Capacidade visual

A saúde ocular nem sempre é prioridade entre a população brasileira. Algumas alterações graves podem apresentar-se inicialmente assintomáticas

As doenças da visão podem aparecer em qualquer momento da vida, desde o nascimento à terceira idade. Assim como o corpo, o olho também envelhece e, por isso, é necessário conhecer os problemas que mais atingem a população.

De acordo com a publicação de 2013 Diretrizes de Atenção à Saúde Ocular na Infância: detecção e intervenção precoce para a prevenção de deficiências visuais do Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que existem aproximadamente 1,4 milhão de crianças com deficiência visual no mundo, sendo que cerca de 90% vivem em países em desenvolvimento ou muito pobres.

A cada ano, aproximadamente, 500 mil crianças ficam cegas e em torno de 60% morrem na infância. Cerca de 80% das causas de cegueira infantil são preveníveis ou tratáveis.

Especialistas informam que é importante que os pais fiquem atentos desde a infância; já nos primeiros anos de vida, é possível notar se existe algum problema visual, em especial, quando as crianças apresentam baixo aproveitamento na escola. Elas devem fazer a avaliação da acuidade visual anualmente, principalmente até os sete anos de idade, período em que o processo de desenvolvimento da visão está se completando.

Já os adultos devem passar por acompanhamento médico com maior regularidade. Se possível, anualmente, principalmente após os 40 anos de idade, fase em que algumas doenças oculares têm uma maior prevalência.

De acordo com os dados fornecidos pelo oftalmologista da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, especialista em retina e vítreo pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos) e atual presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), Dr. André Gomes, segundo o Censo 2010, 45,6 milhões de brasileiros declararam ter algum tipo de deficiência física ou mental. O número representa 23,9% da população do País. A deficiência visual foi a que mais apareceu entre as respostas e chegou a 35,7 milhões de pessoas. Pelo estudo, 18,8% dos entrevistados afirmaram ter dificuldade para enxergar, mesmo com óculos ou lentes de contato.

“Os sinais do tempo podem ser detectados por meio da presença da presbiopia, chamada também de vista cansada. A catarata é a mais comum entre as condições do envelhecimento, acometendo pessoas especialmente após os 50 anos de idade, com influência da exposição solar. Outra patologia comum é a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), como o próprio nome diz, também está relacionada ao envelhecimento dos olhos. Com o aumento da expectativa de vida, a tendência é termos mais incidência dessas doenças”, informa a oftalmologista consultada pela Alcon, Dra. Samantha de Albuquerque.

Diagnóstico preciso

A oftalmologista e gerente médica da Johnson & Johnson Vision Care, Dra. Wânia Freire, informa como diferenciar as principais doenças que atingem e preocupam os pacientes:

• Catarata: opacificação do cristalino, lente natural do olho. Tem diversas causas, podendo ser congênita ou adquirida. Mais frequentemente relacionada ao processo natural de envelhecimento do olho.

• Síndrome do olho seco: é bastante complexa e pode ter várias causas, separadas basicamente em dois grandes grupos: diminuição da produção e excesso de evaporação. A produção das lágrimas pode ser influenciada por diversos elementos, como a poluição, os hormônios e traumas.

Mulheres que fazem uso de contraceptivos orais ou aquelas que estão na menopausa, pessoas com doença autoimune ou que utilizam certos fármacos, como antidepressivos, anti-histamínicos, diuréticos, tranquilizantes, entre outros, são mais susceptíveis a sofrer dessa síndrome.

Fatores ambientais podem influenciar na causa evaporativa. Indivíduos que trabalham com computador em ambientes com ar condicionado são comumente acometidos por essa afecção, assim como crianças que passam muito tempo na frente de video games. Os sintomas clínicos são relativamente leves, como irritação, coceira, queimação, fotofobia, hiperemia, visão borrada – que melhora após piscar – e lacrimejamento em excesso. Este quadro normalmente piora após longos períodos em frente à TV ou com a leitura, bem como em ambientes de baixa umidade.

• Miopia: é uma ametropia ou erro de refração que afeta principalmente a visão a distância. Nela, a imagem é focada à frente da retina porque o globo ocular é grande ou porque a convergência das lentes naturais do olho (córnea e cristalino) é muito grande.

