Atenção especial aos clientes idosos na farmácia

Hoje, 12,5% da população é constituída por pessoas com 60 anos de idade ou mais. Em 2050, essa porcentagem deve saltar para 29,4

No dia 1º de outubro, é celebrado o Dia Nacional do Idoso. O que se espera em datas como essas é que aumentem discussões que façam enaltecer a importância do envelhecimento pleno e respeitoso para essa fatia da população.

No Brasil, debates com esse enfoque tornam-se ainda mais urgentes, tendo em vista a realidade dos idosos por aqui. Os percalços na saúde pública e a baixa renda advinda da aposentadoria fazem com que boa parte dessas pessoas passe essa fase da vida com as dificuldades mais diversas.

O Brasil precisa de urgência nessas discussões. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje, o País tem 12,5% de pessoas com 60 anos de idade ou mais. Em 2030, essa porcentagem deve crescer para 18,6%; e, em 2050, projeta-se que essa fatia salte para 29,4%, totalizando 66,5 milhões de brasileiros.

Junto com o aumento do número de idosos, há também o crescimento exponencial da expectativa de vida. Ainda segundo dados do IBGE, em 1990, os brasileiros viviam, em média, até os 66 anos de idade. Em 2000, esse número passou para 69,8 anos; em 2017, para 76 anos; e, em 2050, as projeções indicam para uma média de 81 anos.

 HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO

Existe uma lacuna entre o benefício esperado dos medicamentos e o seu resultado terapêutico real, espaço que farmácias e farmacêuticos estão plenamente aptos a preencher.

“Os estabelecimentos farmacêuticos são favoráveis pela capilaridade e distribuição geográfica, e o farmacêutico, pela sua disponibilidade, muitas vezes, constitui a primeira oportunidade de acesso da população a um profissional de saúde”, analisa a farmacêutica e superintendente da Rede de Drogarias São Bento, Flávia Buainain Thomazi França.

No caso do público idoso, a atenção precisa ser ainda maior. Esse público requer mais paciência e acolhimento. “A primeira atitude que deve ser assumida no atendimento é ouvir o idoso. Eles são, em sua grande maioria, pessoas carentes, e o ‘ouvir’ se torna uma das fases mais importantes do processo do atendimento”, aponta a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.

Também podem fazer diferença chamá-los pelo nome e acomodá-los nas instalações de forma confortável. “É preciso que farmacêuticos e balconistas respeitem essa diversidade, conversem com esses clientes numa linguagem acessível, ouvindo suas dúvidas e orientando de forma cordial como devem seguir seu tratamento”, finaliza a coordenadora técnica e farmacêutica das Farmácias Pague Menos, Cristiane Macêdo Feijó.

As estimativas indicam que o Brasil precisa se preparar para essa realidade e as farmácias não fogem à regra. Segundo afirma o presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sergio Mena Barreto, 40% da população brasileira sofre de doenças crônicas, de acordo com o IBGE. Para agravar, 53% desse contingente não segue corretamente os procedimentos indicados pelos médicos.

“A proximidade das farmácias com a população e o sistema de saúde incapaz de atender a todas as demandas impõem, ao farmacêutico, o papel da prevenção e orientação de tratamentos, que ele é capaz de absorver. Além de um aliado da população, esse profissional exerce uma função estratégica de estreitar os vínculos entre o paciente e a classe médica, contribuindo para ampliar o acesso à saúde e desafogar a rede pública”, analisa o executivo.

               Orientação especial para casos recorrentes

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 40% da população adulta brasileira tem, ao menos, uma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT).

E muitas essas enfermidades, como diabetes e hipertensão, têm a proporção aumentada com o passar da idade. A obesidade também merece atenção especial. Afinal, o distúrbio interfere, diretamente, em problemas, como incapacidade do idoso, bem como redução da expectativa de vida. 

Orientações gerais de atendimento

• Realize campanhas de educação em saúde, com especial enfoque nos conceitos das doenças e suas características.

• Explique sobre a importância da adesão ao tratamento medicamentoso, bem como para mudanças necessárias no estilo de vida.

