As turbulências do fim de ano

Pesquisa aponta que o estresse pode ser um momento passageiro, mas que deve ser acompanhado por especialistas

Não é apenas uma, mas várias pesquisas indicam que o fim de ano é o período de maior estresse entre os brasileiros. Segundo pesquisa da associação integrante da International Stress Management Association (ISMA), a ISMA-BR, entidade voltada para o estudo do estresse, 80% dos entrevistados afirmaram que a irritabilidade aumenta com a chegada das festas de fim de ano. Mas o que leva ao extremo da ansiedade?

O fim de ano é considerado uma época em que as pessoas apertam as agendas para cumprir todos os compromissos, divididos entre compras de presentes e ceia, detalhes da decoração natalina, últimos compromissos do trabalho, férias escolares e viagens da família.

Mas quando todos os compromissos se unem, a magia do Natal também abre margem para sintomas, como irritação, falta de paciência, dores de cabeça e cansaço no corpo. Tudo isso é fruto da rotina intensa e dos esforços para cumprir todas as obrigações antes da virada do ano.

Fitoterápicos como coadjuvantes da irritabilidade

Precisam de prescrição?

Os fitoterápicos são, como qualquer outro medicamento, indicados por médicos. Mas os farmacêuticos são habilitados a indicar aqueles isentos de prescrição médica.

Como atuam no organismo?

Sua ação se dá de forma semelhante às drogas sintéticas, mas é preciso que contenham aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), comprovando que esses medicamentos passaram por um controle de qualidade.

Benefícios: Como uma alternativa ao uso de ansiolíticos e antidepressivos, que podem causar efeitos colaterais e inclusive dependência, alguns especialistas orientam o uso de fitoterápicos, medicamentos produzidos a partir de plantas.

Alguns fitoterápicos usados em casos de estresse e ansiedade:

  • Melissa ou erva-cidreira: têm óleos que acalmam levemente.
  • Camomila: tem efeito calmante.
  • Passiflora: um tipo de maracujá que age como calmante em crises de ansiedade.
  • Valeriana: sua raiz tem propriedades que ajudam a melhorar o sono.

Existem efeitos colaterais?

Os fitoterápicos não são isentos de efeitos adversos. Em alguns tratamentos e em determinadas condições, podem apresentar riscos, como as drogas sintéticas e isoladas. No entanto, há uma tendência de que, para alguns tratamentos, o complexo fitoterápico ocasione menos efeitos adversos comparativamente.

Há interações medicamentosas?

Como qualquer outro medicamento ou substância com ação sobre o organismo humano, os fitoterápicos podem interferir e/ou ser influenciados por outras substâncias ativas. Portanto, existem, sim, interações medicamentosas entre fitoterápicos e outros fármacos, de forma que é recomendada a leitura da bula com atenção.

Fitoterápicos x homeopáticos x plantas medicinais.

Entenda as diferenças: As plantas medicinais ou drogas vegetais são espécies das quais se produzem os extratos padronizados que são os Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFAVs) dos fitoterápicos. Já os homeopáticos ou dinamizados são preparações que podem conter ingredientes vegetais, mas com princípio terapêutico diferente. O medicamento fitoterápico é considerado um medicamento alopático, como os sintéticos e isolados.

Fontes: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Ministério da Saúde (MS); Blog da Saúde; psiquiatra do Hospital Santa Cruz, Dr. André Shinji Nakamura; psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo, Rita Calegari; Associação integrante da International Stress Management Association (ISMA), a ISMA-BR; e Natulab

Para o psiquiatra do Hospital Santa Cruz, Dr. André Shinji Nakamura, esse também é o período em que as pessoas buscam fazer um balanço da vida ou do próprio ano. “Existe uma pressão social para que o fim de ano seja encarado como um período de festas e para que todos aproveitem o momento”, explica o médico.

Para os mais velhos, o cenário não é diferente. “Os idosos costumam se lembrar da perda de entes queridos e do isolamento social gerado por isso. Também levando em consideração que o idoso já não se sente tão produtivo, que há uma perda de sua independência para atividades até simples, é comum que queiram se isolar nesse período, para não dar trabalho para a família”, conta o Dr. Nakamura.

Depressão sazonal

O estresse de fim de ano também ajuda a provocar a chamada depressão sazonal, um termo utilizado pelos psicólogos para definirem a tristeza para essa época do ano.

É comum passar por momentos delicados durante o ano, fazer um balanço ou até mesmo uma retrospectiva do que aconteceu, seja algo bom ou ruim. Porém, algumas pessoas com perfil mais esmorecido tendem a encarar esse período sem ânimo ou bem desestimuladas.

Para a psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Rita Calegari, um caminho a ser percorrido é ser realista e comemorar pequenas conquistas ao estabelecer suas metas.

“Deve-se cuidar da saúde física e mental e ter bons hábitos, incluindo os de consumo consciente”, explica.  “Estabelecer metas, sendo realista e celebrando as pequenas vitórias, manter uma rede de apoio real e não contabilizar os seguidores, confundindo-os com amizade, e cultivar um propósito para sua existência podem ser parte de uma rotina em que o calendário não influencie negativamente na percepção de qualidade de vida”, esclarece a psicóloga.

Comemorações que geram angústias

Planejamento, metas não cumpridas, crise política, instabilidade econômica… Essas são umas das causas que geram maior estresse nos brasileiros nessa época do ano.


Mesmo sem estudos ainda registrados, o acréscimo de queixas sobre discussões políticas e econômicas nos consultórios de psicoterapeutas teve um nítido aumento. O Dr. Nakamura frisa que, nos Estados Unidos, uma pesquisa mostra que quase 70% das pessoas sentem-se muito estressadas com a situação política e econômica do país.

Igualmente, no Brasil, ficou claro que, em 2018, houve um aumento da polarização nas discussões políticas, potencializadas pelas redes sociais e que têm se tornado cada vez mais frequente.

“O resultado disso são discursos intolerantes, brigas nas mesas e nos grupos de família e separações. Soma-se a isso uma sensação de insegurança econômica sobre os rumos da sociedade, seja pelo desemprego, seja pela diminuição do poder aquisitivo. Diante de tudo isso, é compreensível entender por que há tanto estresse ligado à política”, explica o psiquiatra.

Foto: Shutterstock

Farmacêuticos 4.0

Edição 326 - 2020-01-01 Farmacêuticos 4.0

Essa matéria faz parte da Edição 326 da Revista Guia da Farmácia.