Brasil tem 12,5 milhões de diabéticos

Parte da população não se atenta aos riscos da doença e desconhece ser portadora, o que faz com que ela cresça a índices alarmantes

O diabetes é uma doença crônica, sem cura, que atinge 425 milhões de pessoas ao redor do mundo. Quando não tratada adequadamente, pode resultar em graves complicações, como amputações, insuficiência renal e cegueira, e até levar à morte. Ainda assim, a população mostra muito mais preocupação com outras enfermidades graves, mas bem menos incidentes – como a AIDS, a tuberculose e o câncer de mama –, e acaba por negligenciar cuidados básicos que ajudariam a prevenir o seu surgimento.

Alimentação balanceada, prática de exercícios e check-up médico periódico já seriam suficientes para reduzir drasticamente o aparecimento de novos casos no Brasil. No entanto o número de acometidos é preocupante e segue aumentando. De acordo com dados do Atlas International Diabetes Federation (IDF) 2017, existem 12,5 milhões de portadores de diabetes no Brasil, o que coloca o País como o 4º no mundo com maior quantidade de acometidos.

Em uma análise geral, é possível afirmar que cerca de  8% a 9% da população brasileira possui diabetes. O percentual já é expressivo, mas torna-se ainda maior entre a terceira idade. Estima-se que entre 19% e 25% das pessoas com mais de 65 anos convivam com a doença. Nesta faixa etária, o Brasil é o 5º país com maior número de diabéticos. “São dados bastante significativos e, se formos englobar a quantidade de pré-diabéticos, que também são indivíduos já doentes, essa quantidade mais do que duplica”, alerta o coordenador de comunicação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Dr. Fernando Valente.

Mitos e verdades sobre o diabetes

Diabetes não é uma doença tão séria.

Mito: de acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, as condições associadas ao diabetes causam mais mortes do que o câncer de mama e a AIDS juntos. Duas em cada três pessoas com diabetes morrem em função de problemas cardiovasculares ou derrame.

Se você está acima do peso ou obeso, um dia vai desenvolver diabetes tipo 2.

Mito: estar acima do peso é, sim, um fator de risco para o diabetes tipo 2, mas há outros, como a história familiar e a idade. Sobrepeso não é o único fator.

É muito fácil saber se você tem diabetes, os sinais são claros.

Mito: o diabetes não tem sintomas claros. Algumas pessoas com pré-diabetes, por exemplo, podem apresentar sinais mais aparentes do que uma pessoa com diabetes. As complicações também não são iguais para todas as pessoas. É importante realizar exames de rotina, saber quais são os fatores de risco e buscar o diagnóstico correto.

Comer muito açúcar causa diabetes.

Depende: a resposta não é tão simples. O diabetes tipo 1 é causado por fatores genéticos, entre outras causas ainda desconhecidas. O diabetes tipo 2 é causado por fatores genéticos e estilo de vida.
Estar acima do peso contribui para o risco de desenvolvimento do tipo 2, e uma dieta hipercalórica, não importando a fonte das calorias, favorece o ganho dos “quilos a mais”. Ou seja, é preciso ter cuidado com qualquer alimento muito calórico ou gorduroso, não somente doces.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)

Apesar de ser mais prevalente com o avançar da idade, o diabetes pode afetar indivíduos de qualquer faixa etária, classe social ou raça. Ainda assim, de acordo com o Dr. Valente, é possível traçar um perfil médio do paciente: “Tem mais de 40 anos; peso corporal elevado, principalmente com excesso de depósito de gordura no abdômen; possui histórico familiar de diabetes; tem uma má alimentação; é sedentário e fumante”, descreve.

Obstáculos e desafios

Todos os anos no Brasil, cerca de 72 mil pessoas morrem por complicações decorrentes do diabetes – 44,9% dessas mortes acontecem em pessoas com menos de 60 anos de idade. O número alto pode ser explicado por diversos fatores, entre eles o desconhecimento em relação à patologia. A SBD estima que quase metade dos brasileiros – 40% – não sabe que é acometida pela doença porque, geralmente, ela se instala de maneira silenciosa. “Para a pessoa apresentar sintomas de diabetes, os níveis de glicose precisam estar em torno de 300 ou mais. No entanto os indivíduos que têm taxas acima de 100 e abaixo de 300 já estão com alterações, mas não sentem nada e pensam que estão bem de saúde”, conta o endocrinologista e diretor do Centro de Diabetes Curitiba, Dr. André Viana. “Podem passar anos com a glicemia alterada sem saber e isso vai lesionando os órgãos e causando as complicações crônicas do diabetes. Ao longo do tempo, a pessoa pode desenvolver cegueira, insuficiência renal, ter um risco aumentado de infarto e de acidente vascular cerebral (AVC)”, alerta.