• Forneça informações detalhadas e compreensíveis sobre os eventuais efeitos adversos dos medicamentos prescritos e necessidades de ajustes posológicos junto ao médico.

• Orientações quanto à rotina de tomada dos medicamentos (com água, com ou sem alimento…) podem prevenir reações indesejáveis, facilitando a adesão.

•Quando possível, ofereça uma boa prestação de serviços, contemplando monitoramentoperiódico dos parâmetros bioquímicos e fisiológicos, e entregue ao paciente, ao fim do acompanhamento, um relatório que pode ser entregue ao médico.

• Lembre-se de que as intervenções farmacêuticas devem ser documentadas.

Hipertensão

• Nesses casos, as orientações fornecidas podem estar voltadas para o estímulo de mudanças de hábito, como prática de exercícios físicos e controle da dieta com redução de sódio e hidratação.

• Alerte os pacientes que alguns anti-hipertensivos podem levar alguns dias para manutenção e equilíbrio dos efeitos terapêuticos. Por isso, nunca se deve deixá-los de tomar.

• Os farmacêuticos podem, ainda, realizar um acompanhamento de tratamento medicamentoso e monitorização do paciente com hipertensão arterial por meio da aferição de pressão arterial.

• É igualmente importante alertá-los sobre a importância dos horários de tomadas, sendo que alguns medicamentos, como os Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECAS), por exemplo, podem ter alteração dos efeitos se tomados muito próximos às refeições.

Obesidade

• O atendimento clínico ao obeso deve ser direcionado para a monitorização de parâmetros fisiológicos, como aferição de pressão arterial, medição de glicemia e o acompanhamento de seu estilo de vida e rotina alimentar.

• Alerte os pacientes sobre os riscos de uso de substâncias sem a devida comprovação científica e sem prescrição médica para fins de obesidade.

• Caso o paciente faça uso de anorexígenos ou sibutramina, deve-se adverti-los a não ingerir bebidas alcoólicas nos horários próximos, pois os efeitos podem ser devastadores. Avise-os, ainda, que o uso concomitante de sibutramina e antidepressivos (principalmente os inibidores de receptação de serotonina), podem trazer danos importantes.

• Para a adoção de hábitos alimentares saudáveis, aconselhe-os a procurar um nutricionista. Vale, ainda, estimulá-los à prática de atividades físicas.

• Mostre a melhor forma de fazer uso seguro de vitaminas, minerais, produtos naturais ou suplementos que podem contribuir com a gestão do peso.

• Em encontros periódicos, o paciente poderá discutir com o farmacêutico seu progresso e dificuldades, podendo fazer ajustes nos seus hábitos e condutas.

• O farmacêutico pode realizar uma avaliação corporal no paciente, a fim de conhecer altura, peso, índice de massa corporal, circunferência abdominal, pressão arterial, frequência cardíaca,

percentual de massa muscular (massa magra) e gordura corporal (massa gorda).

Diabetes

• O farmacêutico pode atuar, de forma ativa, com atendimento direcionado para a prevenção, a detecção precoce, o acompanhamento de tratamento medicamentoso e a monitorização do paciente diabético por meio da medição da glicemia.

• Vale orientá-los para o estímulo de mudanças de hábito, como prática de exercícios físicos e controle da dieta, hidratação e cumprimento dos horários de tomada dos hipoglicemiantes orais ou insulina.

• Aliás, caso o paciente utilize insulinas, é importante orientálo quanto às graduações nas seringas e nos dispositivos, bem como sobre a forma ideal de aplicação.

• Deve-se ter atenção especial com antidiabéticos orais e seus horários específicos (alguns são tomados após o desjejum).

• É igualmente válido ensiná-los a ter, sempre em mãos, um bombom ou uma bala para casos de hipoglicemia.

• Pode-se, ainda, aconselhá-los a buscar orientação com um nutricionista quanto aos hábitos saudáveis de alimentação.

Foto: Shutterstock

As farmácias na adesão ao tratamento

Edição 298 - 2017-09-01 As farmácias na adesão ao tratamento

Essa matéria faz parte da Edição 298 da Revista Guia da Farmácia.

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