Fadiga é mais incidente em todo o mundo

Dor de cabeça, falta de concentração, estresse e sono que não acaba nunca são alguns dos sintomas de um problema cada dia mais presente na vida da população. a modernidade não deixa o corpo descansar e ele sente a rotina

Frases como “estou muito cansado”, “preciso dormir” e “estou estressado” são comuns no dia a dia de todas as pessoas. O trânsito, o trabalho e uma rotina cada vez mais atribulada são alguns dos responsáveis por um cansaço que parece não acabar. E isso tem nome: fadiga.

Ela é um sintoma de que algo errado está acontecendo no corpo, seja física ou mentalmente. Um de seus conceitos, segundo o reumatologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, Dr. Levi Jales Neto, é o estado de desgaste que segue um período de esforço, mental ou físico, caracterizado pela diminuição da capacidade de trabalhar e pela redução da eficiência para responder a um estímulo.

“Ela pode ser causada por transtorno de ansiedade, depressão ou estresse. Ou seja, pode ser psicossomática (quando fatores mentais acabam sendo prejudiciais ao corpo). A fadiga também pode estar relacionada a algum esforço físico, como uma rotina árdua de trabalho ou de estudo. Ou ainda pode ser causada por doenças como o diabetes, a obesidade e a anemia”, explica a psicóloga da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Cristina Borsari.

Por vezes, a fadiga é um sintoma de uma doença que acomete o paciente em algum momento pontual, como nos casos de doenças infecciosas virais, mas o grande problema é quando o sintoma se torna crônico, com duração maior do que três meses.

Nesses casos, a doença é chamada de Síndrome da Fadiga Crônica (SFC), também conhecida como encefalomielite miálgica. Ainda não existe um consenso médico sobre o que causaria o incômodo, mas o mais provável é que um conjunto de hábitos da vida moderna esteja levando ao aumento da fadiga na população.

Seus principais sintomas, além do cansaço excessivo, são a perda de memória ou de concentração; garganta inflamada; aumento dos gânglios linfáticos no pescoço ou nas axilas; dor muscular inexplicável; dor nas articulações, principalmente quando a dor migra de uma articulação para outra, sem apresentar nenhum sinal de inchaço ou vermelhidão na área afetada; dor de cabeça; sono recorrente e intermitente; e exaustão extrema que dura mais de 24 horas após o exercício físico ou mental.

O diagnóstico da fadiga é feito de maneira clínica, já que não há um teste específico. Como os sintomas são muito parecidos com os de outras doenças, são feitos exames para descartar qualquer dúvida, como distúrbios do sono, anemia, diabetes, disfunções da tireoide, entre outros. Se todas as possibilidades são eliminadas, conclui-se que o problema central é realmente a síndrome.

Crescimento exponencial

O problema está acometendo mais pessoas em todo o mundo. Um dos motivos, de acordo com Cristina, é o envelhecimento populacional. Como a pirâmide etária mudou e, hoje, há mais adultos e idosos, é comum que mais pessoas reclamem de cansaço crônico.

“[Mas] a principal hipótese para o aumento da incidência da síndrome da fadiga crônica na atualidade é o estilo de vida da população moderna, com fatores estressantes relacionados à competitividade no trabalho e aos conflitos familiares”, complementa o Dr. Neto.

Em geral, as mulheres entre 50 e 60 anos de idade são o grupo de maior incidência no diagnóstico de fadiga, mas todos os adultos passarão por algum momento de fadiga – ainda que não seja crônica. Para se ter noção, duas a cada mil pessoas apresentam fadiga crônica.

Devem ter atenção, ainda, aquelas pessoas que se consideram “aceleradas”. A parcela da população que se considera ansiosa costuma se queixar também de fadiga. Outros grandes problemas são a privação de sono e uma rotina não saudável.

Para acabar com o problema, a primeira orientação é de que haja um acompanhamento médico capaz de diagnosticar o porquê de uma pessoa estar sempre cansada. Dessa forma, a doença poderá ser tratada e, consequentemente, o sintoma desaparece.