Ainda que haja tanto desconhecimento em torno da doença, a cada três segundos uma pessoa no mundo descobre que tem diabetes. Mas receber o diagnóstico nem sempre significa adesão ao tratamento. “O diabetes é uma doença crônica. Não é algo que você faz um tratamento e se cura. Isso já é o começo de toda dificuldade. A pessoa tem que manter um tratamento medicamentoso por um período longo, na maioria das vezes, para o resto da vida. Isso já é uma barreira e faz com que as pessoas, ao longo da vida, tenham idas e vindas em relação ao tratamento”, avalia o Dr. Viana.

Outro fator complicador é que o tratamento, muitas vezes, não é só medicamentoso. Exige mudanças de estilo de vida, como a adoção de uma alimentação balanceada e de uma rotina regular de atividades físicas. “Ajustar o seu dia a dia com o uso de medicamentos, deixar de ter uma vida sedentária e mudar hábitos alimentares não é algo que altera somente o estilo de vida do paciente. Muitas vezes, é preciso mudar a rotina de uma família inteira quando há um diagnóstico de diabetes”, ressalta a diretora da ADJ Diabetes Brasil, Dra. Denise Franco.

Diferenças entre diabetes tipo 1 e 2

Diabetes é uma doença crônica caracterizada pela elevação da glicose no sangue e que pode ser dividida em dois tipos:

Tipo 1: é uma doença autoimune em que ocorre a destruição das células que produzem a insulina, ou seja, o pâncreas para de produzir o hormônio. Por ser autoimune, pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente na infância ou adolescência. Como o organismo não produz a insulina, os diabéticos tipo 1 precisam injetá-la todos os dias como tratamento. Os sintomas comuns são: sede, emagrecimento importante, vontade frequente de urinar, cansaço e fraqueza.

Tipo 2: neste caso, o pâncreas continua produzindo a insulina, mas fica resistente à ela. Como a insulina não age, o pâncreas entende que precisa produzir mais. Ao contrário do diabetes tipo 1, o tipo 2 é mais frequente em adultos após os 40 anos, porém, com o alto consumo de gordura e carboidrato, aliado à falta de atividade física, nota-se o aumento de casos em adultos jovens e crianças. A obesidade está diretamente ligada à resistência à insulina.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)

Segundo pesquisa inédita realizada pela Minds4 Health, a pedido da Sanofi, o brasileiro aponta que a principal barreira no tratamento adequado do diabetes é a dieta restritiva (60,8%), atrelada ao preço dos alimentos (21,7%). O custo dos medicamentos vem em terceiro lugar (5,7%). “Hoje, temos disponível na rede pública apenas dois medicamentos orais, sendo que já existem diversas terapias para tratar o diabetes. Infelizmente, esses medicamentos acabam tendo um preço que é difícil para o diabético pagar, tendo em vista que 80% dos pacientes com diabetes tipo 2 têm outras comorbidades. Ou seja, precisam fazer uso de diversos medicamentos”, destaca o Dr. Valente.

Além do difícil acesso ao tratamento medicamentoso, a doença pode ser agravada pela falta de informação e pela resistência do paciente ao tratamento. De acordo com a pesquisa, 1/3 dos diabéticos não faz exercícios físicos e 13% não vão ao médico regularmente. A principal justificativa para não fazer acompanhamento é acreditar que, por já estar tomando medicamentos orais ou insulina, não precisa mais voltar ao médico (17%). “Tudo vem de conhecimento e educação. Quando você tem informação, em primeiro lugar, você se previne. E mesmo quando não consegue se prevenir, vai ter atitudes mais positivas em relação à doença. Uma pessoa que tem mais conhecimento e educação vai se alimentar melhor, vai se exercitar mais, usar os medicamentos com mais propriedade, entendendo a importância do tratamento”, afirma o Dr. Viana.

Foto: Shutterstock

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Edição 312 - 2018-11-01 Aceita app?

Essa matéria faz parte da Edição 312 da Revista Guia da Farmácia.