É comum a confusão entre cefaleia e enxaqueca. Mas embora alguns sintomas sejam bem parecidos, essas dores de cabeça têm características específicas. A única certeza é de que todo mundo sente, pelo menos, alguns dos seus efeitos.
“Estima-se que 99% das mulheres e 95% dos homens vão sofrer com cefaleia em algum momento da vida. Quanto à enxaqueca, estima-se que acometa 15% da população brasileira, enquanto a forma crônica atinge 5%”, afirma o neurologista do Hospital Samaritano Higienópolis, Dr. Marcio Nattan.
Cefaleia é o termo científico para dor de cabeça e não se trata de uma doença, mas de um sintoma. A dor pode ser descrita de diversas maneiras – pulsação, latejante, em pressão, queimação, aperto, pontada ou trovão, por exemplo.
Um dos sintomas clínicos mais recorrentes em atendimentos médicos, ela pode estar relacionada a mais de 200 doenças. “A cefaleia pode ter variadas causas, desde condições benignas, como uma infecção viral, uma gripe que cursa com mal-estar, febre e até causas graves, como uma hemorragia intracraniana. É um sintoma quase universal e, dificilmente, uma pessoa não vai experimentar uma ou várias crises de dor de cabeça durante a vida”, explica o neurologista do Hospital Leforte, Dr. Ronaldo de Souza Oliveira Filho.
Causas diversas
As cefaleias são divididas em dois grandes grupos: primárias e secundárias. “As cefaleias primárias são a própria causa da dor. A enxaqueca é uma das formas mais comuns de cefaleia primária”, diz o Dr. Nattan.
Segundo ele, outros tipos considerados primários são: a cefaleia tensional (que causa dor leve a moderada e peso na cabeça); e a cefaleia em salvas (mais rara, provoca dor muito intensa, somente em uma metade da cabeça, ao redor de um dos olhos, acompanhada de sinais como, olhos avermelhados, inchados ou lacrimejando, nariz escorrendo do mesmo lado da dor).
Já as cefaleias secundárias, esclarece o Dr. Nattan, podem ser provocadas por dezenas de doenças diferentes: oftalmológicas (como o glaucoma), vasculares (hemorragia cerebral, vasculites), infecciosas graves (meningite bacteriana), infecciosas brandas (gripe ou meningite viral), obstétricas (doença hipertensiva específica da gestação).
Dor incapacitante
Mais grave do que a cefaleia, a enxaqueca é uma das principais causas de incapacidade temporária. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a terceira doença mais prevalente do mundo. Nas mulheres, a prevalência em um ano é de 12%, e considerando toda vida, chega a 33%. Afeta, em geral, três vezes mais mulheres que homens”, explica o Dr. Oliveira Filho.
Também chamada de migrânea, a enxaqueca é um tipo de cefaleia primária, ou seja, não é causada por uma lesão estrutural e costuma manifestar-se na juventude.
Segundo o especialista do Hospital Leforte, a enxaqueca é uma doença neurológica que se desenvolve com crises de cefaleia de forma recorrente, além de outros sintomas, como náusea, vômitos, fotofobia (aversão à luz) e fonofobia (aversão ao som).
Tratamentos eficazes para cefaleia
Frentes medicamentosas
O tratamento da cefaleia depende muito da causa, mas, em geral, envolve duas partes: controlar o sintoma e resolver a doença. Pode-se fazer um paralelo com uma pneumonia, onde se usa um antitérmico para controlar a febre, mas o antibiótico é fundamental para o controle da doença. No caso de uma gripe com cefaleia, o tratamento da dor será o analgésico, enquanto o da doença se dá com repouso, hidratação e medidas de saúde gerais. Em casos mais graves, como hemorragia cerebral, o tratamento é realizado em unidade de cuidados intensivos, sempre mantendo o foco no controle da dor.
Frentes não medicamentosas
É importante complementar o tratamento com medidas básicas, como atividade física regular e controle de estresse que podem reduzir cefaleias recorrentes. Entretanto, é preciso que a causa seja bem estabelecida. Para dores como a neuralgia do trigêmeo, pode-se usar neuromodulação. Na cefaleia em salvas, o bloqueio do nervo occipital é a primeira linha de tratamento.
Fonte: neurologista do Hospital Samaritano Higienópolis, Dr. Marcio Nattan
Em alguns casos, é precedida ou acompanhada por sintomas neurológicos focais, como flashes luminosos ou perda parcial do campo visual, alterações sensitivas, dormência, formigamentos ou perda de força. “Esses sintomas são conhecidos como aura e estão presentes em um terço das pessoas com enxaqueca”, completa o Dr. Oliveira Filho.
Apesar dos avanços recentes no entendimento da doença, não é possível apontar uma causa única. “O que é evidente hoje é que fatores genéticos estão na base, mas a influência de fatores, como a flutuação do estrogênio nas mulheres, estresse, obesidade e sedentarismo são fundamentais para que a doença se manifeste e se agrave”, diz o Dr. Nattan.
Segundo o neurologista clínico da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Alex Machado Baeta, a enxaqueca também pode ser desenvolvida pelo consumo de determinados alimentos, como queijo, aspartame, chocolate, café, além do hábito de fumar.
Foto: Shutterstock