Dengue, Zika e Chikungunya: começou a época de atenção constante

A prevenção ainda é a melhor arma para evitar a picada do mosquito Aedes aegypti, responsável pela disseminação de doenças que têm preocupado tanto a população

Não deixar lixo acumulado nas ruas; evitar água empoçada; tampar caixas d’água; e procurar auxílio médico aos primeiros sintomas de febre, dor no corpo e mal-estar; além de evitar certos tipos de medicamentos. Essas são algumas dicas para prevenção e combate à dengue – acompanhada dos seus quatro sorotipos, além da chikungunya e da zika, amplamente difundidas entre a população. Mas, mesmo assim, o índice da doença nos brasileiros é alto.

Nos últimos 50 anos, a incidência aumentou 30 vezes com a expansão geográfica para novos países e, na presente década, para pequenas cidades e áreas rurais. É estimado que 50 milhões de infecções por dengue ocorram anualmente e que, aproximadamente, 2,5 bilhões de pessoas vivem em países onde o problema é endêmico.

A dengue

Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), foram registrados 1.438.624 casos prováveis de dengue no País até a Semana Epidemiológica (SE) 37 (3/1/2016 a 17/9/2016). Nesse período, a região Sudeste registrou o maior número de casos prováveis (842.741 casos, 58,6%); seguida das regiões Nordeste (317.483 casos, 22,1%); Centro-Oeste (168.498 casos, 11,7%); Sul (72.048 casos, 5,0%); e Norte (37.854 casos, 2,6%).

Foram confirmados 762 casos de dengue grave e 7.449 casos com sinais de alarme. No mesmo período de 2015, foram confirmados 1.509 casos de dengue grave e 19.659 casos de dengue com sinais de alarme. Os óbitos, em 2014, chegaram a 563; no mesmo período de 2015, foram confirmados 833 óbitos.

Segundo a professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Dra. Ione Aquemi Guibu, a dengue é causada por um vírus (arbovírus, gênero Flavivirus) com quatro sorotipos DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4. A transmissão é feita por mosquitos Aedes aegypti, principalmente, ou Aedes albopictus, já presente no Brasil.

“O tempo quente, aliado às chuvas de verão, possibilitam o aumento da proliferação, principalmente, logo após o período considerado ideal para a infestação do mosquito, que demora de sete a nove dias para se tornar adulto”, explica a Dra. Ione.

Além disso, os ovos do Aedes aegypti, que eclodem em menos de trinta minutos após contato com a água, estão, em sua maioria, presentes no ambiente domiciliar e podem aguardar por até um ano as condições favoráveis.

O vírus da dengue começa a circular no sangue de uma pessoa infectada, geralmente, um dia antes do aparecimento da febre e fica alojado até o sexto dia da doença.

O período de incubação no ser humano varia de quatro a dez dias, sendo que, em média, o mais comum é de cinco a seis dias. Após esse período é que surgem os sintomas da doença.

Não há um tratamento específico para a dengue. Basicamente, são realizados a hidratação intensa (que pode ser feita por via oral na grande maioria dos casos, mas, às vezes, é preciso usar a via venosa) e o uso de medicamentos sintomáticos (para dor, febre, náuseas, coceira), que devem ser livres de ácido acetilsalicílico, já que esta molécula pode agravar os quadros de hemorragia.

O vírus zika

A zika é uma doença introduzida no Brasil em 2015, causada por um vírus identificado em 1947 na floresta denominada Zika, em Uganda. O principal meio de transmissão é pelo mesmo Aedes aegypti de larga infestação no País.

Os sintomas, como explica a Dra. Ione, são semelhantes aos da dengue, porém, o que mais tem assustado a população é a possibilidade de uma grávida infectada com zika ter um bebê com microcefalia.

“Igualmente relatados casos de pessoas que tiveram zika e, posteriormente, apresentaram Síndrome de Guillain-Barré, com acometimento de músculos, causando fraqueza e paralisia dos membros superiores e/ou inferiores, sendo mais grave quando atinge a musculatura respiratória.”

De acordo com o MS, em 2016, até a SE 37, foram registrados 200.465 casos prováveis de febre pelo vírus zika (taxa de incidência de 98,1 casos/100 mil habitantes).

Em 2016, foram confirmados laboratorialmente três óbitos por vírus zika: dois no Rio de Janeiro e um no Espírito Santo. Em relação às gestantes, foram registrados 16.473 casos prováveis, sendo 9.507 confirmados por critério clínico-epidemiológico ou laboratorial. 

A febre chikungunya

A chikungunya também pode ser transmitida pelo Aedes aegypti e pelo Aedes albopictus. A febre também tem sintomas próximos, como dores nas articulações e manchas avermelhadas na pele. A dor provocada pela chikungunya é bem mais forte e pode se arrastar por meses ou anos, deixando sequelas. 

O vírus, no entanto, possui uma letalidade menor do que a das variações mais pesadas da dengue. Como a doença não tem cura ou vacina, a única forma de proteção é evitar a picada.

