Ansiedade como problema social

O tratamento depende do tipo de transtorno que a pessoa apresenta

Vida corrida e cheia de compromissos, crise política e econômica, preocupações com o trabalho, com a família, com o horário, com a saúde, com o futuro… são inúmeros os desafios que se apresentam diariamente na rotina das pessoas. E isso pode causar males à saúde que precisam de prevenção e tratamento para que não haja incapacitação.

Um dos problemas mais frequentes é a ansiedade. De acordo com o médico psiquiatra e pesquisador do Grupo de Estudos de Doença Afetivas (Gruda) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e coordenador do Programa de Transtorno Afetivo Bitolar (Protab) da Faculdade de Medicina do ABC, Dr. Diego Tavares, a ansiedade é um jeito de o cérebro funcionar de modo que prepare o indivíduo para lidar com situações novas/desconhecidas ou uma que ele espera muito que aconteça. “Não é uma doença, pois prepara o psiquismo e o corpo para enfrentar isso (luta) ou fugir dela caso esta não seja agradável (fuga).” 

Os transtornos de ansiedade, pelo contrário, são alterações na forma de funcionamento do cérebro  que fazem com que os mesmos sintomas da ansiedade fisiológica aconteçam, porém, de maneira intensa e fora de contexto, atrapalhando o indivíduo ao invés de ajudá-lo e, por isso, são tidos como um transtorno psiquiátrico. 

“A ansiedade fisiológica ajuda a pessoa a lutar e enfrentar um problema difícil. A ansiedade doença faz a pessoa sucumbir frente a um problema, que nem é tão difícil assim, em virtude do medo que o cérebro produz, exacerbando a situação e atrapalhando a pessoa de pensar e de conseguir enfrentá-la”, esclarece o Dr. Tavares.

Como ela se manifesta

A ansiedade patológica é determinada pelo comprometimento da vida social do indivíduo. Em seu mais alto nível, é denominada Transtorno de Ansiedade Generalizada, caracterizado por preocupação ou ansiedade excessiva, com motivos injustificáveis ou desproporcionais, de duração maior que seis meses, e de caráter crônico e duradouro.

Os avanços da neurociência vêm demonstrando que os vários transtornos mentais têm base no cérebro, decorrentes de alterações no funcionamento dos diversos sistemas de neurotransmissão, que ficam “desregulados”. Sendo assim, o médico psiquiatra, Doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg (Alemanha) e membro filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Prof. Dr. Mario Louzã, explica que, não se trata de “besteira”, “frescura” ou “fraqueza de caráter”. 

Esse tipo de preconceito só prejudica, pois os tratamentos são eficazes e, muitas vezes, a pessoa passa meses ou anos sofrendo pela dificuldade de assumir que tem um problema mental e reluta em procurar ajuda psiquiátrica.

Os sintomas são diversos e podem ser mutáveis ao longo do tempo, havendo frequente alternância de humor, como destaca o diretor farmacêutico do Grupo Natulab, Olavo Rodrigues. Alguns dos sintomas da ansiedade podem ser emocionais, mentais e físicos. Os emocionais e mentais se resumem em dificuldade para relaxar, medo constante, sensação de sobrecarga, preocupação e tensão crônicas e exageradas, irritabilidade, dificuldade de concentração e frequentes esquecimentos. 

Entre os sintomas físicos, estão fadiga, tensão muscular, dor de cabeça, insônia, boca seca, sudorese excessiva, enjoo, dor abdominal ou diarreia, aumento da frequência urinária, tremores, coração acelerado, tonturas, respiração acelerada e palpitações.

Prejuízo no dia a dia

A ansiedade começa a fazer a pessoa se esquivar dos problemas, fugir das coisas que ela consegue ou evitar situações. Ela fica mais insegura, mais frágil e menos corajosa. Começa a limitar seus horizontes e a amplificar os problemas. “O que era para ser protetor, já que a ansiedade ou o medo fisiológico evitam o ser humano de se arriscar demais e se prejudicar, acaba se tornando um problema por que impede a pessoa de enfrentar o mundo”, alerta o Dr. Tavares.

Entende-se que a ansiedade pode gerar resultados positivos ou negativos. São considerados positivos os resultados que contribuem favoravelmente para o indivíduo. A ansiedade positiva move a pessoa na direção de atingir os objetivos. 

“Por exemplo, quando uma pessoa tem uma prova importante para realizar e sua ansiedade em relação ao bom resultado a impulsiona a se preparar adequadamente para vencer este desafio, claramente esta é uma ansiedade positiva. Já a ansiedade negativa ou patológica é aquela que paralisa, em que o indivíduo não encontra uma forma de resolver o problema percebido, antecipado, gerando um desconforto contínuo e, por vezes, insegurança frente aos desafios diários”, explica a neurologista e conselheira para área médico-científica do Herbarium Laboratório Botânico, Dra. Jackeline Barbosa.

