Problemas emocionais podem desencadear uma série de doenças, como depressão, e até mesmo hipertensão arterial. Afinal, o corpo físico reflete as emoções e os pensamentos, e se algo está em desequilíbrio, a saúde fica em risco.
Silenciosa, a hipertensão tradicional é causa de 60% dos infartos e 80% dos casos de Acidente Vascular Cerebral (AVCs) no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Porém, recentemente, um estudo realizado pela American Heart Association mostrou que a taxa de mortes por pressão alta aumentou 13% na última década. E o Brasil aparece em sexto lugar neste ranking, que abrange dados de 190 países.
Segundo o cardiologista e especialista em hipertensão arterial do HCor, Dr. Celso Amodeo, a pressão arterial emocional acontece quando o paciente fica sensivelmente envolvido com alguma ocorrência, seja triste ou alegre.
“As duas situações provocam descargas adrenérgicas, estímulo para produção de determinados hormônios na circulação, que são ligados aos quadros emocionais, que levam ao aumento da pressão arterial”, explica o médico.
Como fugir do estresse e evitar o aumento da hipertensão emocional
Acompanhamento médico regular é sempre indicado, mas outras formas também são orientadas pelos profissionais para melhorar o estilo de vida, como atividades físicas ao ar livre, técnicas de relaxamento, exercícios de respiração, leitura, assistir a um filme sozinho ou com a família, reservar tempo para lazer e descanso.
“Estamos em uma pandemia, mas ainda é permitido sair nas ruas para uma caminhada individual e acompanhado da sua máscara, além da bicicleta ou corrida. Toda atividade feita com prazer vai ajudar no controle das emoções do estresse emocional. A dança, por exemplo, é um excelente remédio para a hipertensão emocional, assim como ouvir música em casa, ler um bom livro, se afastar das más notícias ou a prática do yoga.
Estas são algumas medidas que vão auxiliar para alívio a hipertensão emocional”, explica o diretor médico de Cateterismo Cardíaco do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dr. Silvio Gioppato.
O Portal do Ministério da Saúde (MS) aponta a hipertensão como uma doença grave. A pressão alta faz com que o coração precise exercer um esforço maior que o normal para que o sangue seja distribuído pelo corpo. Assim, danificam-se as artérias e dilata-se o coração.
Em 95% dos casos, o problema é herdado dos pais, mas fatores que influenciam os níveis de pressão arterial, como hábitos de vida, também causam a doença.
De acordo com a SBC, apesar de a doença ser assintomática na maioria dos casos, em quadros mais graves, o paciente pode sentir dor de cabeça, sonolência e cansaço ao fazer atividade física. É considerada hipertensa uma pessoa com pressão arterial igual ou superior a 14 por 9 em repouso, na maior parte do tempo.
Estresse x pressão alta
O estresse aumenta o ritmo cardíaco, acelera a respiração, libera adrenalina, noradrenalina e cortisol, colocando o corpo em um estado de alerta. Até certo ponto este é um quadro normal, que coloca o corpo pronto para ação. No entanto, uma sobrecarga desses hormônios é extremamente prejudicial para a saúde.
A hipertensão emocional causada pelo estresse é mais comum do que se imagina. Quando a pessoa sente que está a “ponto de explodir” com tantos sentimentos e pensamentos acumulados, reprimem-se reações químicas que, quando não liberadas, geram o estresse e todos os seus efeitos negativos, como a pressão alta.
A piora na qualidade no sono também é um alerta do especialista do HCor. Segundo ele, os hormônios que protegem o coração são produzidos à noite. Por isso, a importância do valor que dá ao período de descanso noturno. “Quem dorme de maneira irregular de forma constante pode ter alteração de hormônios neuro-humorais da circulação arterial”, explica.
Como controlar?
A pressão alta exige acompanhamento médico regular e, em alguns casos, até mesmo uso de medicação regular. O diretor médico de Cateterismo Cardíaco do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dr. Silvio Gioppato, explica que quando a pressão arterial reflete puramente a causa emocional, o tratamento se fixa na causa, ou seja, naquilo que está provocando o desequilíbrio emocional, que pode ser uma situação no trabalho ou em casa.
“A pessoa terá de encontrar mecanismo para resolver esse estado de tensão, seja dentro do trabalho ou do relacionamento pessoal”, explica o médico. “Apesar de todas as medidas para o controle do estresse não alcançarem efeito no controle da hipertensão, existe a necessidade do controle por medicamentos, para que se possa potencializar o efeito do controle da pressão arterial”, conta o Dr. Gioppato.
Porém, o mais importante é focar em uma mudança de estilo de vida que reduza o estresse e todas as outras causas da pressão alta emocional. O médico sinaliza que ao chegar ao diagnóstico, deve-se atacar a raiz do problema, adotando um novo estilo de vida.
“Os caminhos passam por procurar viajar, conviver mais com a família e ter válvulas de escape, não levando problemas para casa, para que o organismo não reaja com o aumento da frequência cardíaca”, avalia o especialista da Unicamp.
O psicólogo Marcos Raul de Oliveira é enfático ao afirmar que a terapia nesses casos é tão importante quanto aos demais métodos indicados para pacientes com quadros como esses. “Muitos estudos comprovam que o tratamento médico associado ao psicológico representa ganhos significativos aos pacientes, onde separados, ambos perderiam grandes fortalecimentos.”
Covid-19 e a hipertensão dos brasileiros
Como a hipertensão é bastante prevalente na população, há uma preocupação das autoridades de saúde com esse grupo. Isso porque a doença crônica acomete cerca de 25% dos adultos brasileiros, de acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).
Quando se associa o coronavírus e hipertensão, não é certo afirmar que pacientes crônicos têm mais risco de ter a Covid-19. O que ocorre é que, quando os hipertensos se contaminam, há mais chances de eles desenvolverem complicações mais sérias, exigindo a internação.
“Com certeza, a pandemia exige distanciamento social – uma ferramenta poderosa de controle da infecção que tem seu lado ruim, afastando pessoas e famílias, impactando diretamente no sistema emocional e em no Sistema Nervoso Central (SNC), provocando aumento da hipertensão e da frequência cardíaca, chamado de estresse pandêmico. É um momento difícil e que pode, naquelas pessoas mais susceptíveis, causar problemas cardiovasculares, levando ao quadro de infarto”, analisa.
Para o médico do HCor, a cada dia que passa, as pessoas estão levando um estilo de vida mais desfavorável devido à pandemia, diminuíram as atividades, fumam mais, ingerem muito álcool e o nível de ansiedade aumentou.
Fonte: Guia da Farmácia
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