Crescimento do Brasil parece estar confirmado em 2018

Embora ainda não se tenha claro qual vai ser o ritmo da retomada do País,, espera-se que índices importantes voltem a crescer, independentemente da corrida presidencial

As expectativas em relação a 2018 são muitas e é completamente compreensível. Depois de ter atravessado a maior e pior recessão da história, este ano promete ser decisivo. Afinal, em outubro próximo, as respostas que o mercado espera devem vir junto com o resultado das urnas, o que dará fim ao agitado e polêmico mandato do atual presidente Michel Temer.

Mas seja qual for o candidato eleito, o que o mercado espera é que o crescimento econômico não seja afetado em decorrência da questão política. Segundo analisa o professor de economia do Ibmec/SP, Walter Franco Lopes, crises e embates políticos são inerentes ao sistema capitalista e democrático e não absoluta e totalmente determinantes na questão do crescimento econômico.

“No Brasil, há enormes potenciais a ser explorados, como mão de obra, capacidade ociosa na indústria e demandas reprimidas que, por si só, podem o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018”, acredita.

Eleições presidenciais 2018: o que se pode esperar?

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), realizada em outubro de 2017 e estimulada (em que os entrevistados recebiam o nome de possíveis candidatos), indicou que, se a eleição presidencial fosse naquela ocasião, o segundo turno seria disputado entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 35% das intenções de voto; e o deputado federal Jair Bolsownaro (PSC-RJ), com 13%.
Na sequência, apareceram os nomes da ex-senadora Marina Silva (Rede), com 8%; do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), com 5%; do apresentador de televisão Luciano Huck (este já confirmou que não será candidato), com 5%; do prefeito de São Paulo, João Doria, com 4%; e do ex- -ministro Ciro Gomes (PDT), com 3%.
Alguns outros nomes também podem aparecer na corrida presidencial, segundo arrisca o coordenador do curso de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Paulo Dutra.
“Há especulações sobre candidatos, como Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda, e do senador Cristóvão Buarque”, aponta, salientando a importância dessas eleições. “A retomada está muito atrelada à política. Não podemos ter estragos grandes nos próximos quatro anos”.
Sejam quais forem os candidatos para as eleições presidenciais, a expectativa dos analistas é a de que o Brasil se sairá bem na esfera política, pela positiva realidade atravessada pela população e que contribuiu para o interesse dos brasileiros nessas questões, segundo avalia o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Fabio Pina. “Será uma eleição tranquila. Nenhum candidato polêmico vai ter chances”, aposta.

Para Lopes, apesar da questão política parecer turbulenta, este é um processo de depuração que vem sendo muito positivo. “O governo Temer faz e promove reformas importantes e necessárias, como a trabalhista, a aprovação do teto de gastos, entre outras. O que esperamos é a retomada do investimento, do consumo e a continuidade da geração de emprego que possibilitarão entrar em 2018 com retomada significativa e chegarmos ao fim do ano com crescimento perto de 3%”, sinaliza.

O presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, também acredita na prosperidade de 2018. “Anos eleitorais sempre têm um incentivo do governo para que tudo fique melhor do que efetivamente é. Então, espera-se uma atividade econômica maior do que os últimos três anos, além da melhora do emprego”, presume o especialista.

Sinais da retomada

A reforma da Previdência foi um dos principais projetos durante o mandato de Michel Temer e que se mostra importantíssima e necessária. Afinal, diante da longevidade e também de muitos jovens trabalhando e pagando o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a arrecadação da previdência social tem ficado cada vez mais insuficiente para o pagamento de todos os aposentados. Aliás, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, informou que o governo prevê que, neste ano, o déficit do INSS chegará a R$ 202,2 bilhões, comprovando a urgência desta reforma.