É bom ressaltar, como destaca o Dr. Tavares, que a ansiedade fisiológica normal não evolui para doença ansiedade. São coisas diferentes. “Ansiedade fisiológica todo cérebro humano possui e é protetor para a espécie. Assim como todas as doenças em medicina e, em psiquiatria, não é diferente, não é o excesso de algo que faz a pessoa ficar doente. Isto é, não é o excesso de açúcar somente que faz a pessoa se tornar diabética, não é o excesso de ansiedade fisiológica que faz a pessoa ter transtorno de ansiedade. As doenças estão dentro de nós na forma de predisposição, isto é, cada um de nós carrega junto consigo uma ‘tendência’ genética para ter uma doença ou outra, como se fosse um ‘ponto fraco do sistema’, e diante de situações do meio que ‘forçam’ este sistema, é possível a doença aparecer. No caso do transtorno de ansiedade, o sistema é ativado e fica ligado, a partir daí, a pessoa vai ter sintomas de ansiedade ativados e constantes e esta produção dos sintomas não depende mais dela, mas de um cérebro que está funcionado nesse ‘modo’. Não adianta dizer para a pessoa: ‘se acalme’”.  

Cinco fatores que indicam que um indivíduo sofre de ansiedade

1. Pensamentos ansiosos (medo, preocupação e insegurança) que começam a aparecer, diferente do que a pessoa era, e se tornam intensos e contínuos a ponto de atrapalhar a vida da pessoa consideravelmente.

2. Sintomas ansiosos no corpo (palpitação, falta de ar, aperto no peito, etc.) que acontecem mesmo em situações tranquilas ou que não deveriam provocar tanta expectativa.

3. Dificuldade de se concentrar nas coisas porque os pensamentos de medo invadem a cabeça.

4. Dificuldade de relaxar, sentir que o corpo está dolorido devido à tensão constante.

5. Irritabilidade ou mau humor devido à dificuldade de relaxar pela presença constante dos pensamentos aversivos de medo e preocupação.

Fonte: médico psiquiatra e pesquisador do Grupo de Estudos de Doença Afetivas (Gruda) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e coordenador do Programa de Transtorno Afetivo Bitolar (Protab) da Faculdade de Medicina do ABC, Dr. Diego Tavares

Sintomas e grupo de risco

Num trabalho publicado em março de 2014, na revista Caderno de Saúde Pública, realizado por pesquisadores da Fiocruz, foi estudada a incidência de doenças mentais, com foco em ansiedade e depressão, nas grandes cidades brasileiras. “As taxas desse tipo de patologia no Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre foram, respectivamente, 51,9%, 53,3%, 64,3% e 57,7%”, descreveu a Dra. Jackeline.

“A análise também indicou que os problemas de saúde mental são especialmente altos em mulheres, desempregados, em pessoas com baixa escolaridade e com baixa renda.”

“Os transtornos de ansiedade ocorrem, principalmente, em cérebros de mulheres, e não é porque a mulher é frágil ou mais medrosa que isto acontece, é apenas uma característica da biologia que faz com que isto ocorra. E a faixa etária vai desde a infância até a idade adulta. Em idosos, o início da doença é mais raro”, completa o Dr. Tavares.

Terapias naturais

O tratamento para ansiedade, de acordo com o Prof. Dr. Louzã, do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, depende do tipo de transtorno que a pessoa apresenta. De modo geral, são utilizados os antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina. Por um tempo curto, podem ser utilizados também os ansiolíticos. Além da medicação, está indicada a psicoterapia para controle dos sintomas mais a longo prazo.

Entre os diversos tratamentos para ansiedade, destacam-se os fitoterápicos, para combate a quadros de ansiedade leve a moderada e para tratamento da insônia. A passiflora (Passiflora incarnata) é um dos principais recursos fitoterápicos para ansiedade leve à moderada e irritabilidade, com um mecanismo de ação semelhante às drogas sintéticas mais potentes, como o diazepam e clonazepam, mas sem os riscos de dependência destas últimas, que são substâncias controladas. 

Quando se recomendam os fitoterápicos, é importante saber que as ervas diferem dos produtos utilizados na medicina chamada alopática, porque, em vez de conter apenas uma ou duas substâncias específicas, elas contêm um grupo de substâncias, denominado de complexo fitoterápico. Esse complexo pode ter quantidades diferentes das substâncias que o constituem, dependendo do terreno de origem, da forma de cultivo, da época do ano em que foi colhida, etc. 

Assim sendo, a mesma erva pode se comportar de maneira diferente no organismo humano, dependendo do teor dos seus constituintes. Para evitar que isso aconteça, foi desenvolvido o conceito de padronização do extrato da erva. “Essa padronização consiste em dosar o componente principal do extrato para garantir que os lotes produzidos tenham sempre o mesmo teor do componente eleito como mais importante”, explica a Dra. Jackeline.

Já o medicamento homeopático não apresenta efeitos colaterais adversos, explica a diretora farmacêutica da Boiron Brasil, Maria Isabel de Almeida Prado. Ele está à disposição da população como mais uma opção dentro de um arsenal terapêutico. 

Autor: Vivian Lourenço 

Avanço na saúde

Edição 287 - 2016-10-01 Avanço na saúde

Essa matéria faz parte da Edição 287 da Revista Guia da Farmácia.

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