Estilo de vida moderno contribui para o alto colesterol

Medicamentos, alimentos saudáveis e exercícios são pilares de tratamento

Presente na vida de aproximadamente 30% a 40% dos brasileiros, o colesterol alto é um problema crescente e é responsável por doenças cardiovasculares e cerebrais que podem, inclusive, levar à morte.

Nas últimas décadas, essa porcentagem está cada vez maior, principalmente devido ao estilo de vida moderno, que combina hábitos alimentares inadequados com a falta de atividade física. Sem sintomas aparentes, é essencial que a população seja conscientizada sobre a importância dos exames de rotina.

“O colesterol é como um álcool encontrado na parede das células e dissolvido no sangue. Como ele não se dissolve em água para ser transportado, circula ‘embrulhado’ em proteínas, junto com outras moléculas de gordura, as chamadas lipoproteínas”, explica o cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Fabio Lario.

Conforme a composição dessas lipoproteínas, elas podem provocar o depósito de gordura nas artérias (colesterol ruim ou LDL-Colesterol) ou não (colesterol bom ou HDL- Colesterol). Ou seja, o colesterol ruim deposita gordura nas artérias, enquanto o colesterol bom é um marcador de proteção contra a doença.

Medidas importantes

De modo geral, quando o colesterol ruim está acima de 190 mg/dL, considera-se um valor muito elevado, com maior risco de desenvolver doença coronária. Porém o risco de infarto também é determinado por outros indicadores, então o valor desejável depende de fatores genéticos, comportamentais (por exemplo: tipo de dieta, tabagismo, sedentarismo), da presença de outras doenças como hipertensão e diabetes, além do histórico familiar (quando a pessoa possui parentes de primeiro grau que apresentaram doenças coronárias em idade precoce – antes dos 50 anos de idade). Conforme a pessoa apresente outros fatores, os níveis desejados de colesterol devem ser menores.

“No caso de risco maior para diabetes e pressão alta, o ideal é que o nível de colesterol fique abaixo de 100 mg/dL. Cada vez mais, esse nível está sendo diminuído. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) já fala em 50 mg/dL para aqueles com alto nível de risco”, diz o cardiologista e coordenador médico do Pronto Atendimento do BP Mirante, Dr. Marcelo Sampaio.

A rotina ideal do portador de colesterol alto

Algumas ações simples podem ajudar aqueles que sofrem com a doença:

  • Manter uma alimentação saudável.
  • Realizar atividade física regular, exceto se houver contraindicação médica.
  • Tomar os medicamentos regularmente, quando indicados pelo médico.
  • Consultar o médico anualmente ou conforme recomendação.

Fonte: cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Fabio Lario

De acordo com a Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017, desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), as novas metas terapêuticas devem ser (para aqueles que usam medicamentos):

  • 50 mg/dL: pacientes com risco muito alto (aqueles que apresentam doenças coronária, cerebrovascular ou vascular periférica significativas ou possuam obstrução de metade ou mais de suas artérias);
  • 70 mg/dL: risco alto (possuem alguma placa arterial, aneurisma da aorta abdominal, doença renal crônica, diabetes ou algumas outras características);
  • 100 mg/dL: risco intermediário (calculado de acordo com algumas características ditas ao médico, que entende algum risco);
  • 130 mg/dL: risco baixo.

Mas nem sempre é fácil controlar o colesterol sem a ajuda de um medicamento. Isso porque 70% dele é produzido pelo corpo e somente 30% vem da alimentação. Além disso, existem alguns fatores de risco para que a pessoa sofra com o colesterol alto.

Segundo o Dr. Sampaio, um dos principais riscos é a hereditariedade. Quem é filho de alguém que tem colesterol alto ou já teve infarto tem riscos maiores de ter a doença, principalmente se o problema do pai tiver ocorrido antes dos 55 anos de idade ou o da mãe após os 65 anos. Se os pais têm colesterol alto e já tiveram infarto, a chance de desenvolver o problema é de 50%.

