Azia e má digestão são reflexos do exagero na alimentação

Dietas ricas em gorduras, frituras, refrigerantes e álcool são alguns dos motivos que levam a desarranjos estomacais, principalmente em épocas de festividades

Nem sempre, depois de uma boa refeição, a sensação seguinte é tão boa quanto o sabor que ela trouxe. Quando o cardápio escolhido é recheado de gorduras ou condimentos marcantes, é natural que se inicie uma sensação de desconforto, caracterizada por sintomas como azia e má digestão. Segundo explica o gastroenterologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, Dr. Henrique Perobelli Schleinstein, esses problemas fazem parte de um espectro de doenças conhecidas como dispepsia, que tem como causas principais a esofagite, a gastrite e a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). Aliás, os sintomas dispépticos, que englobam esse tipo de sensação, chegam a acometer, ao menos, 70% dos brasileiros de forma eventual, segundo dados da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). “A azia, geralmente, é causada pelo refluxo do conteúdo ácido presente no estômago para o esôfago, levando à sensação de queimação na região abaixo do peito. Essa queimação se dá pela diminuição do tônus do músculo que controla a passagem de comida ou por substâncias que irritam o estômago como álcool, café, comidas apimentadas etc.”, descreve a gerente médica da GSK Consumer Heathcare no Brasil, Dra. Ana Santoro. Já a má digestão está mais relacionada a um desconforto no estômago. “Este problema é mais amplo e compila sintomas de náuseas, distensão abdominal, cólicas, sensação de estômago cheio e regurgitação alimentar”, esclarece o Dr. Schleinstein.

Apesar de todo desconforto, a dispepsia costuma ocorrer por situações benignas na qual a investigação endoscópica mostra mucosa gastroduodenal normal ou com lesões mínimas (gastrite); o surgimento do problema parece ser multicausal. “Os sintomas costumam estar relacionados com os excessos na alimentação, no consumo de bebidas alcoólicas e com o estresse, ou com causas psicológicas como ansiedade, depressão etc.”, constata o superintendente de assuntos regulatórios da Natulab, Olavo Rodrigues.

Entenda algumas das causas dos problemas gástricos

Esofagite ou esofagite erosiva: é a inflamação do esôfago, tubo que liga a boca ao estômago. Os sintomas mais comuns são dificuldade para engolir, dor no peito, náuseas, vômito, dor abdominal, tosse e perda de apetite. Em alguns casos, os pacientes também percebem que os alimentos ingeridos ficam presos no esôfago, não completando o caminho até o estômago como deveriam.
Gastrite: problema muito comum em boa parte da população, a gastrite causa sensação de queimação no estômago, azia e inchaço na região abdominal. Isso acontece porque o estômago perde a proteção das mucosas. Assim, ao ingerir um alimento mais ácido, suas paredes ficam mais irritadas e feridas. Normalmente, a doença surge devido a fatores externos como má alimentação, ingestão de bebidas alcoólicas em excesso, estresse, tabagismo e até mesmo devido ao uso excessivo ou indiscriminado de medicamentos.

Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): azia, rouquidão ou tosse frequente, mas sem produção de catarro ou febre, pode indicar, entre as possibilidades, o refluxo. Em alguns casos, o problema pode acontecer por conta da hérnia de hiato, alteração anatômica que faz com que o estômago suba pelo diafragma, músculo essencial para a respiração, que separa a cavidade torácica da abdominal, até o esôfago.

Fonte: Blog do Nove, do Hospital 9 de Julho

Entretanto, apesar de serem problemas diferentes, azia e má digestão podem estar interligadas, porque a gênese dos problemas é a mesma. “Comer muito rápido, sem mastigar bem os alimentos; ingerir líquidos em demasia; e exagerar nas frituras e gorduras são as causas mais comuns e mútuas dessas patologias”, sinaliza o Dr. Schleinstein. E para todos esses males, há uma fatia da população mais suscetível. “Idosos, obesos e gestantes estão mais propensos a ter azia e má digestão, pois esse grupo de pessoas apresenta uma digestão mais lenta”, alerta a gerente médica da Aspen Pharma, Dra. Sandra Bandeira.

As mulheres ainda são mais acometidas do que os homens. “Além disso, fumantes, adultos entre 40 e 50 anos e pessoas que fazem uso de alguns anti-inflamatórios também estão propensos a estes problemas”, acrescenta a Dra. Ana, da GSK.

Os vilões das festas

Apesar de poderem acontecer em quaisquer épocas do ano, períodos de festividades costumam trazer mais riscos para o surgimento de azia e má digestão. O excesso de bebidas alcoólicas, petiscos e alimentos de difícil digestão (como frituras ou carnes com mais gordura) pode trazer um grande desconforto. Portanto vale um alerta aos consumidores, especialmente neste período do ano em que está acontecendo a Copa do Mundo, que costuma trazer, além de ansiedade, reuniões regadas com esse tipo de cardápio: “Nervosismo, ansiedade, tabagismo, comida em excesso, comer rápido, alimentação rica em gorduras e proteínas e consumo elevado de bebidas alcoólicas são desencadeadores de dispepsia funcional ou má digestão”, adverte Rodrigues, da Natulab.