Os principais sintomas são febre alta, náuseas, dor de cabeça, manchas e pontos avermelhados pelo corpo, dor muscular e nas articulações, geralmente, nas menores do corpo, como as das mãos e as dos pés.

De acordo com o MS, em 2015, da SE 1 à SE 52, foram registrados, no País, 38.332 casos prováveis de febre de chikungunya (taxa de incidência de 18,7 casos/100 mil habitantes). Houve também confirmação de seis óbitos. Em 2016, até a SE 37, foram registrados 236.287 casos prováveis e, deste total, 49,3% foram confirmados. No ano, foram 120 óbitos: Pernambuco (54), Paraíba (21), Rio Grande do Norte (19), Ceará (10), Bahia (5), Rio de Janeiro (4), Maranhão (3), Alagoas (2), Piauí (1) e São Paulo (1).

Curiosidades sobre as doenças 

Zika

• Vírus foi isolado pela primeira vez na Floresta Zika, em Uganda;

• Em virtude da rapidez da disseminação, muitos aspectos ainda não estão esclarecidos;

• Pode ser transmitido pelo mosquito ou por relação sexual e transfusão de sangue;

• A eliminação do vírus pelo sêmen pode correr até seis meses após a infecção;

• A zika pode infectar outros animais, assim como o vírus da febre amarela;

• A Síndrome Congênita de Zika Vírus (microcefalia) pode se tornar endêmica;

• A infecção também pode estar relacionada ao aumento dos casos da Síndrome de Guillain-Barré, caracterizada por sintomas, como fraqueza e dores nos membros inferiores e ausência de reflexos.

Chikungunya

• Vírus foi isolado pela primeira vez em 1952, na Tanzânia, em uma epidemia confundida com a dengue;

• Algumas epidemias chegam a se alastrar entre 38% e 63% de uma população;

• Apareceu pela primeira vez no Brasil em 2014;

• Os sintomas costumam durar meses e há casos de dores nas articulações por até três anos.

Dengue

• O vírus está presente em mais de 100 países na forma endêmica;

• Os surtos acontecem nos meses mais quentes e úmidos do ano;

• O Brasil já dispõe de uma vacina, com três doses;

• Os quadros mais graves da doença exigem acompanhamento médico.

Fonte: SBP (Reckitt Benckiser)

Papel das farmácias e drogarias

Como as três doenças dependem da contribuição da população para ser erradicadas, as farmácias e drogarias precisam atuar de forma preventiva, orientando os consumidores tanto sobre os sintomas, quanto às formas de prevenção e combate ao foco do mosquito transmissor.

É possível auxiliar na educação da população, conversando com as pessoas sobre os sintomas e o que pode ser feito em casa para evitar que o mosquito procrie. Folhetos com orientações também podem ser distribuídos. 

A ação, conforme relata a farmacêutica bioquímica, mestranda pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Vera Lúcia Pivello, pode se iniciar na orientação para a eliminação de possíveis criadouros: desde os de pequeno porte (pratinhos de vasos, pneus, garrafas, vasilhas), para que não haja acúmulo de água onde as fêmeas do mosquito Aedes aegypti colocam seus ovos.

Porém, não basta apenas retirar a água: os recipientes devem ser limpos com uma esponja, pois os ovos aderem às suas paredes e podem permanecer por meses até encontrar água novamente e se desenvolverem. Nos grandes recipientes (caixas d’água, tonéis, poços), deve ficar clara a necessidade de serem tampados sem deixar nenhuma fresta.

Além da orientação para eliminação dos focos, a atenção aos sintomas é fundamental, até mesmo por conta dos medicamentos proibidos em caso de suspeita de dengue. “Verificar os sintomas e dizer ao paciente sobre a suspeita, bem como orientá-lo a procurar imediatamente um médico”, alerta a farmacêutica especializada em marketing de varejo da Ferrara Soluzioni, Tatiana Ferrara Barros.

O farmacêutico pode ainda escrever em um papel, indicando a sua suspeita e o histórico da conversa com o paciente. Lembrando que o médico é o profissional que efetua o diagnóstico de doenças, assim o farmacêutico pode suspeitar, mas nunca diagnosticar.

Nesse sentido, Tatiana complementa dizendo que é muito importante treinar a equipe para que os medicamentos que podem mascarar os sintomas da dengue não sejam vendidos a pacientes com suspeita.

Assim, em cidades com casos, antes da venda de produtos, como, por exemplo, paracetamol, deve ser feita uma anamnese para excluir a possibilidade de o paciente estar com dengue. “Mesmo em cidades que não estão com casos, é possível que o paciente tenha viajado, assim os medicamentos sempre devem ser vendidos com orientação e sempre efetuar perguntas antes da venda.”

Além disso, o uso de repelentes é de extrema importância. É fundamental orientar os clientes sobre os produtos, sobretudo no dia que diz respeito à formulação, aplicação e reaplicação. Por isso, mantenha seus estoques abastecidos e explore os itens no ponto de venda (PDV). 

Autor:  Vivian Lourenço

 

Estrada do crescimento

Edição 290 - 2017-01-01 Estrada do crescimento

Essa matéria faz parte da Edição 290 da Revista Guia da Farmácia.

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