Vida moderna

Os fatores estressantes são considerados de risco para a síndrome da fadiga crônica. O aumento das informações, a elevada demanda por bens e produtividade e o aumento das exigências no trabalho podem aumentar o estresse na rotina diária.

Fonte: reumatologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, Dr. Levi Jales Neto

Uma pessoa ansiosa ou depressiva deve ter o acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo, enquanto um anêmico precisa regular o seu nível de ferro para que o corpo possa se sentir melhor. Além disso, se não tratada corretamente, a fadiga pode levar a quadros mais sérios, como dificuldade de memória e de raciocínio e dificuldade para o corpo responder a estímulos.

Em todos os casos, alguns hábitos no dia a dia podem ajudar aqueles que possuem tanto a fadiga crônica quanto em um momento pontual da vida. A redução de fatores estressantes é essencial, como o tempo no trânsito, o estresse no trabalho ou nos estudos e os atritos no âmbito familiar.

Além disso, a atividade física e os hábitos saudáveis são essenciais para acabar com o problema. “A pessoa precisa mudar o estilo de vida. Ela tem que entender que tem que cuidar de si, com pequenas atitudes: tomar mais água, ter hábito alimentar adequado, dormir o tempo suficiente e fazer exercícios físicos”, diz Cristina.

Combate à fadiga

Algumas vitaminas ajudam a acabar ou a diminuir o cansaço. Entre as suplementações mais comuns estão:

Cálcio

Além de ser fundamental para a saúde e manutenção óssea, atua na capacidade de contração muscular.

Coenzima Q10 (ubiquinina)

Além do papel antioxidante, é fundamental para o processo de produção de energia, recuperação muscular e saúde cardiovascular. É uma coenzima que o corpo humano é capaz de sintetizar, porém com o processo de envelhecimento sua produção tende a cair.

Vitaminas do Complexo B

Participam da síntese de um importante neurotransmissor – acetilcolina, fundamental na capacidade de aprendizado, memória e contração muscular. Sua deficiência é associada à fraqueza crônica.

Ferro

Mineral presente nos glóbulos vermelhos (hemoglobina), responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue. Sua deficiência está associada a anemias que podem ter como consequência a fadiga, além da diminuição do sistema imunológico.

Vitamina C

Capaz de auxiliar na regulação de hormônios que influenciam o estresse, como o cortisol, além de melhorar a imunidade. Além disso, sua deficiência está associada à fraqueza muscular e a progressão de anemias devido a sua ação potencializadora da absorção do ferro.

Vitamina D

Sua deficiência está associada á fadiga muscular, dificuldade na redução de gordura corporal e fragilidade óssea. Em níveis normais, essa vitamina melhora a função mitocondrial no músculo, responsável pela produção de energia.

Selênio

Fundamental na formação dos hormônios tireoidianos T3 e T4. Quando a tireoide produz quantidade insuficiente ou deixa de produzir esses hormônios, há um comprometimento na velocidade do metabolismo, além de sinais de cansaço.

Fonte: nutricionista da RTP Nutrition, Rafael Prado

A alimentação também é importante para que o corpo esteja em dia, já que a falta de algumas vitaminas pode causar cansaço. O reumatologista do Hospital São Camilo cita a reposição de vitaminas A, do complexo B, C e D para prevenir a fadiga.

“O ideal é ter uma alimentação rica em nutrientes, senão buscar suplementos vitamínicos que tragam energia e que melhorem o sistema imunológico. Existem alguns medicamentos que aliviam os sintomas quando eles já estão instalados, como os medicamentos mais populares que trazem analgesia”, finaliza a nutricionista da BP.

Foto: Shutterstock

Elas já são maiorias

Edição 315 - 2019-02-02 Elas já são maiorias

Essa matéria faz parte da Edição 315 da Revista Guia da Farmácia.