• Hipermetropia: outro tipo de ametropia que provoca, principalmente, uma dificuldade de visão para perto. A imagem, nesse caso, é focada atrás da retina quando, em um olho normal, deveria ser focada na retina.

• Alergias: estão entre as inflamações mais comuns e corriqueiras, pois podem acometer qualquer pessoa que se exponha a algum alergênico. Poeira e pólen são os mais conhecidos, porém devem-se apontar produtos com os quais o paciente tem contato em casa como potenciais gatilhos de alergias, como o cloro usado na piscina, pelo de animais, principalmente se estes entram no quarto ou dormem na cama, e alimentos específicos, principalmente os corantes.

Os sintomas da alergia ocular são semelhantes com os da conjuntivite: olhos vermelhos, pálpebras inchadas, lacrimejamento e secreção mucosa. Mas, no caso da conjuntivite alérgica, destacam-se o prurido ocular e o histórico de alergias.

O tratamento mais importante é o afastamento do causador da alergia e, na fase inicial, é indicado o uso de compressas geladas várias vezes ao dia para diminuir o inchaço das pálpebras de forma eficiente. O uso de colírios antialérgicos por um período prolongado, não só para tratar a crise aguda, mas também para evitar novas recidivas, é uma das formas de terapia medicamentosa.

Já nos casos de crises severas ou crônicas, a inclusão de colírios de natureza esteroide pode ser usada para interromper o processo inflamatório e, assim, aliviar os sintomas.

Astigmatismo: quando a superfície do olho (a córnea) ou o cristalino atrás dele apresentam maior curvatura em um eixo, esta irregularidade pode gerar o astigmatismo. Em vez de ser redondo, o globo ocular tem um formato ovalado. Dessa forma, os raios de luz não chegam ao mesmo ponto na retina e são direcionados em várias direções, o que faz com que a imagem levada ao cérebro se torne deformada, distorcida ou desfocada.

• Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI): é caracterizada por alterações na mácula, região da retina responsável pela visão de detalhes. É uma doença que se caracteriza por perda visual significativa e, em geral, acomete pessoas acima dos 50 anos e se apresenta de duas formas basicamente: a DMRI atrófica (seca), mais frequente e a DMRI exsudativa (úmida).

• Retinopatia da prematuridade: é uma doença que aparece nos bebês que nascem prematuros e com o desenvolvimento incompleto dos vasos da retina. Esse desenvolvimento fora do útero pode acontecer de forma anormal, destruindo a estrutura da retina e levando à cegueira.

Quanto menores o período de gestação e o peso ao nascimento, pode ocorrer um maior risco de aparecimento da doença e potencializar sua gravidade. É importante que essas crianças sejam acompanhadas por um oftalmologista durante os períodos de risco, até o momento em que o perigo praticamente desapareça.

• Glaucoma: é uma doença definida pelo dano progressivo ao nervo óptico, frequentemente associado ao aumento da pressão intraocular, mas nem sempre. Na maioria dos casos, não há dor e o paciente com glaucoma, muitas vezes, nem percebe que está perdendo de forma gradativa e irreversível a visão. O diagnóstico precoce pode preservá-la e um exame oftalmológico anual para todas as pessoas é muito importante, principalmente para indivíduos com histórico familiar.

• Retinopatia Diabética: o diabetes é uma doença complexa e progressiva que afeta os vasos sanguíneos de todo o corpo, inclusive do olho, provocando hemorragias e exsudação (vazamentos) que podem levar a uma perda visual severa e irreversível. Por esse motivo, é importante que o paciente diabético faça o acompanhamento com um oftalmologista, de preferência com exames anuais de Mapeamento de Retina.

• Estrabismo: é um tipo de alteração ocular quando os olhos não estão paralelos e se voltam para direções diferentes. O desvio dos olhos pode ser constante e sempre percebido, assim como podem ocorrer períodos normais e outros com olhos desviados.

São seis pares de músculos extraoculares, presos do lado de fora de cada globo ocular, que controlam os movimentos dos olhos. Para alinhar e focalizar um ponto, por exemplo, todos os músculos oculares devem estar num equilíbrio perfeito de forças. O estrabismo é mais comum em crianças, mas também atinge adultos, homens e mulheres, de forma equivalente.

