Gripes e resfriados: ocorrências de inverno

A baixa umidade, combinada com a queda de temperatura, cria o ambiente perfeito para a proliferação de doenças, que também aproveitam a aglomeração das pessoas nos meses mais frios do ano. Prevenção e tratamento ajudam a acabar com os sintomas

Algumas teorias explicam o porquê de se observar mais pessoas doentes em meses mais frios. Uma delas diz que a incidência dos vírus aumenta, pois a população fica mais aglomerada, facilitando a contaminação entre as pessoas. Outra justificativa é a falta de sol e, consequentemente, a falta de vitamina D, deixando o corpo com uma resposta imune deficitária.

Mas estudos científicos provaram que o vírus da gripe consegue sobreviver em temperaturas mais frias e se disseminar mais facilmente em ar com umidade reduzida. Ou seja, durante a temporada de outono e inverno, ele fica suspenso por mais tempo e atinge distâncias maiores.

“Quando a umidade do ar aumenta, quase não há transmissão ou não é tão importante a transmissão do vírus da gripe. Talvez as teorias estejam todas certas, como a de não arejar os ambientes ou de não ficar tão exposto ao sol, mas a questão do vírus provavelmente é a principal”, resume o infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. João Prats.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as gripes e os resfriados afetam em média de 10% a 20% da população mundial por ano. O boletim da OMS de novembro de 2018 publicou que, mundialmente, há predomínio do vírus Influenza A (H1N1) pdm09. No Brasil, neste último ano, foram notificados cerca de 34 mil casos de síndrome respiratória grave, com 25% confirmados para o vírus Influenza.

Só na região Sudeste, explica o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Marcelo Mello, foram registrados 46,3% dos casos. O Estado de São Paulo teve a ocorrência de dez mil casos, sendo que 17% evoluíram a óbito. Concentraram-se na região metropolitana de São Paulo 40% dos casos e 33% dos óbitos.

É importante ressaltar que o monitoramento das doenças não é simples. No caso da gripe, há dois tipos: as gripes leves, onde o controle é feito por hospitais que coletam dados aleatórios de pacientes para ter ideia de quais cepas estão circulando e, nos casos mais graves, as pessoas que estão internadas com suspeita de gripe. Já nos casos de incidência de resfriado é muito difícil ter um número, já que é uma doença mais leve e, muitas vezes, o paciente não chega a ir ao hospital.

“Os sintomas da gripe atingem o corpo todo, com febre de início repentino, tosse ou dor de garganta, dor de cabeça, dor nos músculos e nas articulações. Dá vontade de não sair da cama. Quadros de maior gravidade podem ser acompanhados de dificuldade para respirar. Já os resfriados são mais leves, não atingem o corpo todo, apresentam sintomas como nariz escorrendo e entupido, normalmente sem febre (ou febre baixa), e o organismo se recupera mais rápido”, diferencia a infectologista do Hospital Santa Catarina, Dra. Glaucia Verkulja.

Na prateleira

Conforme o número de pessoas que sofrem com gripes e resfriados no outono/inverno aumenta, crescem também as vendas de medicamentos relacionados às doenças, como antigripais e antitérmicos. Entre abril e agosto, as vendas são cerca de 40% maiores do que nos meses mais quentes (setembro a março).

Fonte: IQVIA

Alguns grupos merecem mais atenção. É o caso de gestantes; crianças de até cinco anos de idade e adultos com mais de 60; pessoas que tenham alguma doença pulmonar, cardiovascular ou diabetes; que estejam em tratamento de câncer ou que usem medicações que reduzem a defesa do organismo.

Contra a gripe

Para diminuir os casos e a possibilidade de aumentar a gravidade da gripe, todos os anos são realizadas campanhas de vacinação para os grupos de risco. A vacina, segundo o Dr. Mello, é considerada a forma mais eficiente de prevenção. Diferente de muitos mitos que circulam primeiramente na internet, ela não causa gripe, mas leva de duas a oito semanas para fazer efeito. Por isso o indivíduo pode ficar doente nesse período. Estudos demonstram que a vacinação pode reduzir em até 45% o número de hospitalizações decorrentes de complicações e em até 75% a mortalidade global.

A recomendação sobre a composição da vacina é feita sempre no segundo semestre de cada ano que antecede à temporada. A composição da vacina a ser comercializada ou utilizada no Brasil para a temporada de 2019 foi divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro de 2018.

Sendo assim, as vacinas influenza trivalentes que devem ser utilizadas em 2019 deverão conter, obrigatoriamente, três tipos de cepas de vírus em combinação, e deverão estar dentro das especificações determinadas.

As vacinas influenza quadrivalentes contendo dois tipos de cepas do vírus Influenza B deverão conter um vírus similar ao vírus Influenza B/Phuket/3073/2013 (linhagem B/Yamagata/16/88) adicionalmente aos três tipos de cepas comentadas acima.

Os efeitos do vírus Influenza A na imunidade

O otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Marcelo Mello, explica que o vírus Influenza A é constituído por glicoproteínas das membranas: hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). A HA é o principal antígeno viral, principal foco da maioria dos anticorpos.