O que o mercado espera é que o governo do presidente Michel Temer deva, sim, avançar nesse sentido, mesmo com a base aliada perdendo força. “Acredito que a reforma será aprovada numa versão mais reduzida, o que será excelente. Por menor que seja, ela já será fomentadora e contribuirá com o corrente processo de modernização do Estado brasileiro em curso”, observa Lopes.

Mussolini também acredita que essa pauta terá breve avanço. “A reforma se tornou necessária. Postergá-la seria pouco inteligente até para a oposição. Assim, vai ser possível de ser feita”, diz.

RETROSPECTIVA: OS PRINCIPAIS FATOS QUE MARCARAM A POLÍTICA E A ECONOMIA EM 2017

Janeiro

19/01 – Acidente aéreo em Paraty (RJ) matou o ministro e relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki.

30/01 – O proprietário do Grupo EBX, Eike Batista, foi preso por suspeita de lavagem de dinheiro em um esquema de corrupção que supostamente envolvia, entre outros, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que também está preso.

Além disso, dólar e juros, indicadores que preocupam diversos setores da economia, também não devem sofrer grandes oscilações neste ano. “A taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) próxima de 7% a.a. já determina patamar excelente, considerando-se inflação próxima de 3% a.a. Pode ser reduzida ainda, mas pouco. Lembremos que juros muito baixos inviabilizam poupança financeira, o que compromete crescimento futuro da economia”, pondera o especialista do Ibmec/SP.

Fevereiro

02/02 – O ministro do STF, Edson Fachin, foi sorteado como o novo relator da Operação Lava Jato.

08/02 – O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) determinou a cassação dos mandatos do governador Luiz Fernando Pezão, e seu vice, Francisco Dornelles, por abuso de poder econômico e político.

Março

17/03 – É deflagrada a Operação Carne Fraca, que investiga o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.

Abril

11/04 – O ministro do STF, Edson Fachin, retirou os sigilos das delações da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato, destacando que a Constituição “prestigia o interesse público à informação”.

Maio

19/05 – O STF divulgou um acordo de delação premiada da JBS, revelando que a empresa pagou propina ao presidente Michel Temer, seus antecessores Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, bem como aos ex-candidatos à presidência, Aécio Neves e José Serra.

23/05 – A Câmara dos Deputados aprovou a medida provisória editada pelo governo que autorizou o saque das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Junho

09/06 – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolveu a chapa Dilma-Temer por supostas ilegalidades na campanha eleitoral.

Julho

12/07 – O juiz Sérgio Moro condenou o ex-presidente Lula pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Agosto

02/08 – A Câmara dos Deputados barrou a primeira denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer.

Setembro

05/09 – A Polícia Federal fez a maior apreensão de dinheiro em espécie da história do País durante cumprimento de busca e apreensão na Operação Tesouro Perdido. A soma era superior a R$ 51 milhões.05/09 – A Polícia Federal fez a maior apreensão de dinheiro em espécie da história do País durante cumprimento de busca e apreensão na Operação Tesouro Perdido. A soma era superior a R$ 51 milhões.

Outubro

25/10 – A Câmara dos Deputados barrou segunda denúncia contra Temer, acusado de obstrução da Justiça e organização criminosa.

Novembro

11/11 – Os brasileiros passaram a contar com uma nova legislação trabalhista. A reforma, que traz modificações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), foi um dos principais e controversos projetos do governo Michel Temer.

Dezembro

05/12 – O presidente Michel Temer afirmou que o apoio à reforma da Previdência está crescendo e, se aprovada na Câmara até o fim de 2017, poderá ser votada pelo Senado já em fevereiro de 2018 (esta edição do Guia da Farmácia entrou em gráfica no dia 19/12/17).

O assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Fabio Pina, também acredita que dólar e juros não apresentarão grandes oscilações, sinalizando a retomada.

