Presente no cotidiano de praticamente todas as pessoas ao menos uma vez na vida, a cefaleia, também conhecida por dor de cabeça, causa bastante desconforto, seja em um episódio isolado ou quando se torna crônica. Mas saber qual tipo de dor acomete uma pessoa pode não ser tão simples assim.
Existem mais de 150 tipos de cefaleias, que podem ser agrupadas em primárias ou secundárias. De acordo com o neurologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, Dr. Sandro Luiz de Andrade Matas, as secundárias são aquelas que não dependem de fenômenos externos, como, por exemplo, traumatismos cranianos, meningites, tumores cerebrais, disfunção da articulação temporomandibular (ATM), doenças sistêmicas, entre outros fenômenos. As primárias são basicamente: enxaqueca, cefaleia tensional e cefaleia em salvas.
Incidência frequente
Entre os quatro principais tipos, a mais comum é a enxaqueca, também chamada de migrânea. É uma doença mais frequente em mulheres, caracterizada por dor em latejamento ou pulsátil, de intensidade variável (muitas vezes leves, mas algumas crises necessitam de internação para analgesia), acompanhada de náuseas, vômitos, fonofobia (aversão a barulhos e sons altos), fotofobia (aversão à luminosidade), sensação de tontura e zumbidos. Algumas vezes, podem ocorrer sintomas de dez a 15 minutos antes da dor. Na maioria das vezes, são sintomas visuais, com manchas escuras ou cintilantes coloridas, mas podem se manifestar como “formigamentos” na face, nas mãos etc.
Incômodo constante
“A cefaleia tensional é uma dor mais contínua, em aperto, localizada nas regiões occipital (parte posterior do crânio) e temporal, bilateralmente. Não há fono nem fotofobia, náuseas ou vômitos. A duração da dor é mais prolongada, geralmente menos intensa, pior no final do dia”, explica o médico.
Ocorrência pontual
A cefaleia em salvas é rara, ocorrendo em surtos rápidos de dor lancinante (por pontadas, picadas, fisgadas internas), geralmente retro-ocular, unilateralmente, (alguns pacientes relatam que a dor é semelhante a um espeto em brasa atrás do globo ocular), com várias crises de 20 a 30 segundos por 30 a 40 minutos. Por motivo ainda não elucidado, as crises preferencialmente ocorrem no período noturno.
O neurologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Júlio Pereira, explica que tanto a enxaqueca quanto a cefaleia tensional são dores que têm controle, e não cura. Normalmente, os pacientes queixam-se de ter uma crise por mês, ainda que outras pessoas possam sofrer ainda mais – pode chegar a seis ou oito crises no mesmo período.
O mais importante do tratamento, segundo ele, é conseguir diminuir tanto o número de crises quanto a intensidade delas. No caso da enxaqueca, em específico, o paciente precisa observar o que faz a sua dor piorar.
“Existem muitos fatores de gatilho para a enxaqueca – – estresse, dormir pouco, alguns alimentos (vinho, cerveja, café). Tem pessoas que tomam café e a dor melhora, enquanto outras apresentam piora. É preciso notar quando teve dor e se teve algum gatilho. As mulheres, no período menstrual, costumam ficar bem o mês todo, até dois ou três dias antes de menstruar”, diz ele.
Os mais acometidos pela cefaleia
Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC), o Estudo Epidemiológico Nacional da Enxaqueca avaliou mais de 3.800 pessoas e revelou que a população brasileira tem incidência de 15,2% de enxaqueca, 13% de cefaleia tensional e 6,9% de cefaleia crônica diária.
“A enxaqueca é cosmopolita, atingindo 18% da população mundial. É mais comum em mulheres em relação aos homens, incide em adultos e adultos jovens, podendo ocorrer também na infância. Tanto a intensidade das crises como a frequência tendem a diminuir com o avançar da idade. Pessoas propensas, em atividades mais estressantes, têm mais risco de desenvolver um número maior de crises”, afirma o Dr. Matas.
Em contrapartida, a cefaleia em salvas ocorre mais em homens do que em mulheres. A cefaleia tensional, segundo a Classificação Internacional de Cefaleias, 3ª edição, é bastante comum, com prevalência ao longo da vida da população geral entre 30% a 78%, em diferentes estudos.
Líderes no ranking da dor
Uma pesquisa realizada pelo IBOPE CONECTA em parceria com Advil revelou que a dor de cabeça e a enxaqueca são as dores que mais incomodam, citadas por 65% dos entrevistados, seguidas de dor nas costas (41%) e dor muscular (40%). Em geral, foram as mulheres que mais reclamaram de cefaleia.
A incidência de dores aumenta, também, nos meses mais quentes do ano. As altas temperaturas ajudam a manifestar o problema. “Crises de dor de cabeça e enxaqueca podem comprometer muito mais do que o descanso no período de férias e favorecer a ocorrência de acidentes domésticos ou mesmo de trânsito, já que desorientam e tiram a capacidade de concentração do indivíduo”, explica o neurologista do HCor, Dr. Mauro Atra.
Em sua maioria, a desidratação é o principal motivo para dores de cabeça no período, pois a falta de líquido no organismo causa um sério desequilíbrio no processo de entrada e saída de sódio e potássio das células.
A claridade solar também pode ser um problema. “A maior parte dos pacientes com enxaqueca sofre de fotofobia. Isso os torna extremamente sensíveis à luz”, comenta o neurologista.
Tratamentos disponíveis para enxaqueca e cefaleia
Sendo tão comuns, é óbvio que muita gente vá à farmácia em busca de medicamentos que possam ajudar a aliviar as dores de cabeça. A farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti, explica que se a intensidade da dor for de leve a moderada, normalmente, são administrados analgésicos ou anti-inflamatórios não esteroides para enxaqueca com ou sem aura.
No caso de crises de dores de cabeça, são utilizados analgésicos, anti-inflamatórios (agem diretamente no processo inflamatório e também apresentam ação analgésica), ergotaminas (vasoconstrição) e triptanos (agem diretamente nos receptores de serotonina).
Mas, no caso de dor de cabeça crônica, ainda pode ser considerada a situação de profilaxia. Ou seja, para prevenir ou inibir os episódios de crise. Para isso, os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos, neuromoduladores e betabloqueadores.
O grande problema, para o médico da BP, é que a maioria da população não sabe que esse tratamento profilático existe. A incidência do tratamento ainda é muito baixa. “Os medicamentos funcionam de maneiras diferentes. Ainda não se sabe o que causa a enxaqueca, mas existem diversas teorias. Usamos medicações que foram descobertas para outra doença e que controlaram a enxaqueca, como anticonvulsivantes, antidepressivo ou para pressão arterial”, frisa ele.
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Anvisa aprova tratamento para enxaqueca em formato de caneta