As diversas faces da dor

No mundo, entre 10% e 55% da população sofre de dor de forma crônica, o que pode significar a incapacidade para a realização das atividades diárias, como também altos custos para o controle

A dor é uma condição multifatorial e difícil de entender, definida pela Associação Internacional para Estudo da Dor (IASP) como uma “experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou descrita em tais termos”. Mais do que uma sensação negativa de que algo está errado com o corpo, a dor pode ser incapacitante para muitos dos acometidos.

“A dor crônica leva à falta no trabalho, incapacidade temporária ou permanente, morbidade e aos altos custos ao sistema de saúde, sendo considerada um problema de saúde pública”, enumera o reumatologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Dr. Leandro Parmigiani.

Ainda segundo a IASP, a prevalência de dor crônica no mundo é estimada em torno de 10% a 55%, com média de 35,5%. No Brasil, embora não existam muitos estudos epidemiológicos conclusivos, a incidência é de 30% a 50%.

Atuação dos analgésicos e anti-inflamatórios contra a dor

Segundo explica o neurocirurgião e coordenador do Centro da Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, Dr. Cláudio Corrêa, os analgésicos atuam, primariamente, no alívio da dor, por agir nos nociceptores e, secundariamente, ao reduzir o processo inflamatório, que é um fator importante de dor.

“Tanto os analgésicos anti-inflamatórios esteroidais, quanto os não esteroidais, interferem na cascata inflamatória, reduzindo a evolução da mesma e também diminuindo a chance de evoluir para uma cronificação”, acrescenta.

Os Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINEs) estão entre os medicamentos mais prescritos em todo o mundo. “Essa classe heterogênea de fármacos inclui a aspirina e vários outros agentes inibidores da ciclooxigenase (COX), seletivos ou não. Eles inibem a ciclooxigenase, que é responsável pela produção de prostaglandinas, reduzindo o edema e o processo inflamatório (dor, calor e rubor)”, acrescenta o reumatologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Dr. Leandro Parmigiani. O cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Leforte, Dr. Diego Yuji Ito, faz apenas um alerta em relação aos cuidados de uso. “Os anti-inflamatórios devem ser tomados com muita cautela, pois apresentam diversos efeitos colaterais. A melhor forma de tratamento é buscar ajuda especializada no início dos sintomas, antes que eles progridam e se tornem graves”, aconselha.

Os medicamentos para dor, hoje, estão disponíveis em diversas apresentações. “O mais comum é que as pessoas optem por comprimidos para aliviá-la, como aqueles à base de dipirona ou ibuprofeno e, raramente, vão ao médico, a menos que o sintoma se prolongue por muito tempo ou seja realmente incapacitante. Mas é preciso lembrar que há opções de medicamentos em emulgel, que são tão eficazes quanto os comprimidos”, completa a gerente médica da GSK Brasil, Dra. Ana Santoro. Outro tipo de dor que merece atenção são as abdominais, conforme lembra o Dr. Ito. “Entre as dores mais frequentes em consultório, estão a dispepsia (“dor no estômago”), cólicas abdominais e desconforto abdominal decorrente de excesso de gases ou constipação intestinal. Na grande maioria das vezes, são decorrentes de erro alimentar”, adverte o médico.

Acompanhe, a seguir, a ação de algumas substâncias específicas em casos de dor*.

  • Paracetamol: atua inibindo a COX 3 e modulação da via serotoninérgico, com efeitos central e periférico.
  • Opioides: neste grupo, estão a morfina e derivados, que atuam estimulando receptores opioides específicos.
  • Anticonvulsivantes: gabapentina e derivados, como a pregabalina, diminuem o estímulo na via ascendente da dor devido ao bloqueio nos canais de cálcio, reduzindo o estímulo doloroso.
  • Lidocaína: inibe os canais de sódio, bloqueando localmente a transmissão da sensação dolorosa.
    Antidepressivos: atuam na modulação da dor por meio do aumento de serotonina e noradrenalina, promovendo efeito analgésico.
  • Canabinoides: podem reduzir a percepção da dor.

 

*Fonte: reumatologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Dr. Leandro Parmigiani

“A dor corresponde por 80% das consultas médicas no mundo”, acrescenta o neurocirurgião e coordenador do Centro da Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, Dr. Cláudio Corrêa.

Outros estudos apontam para dados ainda mais alarmantes. De acordo com o levantamento Global Pain Index 2018, encomendado pela GSK, 96% dos brasileiros já sentiram alguma dor no corpo; e 95% têm dores todos os dias. Apesar da intensidade e a reação à dor ser muito particular, pode-se dizer que ela já afetou o dia a dia de quase todo mundo uma vez na vida. Ainda segundo o estudo, que ouviu 24 mil pessoas de 24 países, quatro em cada cinco entrevistados se sentem pessoas melhores quando não estão sentindo dor.