“O maior problema que poderíamos ter é a grande volatilidade desses índices. O dólar muito alto, por exemplo, puxa a inflação para cima. Mas quando cai muito, perde-se a competitividade da indústria nacional. O que se espera é o dólar a R$ 3,30, juros fechando 2017 a 7,5% e inflação a 3,5%”, projeta.

Para o Produto Interno Bruto (PIB), indicador que mede a atividade econômica do País, também se espera crescimento. Até o final de 2017, as projeções do mercado eram de que se registrasse alta de 0,9% a 1,0%. Para este ano, espera-se que a alta alcance 2,9%.

Desempenho da saúde e da beleza

Com o crescimento das contratações, também espera-se que os setores relacionados à saúde, seja a indústria de medicamentos ou o varejo farmacêutico, tenham melhor desempenho.

“É fato que pessoas trabalhando consomem mais saúde, sejam em planos particulares ou medicamentos”, afirma Mussolini, complementando que, em 2017, a indústria de produtos farmacêuticos do estado de São Paulo cresceu cerca de 10%. Para este ano, as projeções são de alta de 8% a 10%. “Nossos esforços estarão focados na redução da taxa tributária em cima dos medicamentos”, revela.

No setor de grandes redes de farmácias, em 2017, o baixo desempenho da economia afetou, principalmente, a venda de não medicamentos. Responsável por uma parte importante do crescimento nas redes afiliadas à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) nos últimos dez anos, segundo o presidente executivo da entidade, Sergio Mena Barreto, essa categoria é um termômetro claro da desaceleração econômica.

Resultados e projeções do canal farma em 2017

REDES
Em 2017: até o início de dezembro último, as redes afiliadas à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) projetavam fechar o ano com alta entre 9% e 10%. Esses números são resultado, principalmente, da abertura de novos pontos de venda (PDVs) e maior ocupação de mercado, com ganho de market share.
Para 2018: acredita-se que as afiliadas da Abrafarma devam ultrapassar o crescimento de 10% de vendas. O ganho poderia ser maior caso as vacinas já pudessem ser aplicadas nesses canais, o que não acontecerá porque a regulamentação está atrasada. Como a implantação de um novo serviço como esse demanda, ao menos, entre seis e oito meses de preparação, provavelmente as farmácias só poderão aproveitar a temporada de gripe de 2019.

RESULTADOS DAS REDES AFILIADAS À ABRAFAR

Fonte: Abrafarma

ASSOCIATIVISTAS E INDEPENDENTES

Em 2017: as redes associadas à Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) observaram um crescimento de 19,7% num período de 12 meses, finalizado em agosto de 2017. Somente de janeiro a outubro do ano passado, a alta foi de 20,81%.
Para 2018: as expectativas são de manutenção da faixa de crescimento obtida em 2017. Esse fato se deve a diversos fatores, entre os quais, o de que não se projeta um aumento muito alto nos preços de medicamentos. A perspectiva da entidade em relação à Febrafar é positiva, em função do crescimento acima do mercado e pelas afiliadas estarem investindo cada vez mais no aprimoramento de ferramentas e na capacitação de nossos gestores.

RESULTADOS DAS REDES AFILIADAS À FEBRAFAR – COMPARATIVO

“Não fosse esse movimento, estaríamos crescendo por volta de 12% e não em torno de 9-10%, que é o crescimento experimentado atualmente”, lamenta.

Na Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), comparando medicamentos e não medicamentos, o crescimento de ambos foi bastante similar.

“Nas projeções dos mesmos períodos apresentados, observa-se que o crescimento de medicamentos foi de 12,24% e de não medicamento foi de 11,96%. Esses índices estão muito próximos, com uma pequena vantagem para os medicamentos. Mas acredito que os dois mercados têm muito ainda a crescer”, analisa o presidente da entidade e da Farmarcas, Edison Tamascia.

Foto: Shutterstock

Estrelas do mês

Edição 302 - 2018-01-01 Estrelas do mês

Essa matéria faz parte da Edição 302 da Revista Guia da Farmácia.