As diferentes dores das inflamações e infecções

As inflamações e infecções são confundidas e levam, muitas vezes, ao tratamento incorreto. Orientar o consumidor é o primeiro passo para alívio e cura

Não é difícil ter alguém ao redor acometido por dores de garganta ou ouvido. Mas o incômodo não significa sempre a mesma coisa e saber identificá-lo é crucial para a orientação do tratamento correto.

“Em geral, tanto a dor de garganta como a de ouvido começam por infecções virais. Após cinco dias sem melhora espontânea, o quadro pode evoluir para infecções bacterianas, ou seja, há presença de bactérias nocivas à saúde”, diz o otorrinolaringologista do Hospital Cema, Dr. Cícero Matsuyama.

Entre as patologias mais comuns na garganta, estão as amigdalites e faringites. Pode ocorrer inchaço local, com dificuldade para se alimentar e apresentar pus nas amígdalas e, se infecciosas, causam febre e mal-estar geral.

Já as otites são as dores no ouvido. “A febre está presente na maioria dos casos de otite média aguda. Nas otites externas e em alguns casos de otite média, pode ocorrer saída de secreção pelo ouvido. A diminuição da acuidade auditiva também é frequente nos casos de otite”, cita o otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Renato Stefanini.

As pessoas de todas as idades podem sofrer com as dores de garganta e ouvido, mas o problema é mais comuns em crianças. De acordo com o Dr. Matsuyama, isso ocorre porque os tecidos linfáticos ainda estão em desenvolvimento. Além disso, nessa faixa etária, por causa da escola, o contato com outras pessoas em lugares fechados é maior.

“Adultos e crianças com rinites descompensadas (sem tratamento) apresentam maior chance de infecção das vias aéreas superiores. Sono insuficiente ou de má qualidade, alimentação deficiente e o estresse podem favorecer as infecções. A manipulação dos ouvidos com hastes ou qualquer outro objeto é causa frequente de otite externa ou trauma local”, complementa o Dr. Stefanini.

Como a contaminação ocorre por gotículas de secreção contaminadas, a medida mais importante é lavar as mãos, especialmente antes de comer. O otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês explica que ter noites de sono regulares e de qualidade; alimentação saudável diariamente; vacinação atualizada; tratar doenças que podem predispor a infecções das vias aéreas superiores, como a rinite, a adenoide em crianças; fazer uma boa higiene oral diariamente; e frequentar o dentista regularmente, são algumas outras atitudes do dia a dia que ajudam na prevenção.

Tipos de antibióticos

Dependendo da classe à qual o antibiótico pertence, há um mecanismo e ação específicos. São alguns deles:

• Betalactâmicos: têm como mecanismo

de ação a inibição da síntese da parede celular bacteriana.

• Antibióticos que alteram a topoisomerase: interferem na ação da enzima topoisomerase II no superenovelamento do DNA bacteriano, não permitindo sua transcrição ou replicação.

• Polimixinas: agem alterando os fosfolipídios da membrana celular da bactéria.

• Glicopeptídeos: agem inibindo a síntese da parede celular bacteriana.

Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti

 Apesar de frequente, é preciso que o paciente tenha atenção ao quadro se ele for recorrente. “A grande maioria dos casos é associada a doenças agudas, de fácil tratamento e resolução rápida. Porém, algumas vezes, podem evoluir com complicações importantes que podem deixar sequelas ou podem ser sintomas de doenças mais graves em casos mais raros. As pessoas devem ficar atentas a sinais de alerta, como a piora importante dos sintomas, ausência de melhora e persistência da febre apesar do tratamento prescrito pelo médico, saída de secreção ou sangue pelo ouvido, localização da dor na garganta unilateral, com dificuldade para abrir a boca, entre outros”, frisa o Dr. Stefanini.

O problema pode ser bastante grave. Segundo o otorrinolaringologista do Hospital Cema, a infecção localizada em uma região pode se disseminar para outros órgãos por meio da corrente sanguínea. Os principais órgãos atingidos são cérebro (meningite) e coração (endocardite), além do risco de septicemia (infecção generalizada).