As dores afetam o dia a dia das pessoas de diferentes maneiras. Há quem fique mais estressado, não consiga se concentrar no trabalho ou em outras atividades. Como vivemos uma rotina cada vez mais multitarefa, trabalhando, cuidando dos filhos, da casa e dela mesma, as dores não devem ser mais um obstáculo”, pondera a gerente médica da GSK Brasil, Dra. Ana Santoro.

No mundo, segundo a GSK, as dores musculares são as mais frequentes (95%), contemplando as dores nas costas (92%), dores na lombar (87%), no pescoço (86%) e nos ombros (83%). No entanto, falar sobre dores no Brasil ainda é um tabu para quatro em cada dez entrevistados e, para a metade deles, o assunto é algo muito pessoal, sendo difícil falar sobre o tema.

Acompanhe, a seguir, as características dos seis tipos de dor existentes.

1. DOR CRÔNICA

É definida como uma dor de longa duração (maior que três meses) em que há perda de sinais de proteção do organismo. “A dor crônica envolve não apenas a sensação dolorosa, mas a associação de fatores psicológicos e físicos, com alterações de humor, fadiga, sonolência, entre outras”, sinaliza o Dr. Parmigiani, do Hospital Edmundo Vasconcelos, acrescentando que a dor lombar é a principal causa de dor crônica. Contudo, pode acontecer em outros casos.

“Geralmente, decorre de sequelas vindas de tratamento cirúrgico, radioterapia, quimioterapia, pós-lesão medular, neuralgia pós-herpética e depois de Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, sintetiza o Dr. Corrêa, do Hospital 9 de Julho.

2. DOR AGUDA

É descrita com uma dor com duração de até três meses e funciona como um sinal de alerta contra algo estranho a que o corpo foi submetido. “É um sintoma de extrema importância para o diagnóstico de várias doenças, tendo como característica ser autolimitada e de forte intensidade”, aponta o reumatologista do Hospital Edmundo Vasconcelos.

Segundo explica o Dr. Corrêa, esse tipo de dor tem duração inferior a três meses. “Geralmente, envolve queimados, politraumatizados, trabalho de parto, pós-operatório, cólica renal e infarto do miocárdio”, descreve o médico.

3. DOR RECORRENTE

É definida como uma dor que apresenta períodos de melhora e agravamento, não sendo constante. “O paciente não tem sintomas entre as crises. Um exemplo são as dores de cabeça, como enxaquecas”, mostra o Dr. Parmigiani.

Segundo acrescenta o especialista do Hospital 9 de Julho, são frequentemente recidivas depois de algum tempo sem se manifestar. “Pode ocorrer, por exemplo, com a neuralgia do trigêmeo (que leva a dor facial leve a intensa), mesmo sem tratamento clínico ou cirúrgico, e pode, em 30% dos casos, recorrer após serem tratados com cirurgia”, esclarece.

4. DOR NOCIPECTIVA

É caracterizada pela presença de um estímulo doloroso em nociceptores, que são as terminações nervosas responsáveis pela percepção de estímulos agressivos, conforme explica o reumatologista do Hospital Edmundo Vasconcelos.

“Não há lesão do Sistema Nervoso Central (SNC), mas uma lesão tecidual. Pode ter origem em situações de pós-operatório ou osteoartrite, por exemplo”, indica.

O Dr. Corrêa acrescenta, ainda, que esse tipo de dor, na forma aguda, desempenha, geralmente, uma função biológica importante (preventiva), ao contrário da dor crônica, que perdeu essa função.

5. DOR NEUROPÁTICA

Acontece quando há uma disfunção ou lesão no sistema nervoso. “Decorre da lesão primária do SNC (encefálica ou medular), periférico (complexos nervosos, raízes e nervos) e neurovegetativo”, descreve o neurocirurgião. O Dr. Parmigiani acrescenta que esses casos são comuns entre pacientes com herpes zoster e no diabetes.

6. DOR MISTA

É uma mistura da dor de caráter nociceptiva com a dor neuropática. O especialista do Hospital Edmundo Vasconcelos relata que o exemplo mais comum é a dor oncológica e a lombociatalgia (dor nas costas com irradiação para as pernas).

Fonte: Guia da Farmácia
Foto: Shutterstock

Jogo do Atendimento

Edição 323 - 2019-10-10 Jogo do Atendimento

Essa matéria faz parte da Edição 323 da Revista Guia da Farmácia.