O dano celular primário causa lesão no epitélio respiratório e a liberação de citocinas e mediadores inflamatórios secundários à infecção viral. A resposta imune depende predominantemente da imunoglobulina A (IgA) do trato respiratório, que promove a quebra das células infectadas. O organismo responde com um influxo de linfócitos e macrófagos que causam inflamação, vasodilatação e edema da mucosa do trato respiratório.

“Mutações da HA diminuem ou inibem a ligação de anticorpos do hospedeiro, permitindo o surgimento de novas cepas virais que se disseminam na população, uma vez que tais variantes podem escapar da imunidade desenvolvida por infecção ou vacinação prévia. O acúmulo de mutações pontuais é um mecanismo de variabilidade genética do vírus Influenza conhecido como variação antigênica e é a explicação molecular para as epidemias sazonais de gripe. O vírus Influenza B tem menor propensão para variação antigênica, mas pode causar quadros tão graves quanto os do vírus tipo A”, diz ele.

Além disso, o infectologista da BP frisa a importância de que 90% das pessoas (somando todos os grupos de risco) estejam vacinadas para que a imunização tenha seu efeito desejado na população.

“Todos devem tomar a vacina, em especial as pessoas com maior risco de complicações, como, por exemplo, os idosos; os menores de cinco anos de idade; as grávidas; as pessoas com problemas crônicos no pulmão, coração, fígado, rim ou diabetes; as com deficiência na defesa do organismo (por exemplo: que recebem quimioterapia ou que vivem com o vírus HIV/AIDS); e as obesas”, comenta a Dra. Varkulja.

Resultados na farmácia

É importante que as farmácias deem mais atenção aos medicamentos destinados ao tratamento da gripe e do resfriado nos meses mais frios. Por conta da sazonalidade, a categoria de antigripais acaba sendo destino/gerador de tráfego para as lojas. É fundamental garantir o estoque correto, realizando análises do incremento de venda de antigripais e antitérmicos no período do outono/inverno versus os demais períodos do ano. Entender o giro dos principais SKUs (sigla em inglês para Stock Keeping Units; Unidades de Controle de Estoque, em português) destas categorias, em especial, é de suma importância para o correto abastecimento e para evitar que vendas sejam perdidas por problemas de ruptura.

“Em relação ao mix, vai depender se o posicionamento da loja adota uma estratégia com foco maior em sortimento ou em conveniência, e também do tamanho destinado à exposição da categoria. Mas é importante trabalhar com pelo menos três opções de marcas, incluindo a marca líder, para dar opções de escolha ao shopper”, explica a professora da ESPM e consultora de varejo, Alice Amigo.

10 dicas de prevenção contra gripes e resfriados

  1. Todo cuidado é pouco, então o ideal é que os pacientes saibam como se prevenir e ajudar outras pessoas a não ser infectadas pelo vírus da gripe ou do resfriado:
  2. Lavar as mãos com água e sabão várias vezes ao dia, especialmente após o contato com pessoas infectadas, o manuseio de equipamentos compartilhados e o uso de transporte público;
  3. Carregar na bolsa ou na mochila álcool gel 70% para, quando necessário ou na falta de água e sabão, higienizar as mãos;
  4. Evitar colocar a mão no rosto, especialmente na boca, no nariz e nos olhos;
  5. Boa higiene respiratória – cobrindo boca e nariz ao tossir ou espirrar, usando lenços e descartando-os corretamente;
  6. O ideal é sempre manter o ambiente arejado e as janelas abertas. Evitar ambientes fechados e sem ventilação, pois favorecem a circulação e a multiplicação dos diversos tipos de vírus respiratórios;
  7. Autoisolamento precoce daqueles que se sentem mal, febris e com outros sintomas de influenza;
  8. Vacinar-se anualmente (principalmente as pessoas que estão em grupos de risco). Existem diversos tipos de vírus da gripe e, a cada ano, a vacina é direcionada de acordo com aqueles que estão circulando, para aumentar a eficácia;
  9. Praticar atividade física e alimentar-se bem para fortalecer o sistema imunológico;
  10. Evitar aglomerações e proximidade com pessoas doentes;
  11. Apesar de não ser tão comum no Brasil, usar máscara ajuda a evitar que as outras pessoas se contaminem com os vírus.

Fontes: infectologista do Hospital Santa Catarina, Dra. Glaucia Varkulja; infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. João Prats; e otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Marcelo Mello

O ideal é que sejam agrupados por marca, e a categoria separada por referência e genéricos. É importante ter atenção ao facing dos produtos na gôndola, garantindo o espaço na prateleira condizente com as vendas e o giro, para evitar rupturas.

Além disso, segundo a especialista, capacitar o time pode ser uma boa estratégia para o aumento das vendas. Um bom atendente ouve com atenção as necessidades do cliente para buscar atender ou superar as expectativas do mesmo, e ainda faz vendas adicionais. Por exemplo, o cliente pode ir à loja para comprar um antitérmico e o atendente pode perguntar se ele também deseja um termômetro. Ou ainda investigar se ele foi diagnosticado com gripe e teria interesse em levar um antigripal.

Foto: Shutterstock

Novos preços

Edição 317 - 2019-04-04 Novos preços

Essa matéria faz parte da Edição 317 da Revista Guia da Farmácia.