 

Tempos modernos


Assistir à televisão de perto e ficar muito tempo em frente ao computador podem causar cansaço ocular. Algumas queixas, como ardor, lacrimejamento, ressecamento, hiperemia e embaçamento, podem ser apresentadas. Ocorre uma diminuição do movimento do piscar e a má lubrificação do olho, podendo ainda estar associado à presbiopia (dificuldade para enxergar de perto devido à idade), fatores ambientais (poluição, ar condicionado), agravando os sintomas citados.

A Computer Vision Syndrome (CVS), ou Síndrome da Visão do Computador, pode afetar qualquer pessoa que, com muita frequência, passa mais de duas horas diante do PC, sem pausa, gerando o ressecamento dos olhos, miopia transitória, etc.

Algumas mudanças em relação aos monitores e TVs podem ajudar o paciente que apresenta alguma dificuldade na visão.

Saiba como orientar:

• Posicionar os eletrônicos abaixo da altura dos olhos, pois ao dirigir o olhar para baixo, o movimento das pálpebras diminui a exposição dos olhos, evitando, assim, a maior evaporação da lágrima.

• Programar intervalos regulares no uso do computador.

• Colocar algum objeto que chame a atenção na lateral do monitor para desviar o olhar da tela.

• Manter o ambiente bem iluminado, porém evite reflexos de janelas na tela.

• Deixar o monitor a uma distância de 50 a 65 centímetros dos olhos.

• Piscar com frequência, mesmo que voluntariamente, para lubrificar os olhos.

Fontes: tecnóloga em oftalmologia e coordenadora de treinamentos de Vision Care da Bausch + Lomb, Viviane Nishida; oftalmologista e gerente médica da Johnson & Johnson Vision Care, Dra. Wânia Freire; e o oftalmologista consultado pela Allergan, Dr. Luiz Adolfo Elia

 

Os tipos mais conhecidos de estrabismo são:

• Esotrópico: quando um ou ambos os olhos desviam para dentro;

• Exotrópico: quando um ou ambos os olhos desviam para fora (o paciente olha para longe ou em situações de desatenção e cansaço). Nos adultos, o estrabismo pode ter alguns fatores envolvidos, como o caráter familiar, por exemplo. Outras causas também devem ser estudadas, como doenças neurológicas, tumores cerebrais, diabetes, doenças de tiroide e acidentes.

Medidas preventivas

Uma alimentação adequada e uma vida saudável são tão importantes para a saúde de um modo geral, quanto para a saúde ocular. No caso de reposição de vitaminas, uma solução muito usual é a utilização de suplementos vitamínicos. Porém, o aproveitamento de seus benefícios é bem melhor quando utilizado junto com outros alimentos. Os suplementos são indicados em casos específicos em que a dieta não é suficiente para essas vitaminas.

Segundo o oftalmologista consultado pela Allergan, Dr. Luiz Adolfo Elia, existem quatro grupos principais de nutrientes que são considerados bons para a saúde dos olhos:

• Vitaminas antioxidantes: as vitaminas A, C e E contêm antioxidantes que ajudam a manter as células e os tecidos saudáveis nos olhos, ajudando assim a retardar a progressão da DMRI. A vitamina C também é considerada na redução do risco de desenvolvimento da catarata.

• Luteína e zeaxantina: muitos estudos mostraram que esses nutrientes antioxidantes, chamados carotenoides, reduzem o risco e retardam a progressão das doenças crônicas dos olhos, como a DMRI.

• Ômega-3: considera-se que este ácido graxo essencial desempenhe uma função importante no desenvolvimento visual dos bebês e crianças. Uma dieta pobre em ômega-3 foi associada com doenças nos olhos e DMRI. A síndrome do olho seco, uma condição que afeta a função de produção de lágrimas de seus olhos, também foi ligada à deficiência do ômega-3.

• Minerais: os minerais, zinco e cobre, ajudam o corpo a absorver os nutrientes e as vitaminas. 

Autor:  Tassia Rocha 

 

 

 

Economia e o varejo

Edição 270 - 2015-05-01 Economia e o varejo

Essa matéria faz parte da Edição 270 da Revista Guia da Farmácia.

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