é importante destacar que existem mais de 150 tipos de doenças ósseas e musculares e que podem acometer qualquer faixa etária, conforme esclarece o presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia (SPR), Dr. Marcelo Pinheiro.
“Antigamente, essas doenças eram classificadas como ‘reumatismos’, mas já conhecemos muitos detalhes de cada uma delas, por isso damos nomes específicos. Embora o público leigo ainda use o termo reumatismo, ele não é apropriado nos dias atuais, pois estamos falando de doenças e tratamentos diferentes.”
Entre as doenças reumáticas mais frequentes na população está a osteoartrite, popularmente chamada de artrose, que representa cerca de 30% a 40% das consultas em ambulatórios, de acordo com os dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
Associada ao envelhecimento, a osteoartrite é uma doença degenerativa que se caracteriza pelo desgaste da cartilagem articular e das estruturas que compõem toda a articulação, incluindo as alterações ósseas, especialmente dos joelhos, dos quadris, das mãos e da coluna lombar, esclarece o Dr. Pinheiro.
“A osteoartrite acomete mais comumente pessoas com mais de 60 anos de idade, mas vale lembrar que sua incidência aumenta com o avanço da idade.”
DICAS DO GUI:
Mitos e verdades sobre as doenças reumáticas
Artrite reumatoide e osteoartrite são doenças que acometem apenas os idosos
MITO. A artrite reumatoide pode surgir em qualquer faixa etária, embora sua maior incidência seja em mulheres de 40 a 50 anos. Já a osteoartrite é uma doença degenerativa que está, de fato, associada ao envelhecimento por ser desencadeada pelo desgaste da cartilagem articular e por alterações ósseas, especialmente dos joelhos, dos quadris, das mãos e da coluna lombar. Fatores genéticos e aspectos relacionados à qualidade do colágeno também estão envolvidos com a osteoartrite, uma vez que a história familiar é um importante fator de risco ao longo da vida.
Artrite reumatoide e osteoartrite se manifestam mais quando está frio
MITO. Apesar de não haver comprovação científica sobre essa associação, é muito comum os pacientes fazerem essa relação. Uma das explicações é o fato da menor prática de atividade física no período de frio. Outra possibilidade é que as temperaturas mais baixas geram contraturas musculares e de tendões que podem piorar a dor articular. Entretanto, é fundamental explicar que o frio não desencadeia ou agrava ambas as doenças.
Artrite reumatoide e osteoartrite não têm cura
VERDADE. Como qualquer outra doença crônica, a artrite e a osteoartrite não têm cura e exigem tratamento contínuo com o objetivo de controlar a dor e outros sintomas.
Quem tem essas doenças não pode realizar atividade física
MITO. As pessoas com doenças nas articulações, como artrite reumatoide e osteoartrite, podem e devem praticar atividade física desde que sob orientação e supervisão do reumatologista, fisioterapeuta e educador físico. O objetivo é individualizar os treinos de acordo com as peculiaridades de cada doença e as limitações do paciente.
O fato de carregar muito peso ao longo da vida pode estar relacionado com o surgimento dessas doenças
VERDADE. Como a osteoartrite está associada ao envelhecimento, a sobrecarga mecânica ao longo da vida, especialmente com trabalhos braçais, pode estar associada ao comprometimento de determinada articulação ou coluna vertebral. No entanto, a associação mais forte é com a obesidade, sobretudo quando existe envolvimento de joelhos, quadris e coluna lombar. Por outro lado, em pacientes com artrite reumatoide, esse aspecto é um mito, uma vez que as alterações imunológicas não estão associadas a esse fato. Entretanto, é importante ressaltar que o estresse mecânico pode propiciar o agravamento do dano articular nesse cenário.
Fontes: presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia (SPR), Dr. Marcelo Pinheiro; e médica assistente dos Ambulatórios de Osteoartrite (artrose), Gota e Espondiloartrites do Hospital das Clínicas, Dra. Claudia Goldenstein Schainberg
Outra doença reumática muito comum e que pode surgir em qualquer faixa etária, embora sua maior incidência seja em mulheres de 40 a 50 anos, é a artrite reumatoide, alerta o presidente da SPR.
“Ela é uma doença inflamatória crônica e de origem autoimune, ou seja, é uma condição em que o sistema imunológico, que defende o nosso corpo de infecções contra vírus e bactérias, passa a atacar o próprio tecido que envolve as articulações, sobretudo a membrana sinovial, causando a sinovite.”
A principal característica da artrite reumatoide é a inflamação das articulações (juntas), especialmente das mãos e dos pés. Não à toa, dores e rigidez nas articulações, principalmente pela manhã ou após o repouso, são sinais de alarme para a possibilidade de alguma doença reumática, alerta o médico.
“Mas há também outros sintomas, como vermelhidão na área afetada, dificuldade em realizar movimentos, comprometimento da função e deformidades.”
Como aliviar as dores
O tratamento medicamentoso varia de acordo com o estágio e a atividade da doença. Embora não tenha cura, a artrite reumatoide tem muitas opções terapêuticas capazes de controlar a inflamação, tranquiliza o médico.
“As drogas imunossupressoras, com destaque para a substância metotrexato, são muito eficazes. Em casos mais graves, podemos recorrer aos agentes imunobiológicos.”
Em geral, o uso de anti-inflamatórios e corticoides é direcionado para as fases mais agudas. Entretanto, o Dr. Pinheiro enfatiza que “esse tratamento só deve ser mantido enquanto se observar sinais inflamatórios ou o paciente apresentar dores articulares e muita atenção deve ser dada aos possíveis efeitos colaterais, sobretudo nos mais velhos”.
Entre as medidas não medicamentosas que contribuem tanto no tratamento como na prevenção do quadro, estão a prática regular de exercícios físicos; dieta equilibrada, evitando alimentos processados, açúcares refinados e excesso de gorduras; manutenção do peso adequado; e não fumar.
No caso da osteoartrite, o tratamento engloba uso de analgésicos e anti-inflamatórios para diminuir a dor e a rigidez, mas as medidas não medicamentosas, como fisioterapia, exercícios de fortalecimento muscular e perda de peso, são estratégias cruciais para restaurar a função, mobilidade e qualidade de vida, enumera o presidente da SPR.
“Outras terapias que também podem ser usadas são a suplementação de colágeno e a infiltração de substâncias que podem recompor o líquido sinovial alterado, chamada de viscossuplementação. Em casos refratários e com progressão da doença articular, a cirurgia para implantação de prótese da articulação pode ser uma alternativa.”
Como o excesso de peso é o principal fator de risco para progressão da osteoartrite, o especialista reforça que manter os ponteiros da balança equilibrados é fundamental para o tratamento e também para a prevenção da osteoartrite.
“O sobrepeso ou a obesidade sobrecarrega as juntas dos membros inferiores, principalmente dos joelhos, contribuindo não só para o desenvolvimento como também para o agravamento da doença já instalada.”
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