Medicamento correto

A escolha do tratamento correto passa, necessariamente, pela identificação da doença que acomete o paciente. É comum que haja confusão entre infecções e inflamações, tanto na garganta quanto nos ouvidos.

“A infecção é a agressão ao organismo causada por bactérias, vírus ou fungos. A inflamação é a resposta do organismo a qualquer tipo de agressão que pode ser um trauma local (batida, corte, queimadura, entre outros), uma irritação por agentes não infecciosos (substâncias tóxicas, produtos químicos, ar seco, processos alérgicos) e agentes infecciosos (vírus, bactérias e fungos). Na inflamação, ocorrem dor, inchaço e vermelhidão local. As infecções, geralmente, são acompanhadas de inflamação local, mas pode ocorrer inflamação sem infecção”, salienta o Dr. Stefanini.

Para o Dr. Matsuyama, os tratamentos começam com analgésicos (pastilhas, dipirona, ibuprofeno ou paracetamol) dosados pela intensidade da dor. Se a mesma for muito forte, pode-se entrar diretamente com anti-inflamatórios. Se o quadro não apresenta melhoras, o tratamento mais adequado é com os antibióticos.

“Os anti-inflamatórios são prescritos quando observados sinais evidentes de inflamação local, como edema (inchaço) e hiperemia (mucosa avermelhada). Os antibióticos são prescritos quando a história clínica e os sinais locais sugerem infecção bacteriana, sendo necessário o conhecimento das bactérias mais frequentes em cada local de infecção para que seja indicado o medicamento correto”, complementa o Dr. Stefanini.

Segundo a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti, dois grupos dividem os anti-inflamatórios: esteroides, derivados de corticoides que inibem as prostaglandinas e proteínas ligadas ao processo inflamatório, e não esteroides, que diminuem o processo inflamatório e a dor.

“Os quadros inflamatórios surgem quando há um aumento da produção de prostaglandina. A prostaglandina é gerada por meio da ação de uma enzima chamada Ciclooxigenase (COX). Os anti-inflamatórios agem inibindo a ação da COX. Sem COX, há menor produção de prostaglandinas e menos estímulo para ocorrer inflamações”, ensina.

Ainda que a prescrição deva ser feita de acordo com a enfermidade acometida, é preciso que haja atenção às contraindicações de cada medicamento.

A farmacêutica da USP revela que os anti-inflamatórios não são indicados para idosos; grávidas; pacientes com insuficiência renal, cirrose, hipertensão descontrolada, insuficiência cardíaca; pessoas usuárias de álcool; pacientes que tomam varfarina, com risco de hemorragia ou com história de úlcera péptica/gastrite.

Além disso, a automedicação pode ser problemática ao usar os antibióticos ou anti-inflamatórios. De acordo com o Dr. Stefanini, os antibióticos tomados sem necessidade ou em doses inadequadas levam à seleção bacteriana, podendo tornar o quadro mais grave e mais difícil de tratar. Os anti-inflamatórios complicam outras doenças.

“A automedicação pode mascarar uma doença mais grave e atrasar seu diagnóstico e tratamento”, frisa o otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês.

Maria Aparecida complementa dizendo que, apesar de alguns anti-inflamatórios serem Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) e indicados para doenças autolimitadas, a orientação fornecida pelo farmacêutico é essencial porque o medicamento poderá interagir, inclusive, com outros fármacos que estejam sendo administrados.

Para a dor de garanta, é possível administrar ainda, as pastilhas. Elas contêm um ou mais princípios ativos, usualmente em uma base adocicada e com sabor.

“A pastilha ajuda em várias situações que provocam profundo incômodo e desconforto decorrentes de tosse ou outros problemas relacionados, proporcionando alívio sintomático. Normalmente, contêm fármacos anti-inflamatórios, fluidificantes de secreções, antialérgicos, descongestionantes, entre outros, que ajudam a diminuir a dor e a irritação”, finaliza.

 

Foto: Shutterstock

Farmacêutico na mira

Edição 296 - 2017-07-01 Farmacêutico na mira

Essa matéria faz parte da Edição 296 da Revista Guia da Farmácia.

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