Gravidez: nove meses de mudanças

O crescimento da barriga é visível a todos e, junto com ele, marcas e incômodos causados pelos hormônios e pelo ganho de peso durante o período da gravidez. nessa fase, A futura mãe passa por uma série de alterações, fato que exige cuidados específicos

Gerar um filho é um dos mais belos e esperados momentos na vida de muitas mulheres. Mas além das mudanças hormonais e da barriga crescendo, outras inúmeras alterações acontecem e podem incomodar a gestante.

De acordo com o ginecologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Eduardo Vieira da Motta, durante a gravidez, as alterações endócrinas, metabólicas, vasculares e imunológicas interferem no metabolismo da pele, favorecendo o aparecimento de condições estéticas como estrias, manchas no rosto, acne, “vasinhos”, entre outras.

“As estrias aparecem em cerca de 50% a 90% das mulheres grávidas, especialmente na segunda metade da gravidez. A maioria se desenvolve no abdômen, mas elas também podem surgir nas coxas, nos quadris, nas nádegas, nos seios e nos braços. Aparecem como pequenas depressões na cútis − rosadas em quem tem pele clara e esbranquiçadas em quem tem a pele escura”, diz ele.

O problema acontece pelo alongamento da derme, proporcionando a separação do colágeno ali presente. Apesar de não provocar dor, causa a sensação de formigamento e prurido. Alguns fatores favorecem o seu desenvolvimento, como a condição genética, o ganho de peso rápido e a condição nutricional.

Ainda mais comuns na vida da gestante estão as manchas na pele. Chamadas de melasma, elas se manifestam em diferentes partes do corpo como no abdômen, ao redor das auréolas e do umbigo. A ginecologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dra. Lidia Myung, comenta que o problema também pode intensificar manchas marrons na face da paciente.

Principais dúvidas das gestantes

Se o teste de farmácia der positivo, é possível ter certeza de que esteja grávida?

Existem situações raras que podem dar resultado falso-positivo no teste, como, por exemplo: morte fetal ocorrida logo após a implantação do embrião no útero; mulheres que tiveram mononucleose recentemente; alguns tumores trofoblásticos que produzem gonadotrofina coriônica humana (hormônio presente na gravidez); mulheres mais velhas, próximas da menopausa, podem ter presença de pequenas quantidades de hCG; mulheres que fazem tratamento para engravidar, que usam medicamentos à base de hCG.

Existem testes que dão resultado falso-negativo principalmente quando o exame foi realizado muito precocemente e os níveis de hCG ainda estão abaixo do limite, por isso é indicado que a mulher realize o exame somente após uma semana de atraso menstrual. No caso de mulheres com ciclos irregulares, é aconselhável realizar o exame após 14 dias de atraso.

Não pode usar creme no rosto?

Na lista publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em relação aos cosméticos, há restrições a componentes como cânfora, ureia acima de 3% e chumbo, que poderão estar presentes em inúmeros produtos.

Também não são indicados cosméticos que contenham ácidos normalmente presentes em produtos clareadores, antiacne e anti-idade. No caso do ácido retinoico, a atenção deverá ser redobrada, pois o indicado é que seja suspenso três meses antes de a mulher engravidar.

Não pode fumar?

A indicação é de que as mulheres que estão planejando engravidar abandonem o vício dois ou três meses antes. O cigarro pode desencadear partos prematuros, bebês abaixo do peso, descolamento de placenta com o risco de óbito fetal, além da diminuição do fluxo sanguíneo para o bebê devido à vasoconstrição.

Não pode pintar o cabelo?

Embora muitos fabricantes de tintura de cabelos informem que sejam produtos seguros para grávidas com a justificativa de que a quantidade absorvida não é suficiente para comprometer o feto, a prática deve ser evitada.

Os produtos podem conter componentes que são permeados pelo couro cabeludo. Além disso, o cheiro exalado poderá ser outro fator de risco. São necessários mais estudos para o uso seguro das tinturas durante a gravidez, portanto é aconselhável que elas sejam evitadas. Fatores como quantidade, qualidade, composição, técnica de preparação, tempo de exposição, período da gravidez e frequência de aplicação são determinantes e norteadores para a segurança do feto.

Não pode tomar nada de álcool?

Não se conhece qual é o consumo seguro de álcool durante a gravidez, já que não é possível realizar ensaios clínicos para a avaliação das consequências reais dos diversos níveis sobre o feto. Entretanto um fato já é estabelecido e justifica a não ingestão de álcool: o consumo regular afeta o bebê dentro do útero. Quando a gestante bebe, o álcool atinge rapidamente o feto por meio da corrente sanguínea e da placenta.

Se ficar muito tempo sem comer, poderá sentir mais enjôos?

