Glaucoma, o vilão silencioso

Principal causa de cegueira no mundo, o glaucoma começa sem nenhum sintoma. Saiba mais sobre a doença e sobre o fundamental papel do farmacêutico nas orientações ao paciente

Uma pessoa acima dos 40 anos de idade perde, lentamente, sua visão periférica. Aos poucos, começa a sentir sua vista embaçada até que a sua visão periférica desapareça e, por fim, sua visão total. Essa é a sensação dos acometidos pelo glaucoma, doença silenciosa que, quando sintomática, traz danos irreparáveis.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 65 milhões de pessoas em todo o mundo já foram diagnosticadas com glaucoma. Deste total, 900 mil são brasileiros. Além disso, são registrados 2,4 milhões de novos casos da doença pelo mundo, tornando a patologia a segunda maior causa de cegueira no mundo, perdendo somente para a catarata.

A estimativa da OMS é de que, até 2020, o glaucoma atinja 80 milhões de pessoas em todo o mundo. Porém, aproximadamente 50% dos acometidos não sabem que são portadores da doença.

“O glaucoma é uma doença ocular caracterizada pela lesão das células do nervo óptico, causada por fatores como a pressão ocular aumentada e problemas na microcirculação de sangue e da anatomia da papila óptica, local onde se unem os neurônios visuais que enviam as imagens para o cérebro”, explica o oftalmologista do Hospital 9 de Julho, Dr. Daniel Brainer.

A doença acontece por meio do aumento da produção de uma substância conhecida como humor aquoso, que se acumula na porção anterior do olho ou por uma dificuldade maior na drenagem deste líquido, segundo informa a Hypera Pharma.

Como acontece

De acordo com os dados da Novartis, o diagnóstico da doença passa, necessariamente, pelo entendimento de qual tipo de glaucoma está presente. Existem cinco variações da patologia:

Glaucoma primário de ângulo aberto: os sintomas não são detectáveis até um estágio avançado, a menos que o paciente visite o oftalmologista com regularidade. A pressão intraocular aumenta devagar, devido uma drenagem no líquido ocular menos eficiente que o normal. A córnea se adapta sem apresentar sinais, lesionando o nervo óptico e, consequentemente, provocando uma lenta e progressiva perda da visão.

Glaucoma de pressão normal: é uma forma da doença em que ocorre dano ao nervo óptico, sem elevação da pressão intraocular a níveis superiores do considerado normal. As causas deste tipo de glaucoma ainda são desconhecidas, mas apresentam maiores riscos às pessoas com histórico familiar de glaucoma de pressão normal, pessoas de descendência japonesa e pessoas com histórico de doença cardiovascular.

Glaucoma de ângulo fechado: também conhecido como glaucoma de ângulo estreito, acontece porque o ângulo entre a íris e a córnea é mais estreito do que o normal, dificultando a drenagem do líquido intraocular, causando aumento súbito da pressão dentro do olho. Os sintomas podem incluir dores de cabeça, dor nos olhos, náuseas, arco-íris em torno de luzes à noite e visão muito turva.

Glaucoma congênito: ocorre em bebês e crianças pequenas e é normalmente diagnosticado dentro do primeiro ano de vida. É uma condição rara que pode ser herdada ou causada pelo desenvolvimento incorreto do sistema de drenagem do olho antes do nascimento.

Glaucoma secundário: refere-se a qualquer caso de glaucoma em que outra doença causa ou contribui para o aumento da pressão intraocular. Pode acontecer como resultado de trauma ocular, inflamação, tumor, uso de medicamentos oculares ou sistêmicos, ou em casos avançados de catarata ou diabetes.

“O mais comum e também o mais silencioso é o glaucoma primário de ângulo aberto. Nesse caso, o paciente não apresenta dor ou vermelhidão ocular, apenas baixa de visão progressiva, quando a doença já está muito avançada”, alerta o oftalmologista do Hospital 9 de Julho.

Segundo o oftalmologista do Hospital Samaritano Higienópolis, Dr. Marcelo Cavalcante Costa, o glaucoma pode ocorrer em qualquer pessoa, de qualquer faixa etária, mas incide com mais frequência em pacientes acima dos 40 anos de idade. As pessoas com histórico familiar, ou seja, com pais ou avós que tiveram glaucoma, têm risco maior de apresentar a doença.

“A incidência de pacientes com 40 anos de idade é de 0,67%; com 50 anos de idade, 1,07%; acima dos 70 anos de idade, 6,1%. A incidência aumenta, também, em pessoas negras”, alerta o oftalmologista do Hospital CEMA, Dr. Minoru Fujii.

Cuidados que ajudam

O glaucoma não tem cura, mas tem tratamento e controle. O tratamento-padrão atual é dedicado quase exclusivamente para a redução da pressão dos olhos. A abordagem de primeira linha é farmacológica, com uso de colírios. Em casos de resistência à terapia medicamentosa, utilizam-se outros procedimentos, como laser e cirurgia”, diz o Dr. Brainer.

De acordo com o Dr. Fujii, entre os colírios utilizados, estão o betabloqueadores (reduzem a pressão intraocular por meio da diminuição da produção do humor aquoso); inibidores da anidrase carbônica (diminuem a secreção do humor aquoso pela inibição da anidrase carbônica no corpo ciliar); alfa-agonistas (diminuem a produção de humor aquoso e aumentam a circulação do líquido pelo disco óptico); e prostaglandinas (diminuem a pressão intraocular por aumentar a drenagem).

Orientações Corretas para aplicação do colírio

Como os colírios são os fármacos mais comumente usados, é necessário que o farmacêutico saiba orientar corretamente sobre o seu uso. A Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) tem um passo a passo para ajudar nas instruções:

1. Lavar bem as mãos.

2. Puxar suavemente a pálpebra inferior, formando uma bolsa.

3. Instilar uma gota do colírio na bolsa formada.

4. Evitar tocar a ponta do frasco na mão, nos cílios ou na pálpebra.

5. Fechar os olhos suavemente e, com os olhos fechados, ocluir o canal lacrimal por um minuto.

6. Só instilar a segunda gota se tiver certeza de ter errado a primeira gota.

7. Após a utilização, tampar o colírio e bater suavemente a base do frasco sobre a mesa ou outra superfície. Assim, todo o produto escorrerá para dentro do frasco, evitando desperdício na próxima vez que destampar.

8. Se utilizar mais do que um colírio e coincidir o horário de aplicação, aguardar, no mínimo, dez minutos entre eles.

Além disso, todos os colírios podem causar efeitos colaterais, como dor, coceira, desconforto, que variam conforme a sensibilidade de cada paciente. Caso a pessoa demonstre algum incômodo, é necessário orientá-la a visitar seu médico para a troca do medicamento, já que interromper o tratamento pode ser bastante prejudicial.

“As pessoas podem prevenir o glaucoma realizando avaliações oftalmológicas periódicas (uma vez por ano). Não tem como evitar a instalação dele, mas se o médico detectar a doença em uma fase inicial, pode-se evitar a cegueira. Há medicações que podem provocar o glaucoma também, como a cortisona. Todos os pacientes que fazem uso de medicação que causam glaucoma devem ser avaliados por um oftalmologista”, resume o oftalmologista do Hospital Samaritano Higienópolis.

Foto: Shutterstock

Polêmica nos fármacos

Edição 306 - 2018-05-01 Polêmica nos fármacos

Essa matéria faz parte da Edição 306 da Revista Guia da Farmácia.