Farmacêutico: um profissional multitarefa

Capacitado para ter uma visão completa e crítica em relação à ação dos medicamentos, o farmacêutico consegue avaliar a eficácia de um fármaco, assim como atuar junto ao contexto social e psicológico do paciente para que o tratamento tenha o resultado esperado

Definir o que é ser farmacêutico não é uma tarefa simples, uma vez que a profissão tem ampla atuação dentro do setor de saúde. Uma das descrições mais completas e atuais pode ser encontrada nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia, publicada pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), em 19 de outubro de 2017.

Conforme traz o documento, o farmacêutico é: “Profissional da área de saúde, com formação centrada nos fármacos, nos medicamentos e na assistência farmacêutica e, de forma integrada, com formação em análises clínicas e toxicológicas, em cosméticos e em alimentos, em prol do cuidado à saúde do indivíduo, da família e da comunidade”.

Principais atividades do cotidiano do farmacêutico

Atividades Não Clínicas
  • Aquisição e monitoramento do estoque.
  • Recebimento, armazenamento e conservação dos medicamentos.
  • Fracionamento de medicamentos.
  • Manipulação de fórmulas magistrais e oficinais.
  • Intercambialidade de medicamentos.
  • Realização do exame físico do medicamento.
  • Elaboração do Manual de Boas Práticas de Dispensação.
  • Elaboração dos Procedimentos Operacionais-Padrão (POPs).
  • Elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS).
  • Treinamento e capacitação dos funcionários.
  • Atualização da documentação legal.
  • Uso de ferramentas administrativas e financeiras [como, por exemplo: escrituração de medicamentos no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), sistema de controle de estoque de medicamentos, cadastro de fornecedores, entre outros].
Atividades Clínicas
(segundo a Resolução do Conselho Federal de Farmácia – CFF – 585)
  • Estabelecer e conduzir uma relação de cuidado centrada no paciente.
  • Desenvolver, em colaboração com os demais membros da equipe de saúde, ações para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e a prevenção de doenças e de outros problemas de saúde.
  • Participar do planejamento e da avaliação da farmacoterapia, para que o paciente utilize de forma segura os medicamentos de que necessita, em doses, frequência, horários, vias de administração e duração adequados, contribuindo para que o mesmo tenha condições de realizar o tratamento e alcançar os objetivos terapêuticos.
  • Analisar a prescrição de medicamentos quanto aos aspectos legais e técnicos.
  • Realizar intervenções farmacêuticas e emitir parecer farmacêutico a outros membros da equipe de saúde, com o propósito de auxiliar na seleção, adição, substituição, ajuste ou interrupção da farmacoterapia do paciente.
  • Prover a consulta farmacêutica em consultório farmacêutico ou em outro ambiente adequado, que garanta a privacidade do atendimento.
  • Fazer a anamnese farmacêutica, bem como verificar sinais e sintomas, com o propósito de prover cuidado ao paciente.
  • Prevenir, identificar, avaliar e intervir nos incidentes relacionados aos medicamentos e a outros problemas relacionados à farmacoterapia.
  • Identificar, avaliar e intervir nas interações medicamentosas indesejadas e clinicamente significantes.

Quando questionada sobre o papel do profissional farmacêutico, a assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia, de Minas Gerais (CRF/MG), Danyella Domingues, vai ainda mais além do que dizem as definições oficiais. “O farmacêutico é um profissional da saúde que tem ações voltadas para o uso racional de medicamentos e para eficiência da terapia do paciente. E essa eficiência não está relacionada apenas à garantia de que o medicamento vai fazer efeito, mas também ligada ao processo saúde e doença, ao manejo desse medicamento e ao contexto social e psicológico desse paciente.”

Em termos práticos, a proposta mundial para a atuação do farmacêutico é de que ele esteja inserido em uma equipe multiprofissional de saúde, ou seja, se relacione com o médico e demais profissionais da área, sempre com a meta de trazer qualidade de vida ao paciente. Cada profissional contribui com as competências que lhe são previstas. Ao farmacêutico, cabe realizar ações em saúde pública e atividades dirigidas à comunidade na promoção da saúde inseridas no uso racional de medicamentos.

Domínio dos fármacos

Devido à formação que recebe nas instituições de ensino superior, o farmacêutico é o único, entre todos os demais profissionais da saúde, que detém exclusivamente no seu currículo todas as atribuições envolvidas no processo de concepção, produção, controle e dispensação de medicamentos. Para isso, a grade curricular do curso de Farmácia disponibiliza disciplinas que abordam a integralidade de fatores envolvidos para o conhecimento do medicamento, desde o seu desenvolvimento até a ação no organismo.

“Portanto, envolve conhecimento da relação entre as características físico-químicas do fármaco, a forma farmacêutica e a via de administração, a velocidade e a extensão da absorção. Também aborda considerações biofarmacêuticas, incluindo os fatores que afetam a absorção de um fármaco a partir de diferentes vias de administração”, diz a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.

Para absorver conhecimento de tamanha complexidade, a formação farmacêutica é dividida em três fases: farmacotécnica (liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica), farmacocinética (absorção, distribuição, metabolização e excreção) e farmacodinâmica (interação fármaco x receptor), além de todos os fatores envolvidos nesses processos.

Atuação responsável

A ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam, ou pelo menos deveriam nortear, a conduta humana em qualquer esfera da vida em comunidade. Ser ético é agir dentro dos padrões convencionais, não prejudicar o próximo e cumprir regras previamente estabelecidas pela sociedade.

A atuação de todo farmacêutico deve seguir os princípios estabelecidos no Código de Ética da Profissão Farmacêutica. De acordo com Maria Aparecida, dois artigos merecem ser destacados:

Art. 2º – O farmacêutico atuará sempre com o maior respeito à vida humana, ao meio ambiente e à liberdade de consciência nas situações de conflito entre a ciência e os direitos fundamentais do homem.

Art. 3º – A dimensão ética da profissão farmacêutica é determinada, em todos os seus atos, pelo benefício ao ser humano, à coletividade e ao meio ambiente, sem qualquer discriminação.

Qual o papel prático do farmacêutico que atua no varejo?

As atribuições do farmacêutico responsável técnico por uma farmácia ou drogaria envolvem atividades clínicas e não clínicas. De acordo com o relatório “Perfil do farmacêutico no Brasil”, publicado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), a maior parte dos profissionais (64,1%) que atua em algum tipo de farmácia ou drogaria concentra-se na gestão, executando atividades de controle de estoque e compra de medicamentos. Na área técnica, a maioria, 89,6%, atua na dispensação de medicamento. No que se refere às atividades clínicas, 27% afirmaram que prescrevem e 17,8% praticam serviços de assistência farmacêutica.

Gestão

64,1 Compra de medicamentos / Controle de estoque

Técnica

89,6% Dispensação de medicamento

Clínica

27% prescrevem
17,8% assistência farmacêutica

Entre tantos preceitos, Danyella resume como o profissional pode atuar de forma ética: “A palavra ética remete à legalidade. O profissional que deseja ser ético não pode se afastar das normativas legais previstas no código da profissão e, acima de tudo, tem de agir dentro de um conceito de moralidade no atendimento ao paciente, sem negligenciar nenhuma etapa e convergir todos os seus esforços para a ciência e as técnicas para que esse atendimento seja amplo e adequado. Devemos sempre procurar a promoção da saúde”, destaca.

Foto: Shutterstock

Estrelas do mês

Edição 302 - 2018-01-01 Estrelas do mês

Essa matéria faz parte da Edição 302 da Revista Guia da Farmácia.