Além disso, a doença pode ser adquirida (algumas doenças de outros órgãos também podem provocar elevação do colesterol, como problemas de tireoide ou dos rins) ou provocada pelo estilo de vida prejudicial (alimentação inadequada ou falta de atividade física).

Doença silenciosa

Apesar de bastante perigoso, o colesterol alto não traz consigo uma série de sintomas. “Esse é um complicador, pois é necessária a dosagem do nível no sangue para que a pessoa saiba desse fator de risco. Como o colesterol alto não provoca sintomas e raramente mostra sinais, muitas vezes a primeira manifestação da doença já é o infarto do miocárdio ou a morte súbita devido ao infarto”, diz o Dr. Lario.

Raramente, alguns sintomas podem acontecer, mas além de incomuns, são difíceis de associar ao colesterol alto. O Dr. Sampaio explica que podem aparecer arcos brancos nos olhos e bolinhas amarelas embaixo da pálpebra ou no rosto. Outras pessoas têm bolinhas nas regiões dos tendões, nos membros inferiores. Elas são chamadas de nódulos de colesterol e são as únicas manifestações físicas de colesterol elevado.

O grande perigo é a formação das placas nas artérias. Aqueles que não fazem exames periódicos e desconhecem uma possível situação de risco podem não saber que as placas de gordura estão se formando e, caso elas se rompam, podem causar um infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC).

Para que isso não aconteça, todas as pessoas – e em especial aquelas que já possuem colesterol alto – devem adotar hábitos saudáveis e dar preferência ao consumo de alimentos frescos, carnes magras, frutas e vegetais, além de evitar alimentos ultraprocessados e industrializados. Segundo o Dr. Sampaio, já é sabido que frituras, carnes vermelhas, enlatados e embutidos são prejudiciais e aumentam o nível de colesterol.

Adesão ao tratamento

As mudanças no estilo de vida de uma pessoa são de difícil implementação e mais difíceis ainda de serem mantidas, por isso é importante a conscientização de todos. Há ainda a questão do custo dos medicamentos. Para diminuir este problema, as sociedades médicas trabalham junto ao governo para a manutenção e aperfeiçoamento dos Programas de Farmácia Popular e disponibilização de medicamentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Além disso, há a dificuldade de se combater uma doença que, na grande maioria das vezes, segue imperceptível e cuja primeira manifestação pode causar um prejuízo importante na qualidade de vida e até mesmo a morte.

Fonte: cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Fabio Lario

“É necessário, também, manter-se ativo: preferir caminhar a usar o carro ou o transporte público, quando possível; procurar subir ou descer escadas e também realizar exercícios físicos regularmente, pois a prática de 150 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana consegue mais de 95% do benefício físico ao coração e vasos sanguíneos”, comenta o cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Conforme recomendação da SBC, é importante que a prevenção comece na infância, com a promoção desses hábitos saudáveis e com a primeira dosagem dos níveis de colesterol no sangue, que deve ser realizada entre os nove e os 11 anos de idade, ou mais cedo, para as crianças que apresentam familiares de primeiro grau com a doença.

O tratamento para o colesterol deve ser feito com orientação nutricional e com a prática de atividade física. Quando há indicação médica, ele deve incluir, também, medicamentos que, de forma geral, devem ser mantidos por toda a vida, sobretudo quando a pessoa já apresentou algum problema relacionado ao entupimento das artérias.

“Como o colesterol é um distúrbio genético e pode não ser regularizado somente com hábitos saudáveis, se o paciente para de tomar o medicamento, ele volta a ter a doença. O fármaco serve como um estabilizador”, finaliza o Dr. Sampaio.

Foto: Shutterstock

Contra o tabagismo

Edição 309 - 2018-08-01 Contra o tabagismo

Essa matéria faz parte da Edição 309 da Revista Guia da Farmácia.