A nutricionista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Marisa Resende Coutinho, acrescenta, ainda, que nessas épocas as pessoas costumam cometer exageros na alimentação. “Aumenta-se o consumo de alimentos gordurosos, fritos, e come-se em quantidades maiores que as normalmente consumidas”, adverte.

Formas de tratamento

PARA SINTOMAS DE DOR E QUEIMAÇÃO: os medicamentos normalmente utilizados nesses casos são inibidores da bomba ácida como o omeprazol, anti-histamínicos H2 como a ranitidina e antiácidos como o hidróxido de alumínio, magnésio ou a combinação de ambos, que ajudam a diminuir a acidez estomacal, aliviando os sintomas.

PARA SENSAÇÃO DE ENCHIMENTO E TRÂNSITO LENTO: nesses casos, são usados os medicamentos procinéticos como ondasentrona, metoclopramida e bromoprida. Eles agem inibindo náuseas, vômito e acelerando o esvaziamento gástrico, pois apresentam a capacidade de estimular, coordenar e restaurar a motilidade gástrica.

APRESENTAÇÕES DE ANTIÁCIDOS E DIGESTIVOS

Pós efervescentes e líquidos: tendem a atuar mais rápido do que as pastilhas e tabletes, uma vez que o princípio ativo já está solubilizado e pronto para agir.

Pastilhas e tabletes: precisam se dissolver no estômago para começar a ação, podendo levar um pouco mais de tempo. Podem ser úteis para mascarar algum sabor que possa ser inconveniente na formulação líquida.

ATENÇÃO À SAZONALIDADE: é fundamental que as farmácias estejam sempre abastecidas com medicamentos para indisposição gástrica, especialmente em épocas em que há picos de incidência, a exemplo da Copa do Mundo. Em momentos de festas, geralmente, há um aumento no consumo de medicamentos que tratam a azia e a má digestão. Afinal, as pessoas tendem a ceder a algumas tentações e, consequentemente, a ingerir alimentos que podem não cair bem no estômago.

Fontes: gerente médica da Aspen Pharma, Dra. Sandra Bandeira; gerente médica da GSK Consumer Heathcare no Brasil, Dra. Ana Santoro; e superintendente de assuntos regulatórios da Natulab, Olavo Rodrigues

Isso significa que se deve ter cuidado redobrado com a quantidade e qualidade do cardápio das festas, já que os alimentos interferem de forma fundamental na produção de substâncias e nas alterações da motilidade gástrica. As frituras e alimentos gordurosos, como carnes vermelhas, atrasam o esvaziamento gástrico. As bebidas também merecem atenção especial, com destaque para as alcoólicas ou com gases. “Deve-se evitar grandes quantidades de refrigerantes ou cervejas e sempre respeitar os sinais que o organismo dá em relação à saciedade”, alerta a assessoria de imprensa de Estomazil.

Segundo explica Marisa, a ingestão de álcool estimula o ácido gástrico, aumentando a secreção ácida. Já os refrigerantes à base de cola diminuem a pressão sob o esfíncter esofagiano inferior, levando a episódios de refluxo gastroesofágico. Ela também faz um alerta para os condimentos usados na alimentação: aqueles considerados muito picantes aumentam a secreção gástrica e ocasionam irritações constantes na mucosa. “A pimenta vermelha e a páprica contêm uma substância irritante da mucosa, chamada capsaicina, que eleva a secreção ácida e a perda de potássio; a pimenta preta causa irritação gástrica, elevando as secreções ácidas e a dispepsia; e a pimenta chilli e mostarda causam eritema e lesão gástrica”, exemplifica, acrescentando que os caldos de carnes também são excitantes da mucosa gastrointestinal.

Saúde gástrica em risco

Pelo menos 7% de todas as visitas ao médico em ambulatório estão relacionadas a eventos de dispepsia1.

Cerca de 70% da população terá um evento de dispepsia ou má digestão no intervalo de um ano1.

Estima-se que exista uma incidência de, aproximadamente, 10% da população brasileira adulta para a dispepsia funcional (aquela em que não há doença pré-existente). Entretanto estudos internacionais mostram que este número atinge até 30%1.

Cerca de 70% da população terá um evento de dispepsia ou má digestão no intervalo de um ano1.

Dados de pesquisas internas realizadas pela GSK apontam que, aproximadamente, 38 milhões de pessoas sofrem de azia, totalizando, 24,4% da população com mais de 18 anos2.

Fontes: 1. superintendente de assuntos regulatórios da Natulab, Olavo Rodrigues; 2. gerente de Produto ENO, Débora Kawa Levacov, com base no Estudo U&A, IBOPE 2015

Foto: Shutterstock

Sazonalidade a favor do varejo

Edição 308 - 2018-07-01 Sazonalidade a favor do varejo

Essa matéria faz parte da Edição 308 da Revista Guia da Farmácia.