O enjoo matinal (mas pode se manifestar em qualquer horário do dia) é muito comum no início da gestação e poderá estar ou não acompanhado de vômitos. Nesse caso, o indicado é que a alimentação seja realizada após as manifestações de enjoo e/ou vômito terem cessado. Há algumas situações em que a náusea e o vômito poderão ser mais frequentes, como no caso de mulheres que são ansiosas, tenham antecedentes de enxaqueca ou apresentem sensibilidade a odores e sabores específicos.

Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti

“Isso acontece por uma alteração hormonal em células responsáveis pela produção da melanina. É uma mudança que, depois da gestação, nem sempre volta ao normal. As manchas podem ser amenizadas, mas não há um tratamento que consiga evitá-las 100%”, explica ela.

O rosto, inclusive, deve ter uma atenção especial. Durante a gestação, há o aumento de um hormônio, o melanotropina, que estimula a produção de pigmentos em algumas áreas do corpo como o nariz, as bochechas e a testa, principalmente a partir do quarto mês. Essas manchas no rosto são chamadas de cloasma. A cada gravidez, a pigmentação tende a aumentar e, apesar de diminuírem após o parto, a redução não é completa.

“Assim como na face, também ocorre a pigmentação das células ao longo da linha que une do final do tórax ao púbis, passando pelo umbigo, formando uma linha escura, chamada de línea nigra. Essa faixa costuma aparecer a partir do terceiro mês”, revela o Dr. Motta.

O estímulo hormonal é responsável, ainda, por outras alterações. As glândulas sebáceas e o folículo piloso aumentam a oleosidade da pele, o que pode obstruir os poros e proporcionar a formação de acne e infecções locais. Além disso, elas favorecem que veias superficiais à pele se desenvolvam e fiquem mais evidentes, como pintas vermelhas ou pequenas “estrelas” – os famosos “vasinhos”.

Além da pele

Se a cútis pode apresentar algumas características não tão agradáveis para a mulher, ela não é a única que sofre com a gestação. A Dra. Lidia explica que a gestante fica embebida de progesterona. Quando ela não está grávida, esse hormônio só ocorre na ovulação, durante duas semanas. E é este hormônio que provoca os mesmos sintomas na mulher durante a tensão pré-menstrual (TPM), causando inchaço. Quando a mulher retém líquidos, acaba acentuando suas celulites.

“O inchaço da gravidez decorre do estímulo hormonal para reter líquidos necessários para a evolução da própria gestação. Ele será mais acentuado por condições alimentares como a maior ingestão de alimentos com sódio, como o sal de cozinha; pelo maior ganho de peso; pelo sedentarismo; e por condições anatômicas próprias da grávida. É importante lembrar que o inchaço, apesar de ser comum, também poderá ser decorrente de doenças como pressão alta ou mudança no funcionamento dos rins”, complementa o ginecologista do Hospital Sírio-Libanês.

Mas ainda que essas mudanças sejam decorrentes dos próprios estímulos hormonais e mecânicos da gestação e dependam, em certa medida, das condições próprias de cada gestante, alguns hábitos podem ajudar a atenuá-las ou evitá-las. É possível livrar-se do ganho excessivo de peso, manter a pele limpa, usar produtos dermatologicamente testados e adequados à gestação e evitar alimentos nutricionalmente ruins.

Carência nutricional

Em geral, todos os nutrientes têm o potencial de ser reduzidos quando a mulher está grávida, por isso é recomendado que a gestante faça suplementação com polivitamínicos para suprir essa maior demanda.

Nos três primeiros meses, o principal componente que se perde é o ácido fólico, o que pode causar deficiências neurológicas e na coluna dos bebês. O ideal é que a reposição da substância aconteça três meses antes de a mulher engravidar e nos três primeiros meses da gestação.
O ferro deve ser suplementado a partir da metade da gestação, assim como o cálcio e a vitamina D podem ser administrados durante todo o tempo, de acordo com recomendação médica.

Fontes: ginecologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Eduardo Vieira da Motta; e ginecologista da BP – A Beneficência Portuguesa, Dra. Lidia Myung

“Entre os cuidados que as mães devem ter está a prática de atividades físicas leves a moderadas com regularidade (três vezes por semana), principalmente as que não aumentem a pressão abdominal. Atividades na água, como hidroginástica e natação, são benéficas, pois a própria tensão da água ajuda na drenagem do corpo e na circulação das pernas”, frisa a ginecologista da BP.

A mulher deve estar atenta a cada mudança de acordo com a fase de sua gestação. Em geral, as varizes, as celulites e o inchaço são mais presentes nos três últimos meses, porque o volume do útero e do bebê aumenta, piorando a circulação das pernas e aumentando a retenção de líquidos.

Já o melasma costuma aparecer mais cedo, a partir da quarta semana, e se intensifica durante os últimos meses. O mesmo acontece em relação à oleosidade da pele e à consequente acne.

Foto: Shutterstock

Contra o tabagismo

Edição 309 - 2018-08-01 Contra o tabagismo

Essa matéria faz parte da Edição 309 da Revista Guia da Farmácia.