Hipertensão pode ser controlada na farmácia

Causada por diversos fatores, a pressão alta pode ser avaliada e controlada dentro da farmácia. Quando crônica, precisa de cuidados especiais durante a vida toda

Um cano obstruído faz com que a água precise de mais fluxo para passar por ele. Essa é, basicamente, uma explicação simplificada para o que é a hipertensão. A doença, também conhecida como pressão alta, acontece quando existe um aumento da pressão dentro dos vasos sanguíneos, causada principalmente pela obstrução deles.

“A hipertensão arterial é uma doença crônica que se caracteriza por um aumento da pressão arterial acima de 140 mmHg para a pressão sistólica e 90 mmHg para a pressão diastólica, segundo os critérios da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)”, explica o cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, Dr. André Luppe.

Para diagnosticar a doença, é preciso medir a pressão em um lugar tranquilo. O cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Rodrigo Noronha, explica que não adianta aferir em um momento de estresse. A medida da pressão arterial é feita com o paciente sentado, em ambiente tranquilo. Se a pressão estiver acima de 140 mmHg por 90 mmHg, é considerada alta.

Além disso, medir apenas uma vez a pressão não faz com que a hipertensão seja diagnosticada. Às vezes, são necessárias duas ou três medidas em momentos diferentes. “Em estudos recentes, provou-se que pacientes com pressão arterial de 120 mmHg têm menos eventos cardiovasculares do que aqueles com 140 mmHg ou mais. Ou seja, um bom controle da pressão arterial traz um impacto nos eventos cardíacos”, alerta o médico.

A pressão mais baixa só se torna um problema se o paciente começa a ter sintomas como: sensação de como se a pilha estivesse acabando, falta de consciência, tontura e dificuldade de fala.

Já a pressão alta pode causar muitos problemas. De acordo com o Dr. Noronha, a hipertensão é uma das principais causas de comorbidades cardiovasculares e a maior causa de Acidente Vascular Cerebral (AVC).  Além disso, como acomete todos os vasos, pode afetar o coração, causando infarto e dificuldade de o coração bombear o sangue. Pode levar, ainda, à doença renal e a alterações visuais.

“Existem dois tipos básicos de hipertensão arterial, baseados nos mecanismos que levam à doença: a primária (ou essencial) e a secundária. Na hipertensão arterial primária ou essencial, a predisposição genética está associada a alguns fatores de risco, como obesidade, alto consumo de sal, sedentarismo, etilismo, idade avançada e etnia. Já na hipertensão arterial secundária, a doença ocorre como consequência de uma outra patologia ou condição que eleve a pressão arterial, como o uso de drogas ilícitas, uso de algumas medicações, doenças renais e endocrinológicas, obstruções das artérias renais e apneia obstrutiva do sono”, comenta o Dr. Luppe.

Campanhas de prevenção

O programa “Hipertensão em Dia”, da Assistência Farmacêutica Avançada [desenvolvido pela Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma)], visa à orientação sanitária individual, à elaboração de um perfil farmacoterapêutico, à vigilância farmacológica e ao acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes.

O farmacêutico deve realizar uma avaliação global do controle pressórico e dos fatores de risco cardiovascular do paciente. Após a avaliação, pacientes sob tratamento anti- -hipertensivo podem aderir ao programa de acompanhamento, onde são feitas avaliações periódicas e orientação continuada sobre a adesão ao tratamento, uso correto de medicamentos e mudanças no estilo de vida.

Para o cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Rodrigo Noronha, fazer campanhas é um ponto-chave do trabalho com o paciente, pois a farmácia é o lugar onde a pessoa vai comprar sua medicação. As informações sobre o estilo de vida são extremamente importantes para que haja um impacto positivo no controle.
Elas também são essenciais na manutenção do tratamento, porque muitos pacientes acham que estão curados e abandonam os medicamentos. Por isso uma campanha associada ao tratamento da hipertensão para conscientizar o paciente é muito importante.

Quando a doença é causada por fatores internos, como hereditariedade, idade ou raça, o tratamento da hipertensão deve ser feito de maneira contínua, pois ela não tem cura. Mas quando a causa são alguns fatores externos, o problema ainda pode ter solução.

É o caso, por exemplo, de pacientes extremamente obesos. De acordo com o Dr. Noronha, quando somente essa é a causa da hipertensão, com um controle de peso adequado, atividades físicas e hábitos saudáveis, alguns pacientes deixam de ser hipertensos. Porém a orientação de tomar ou não um medicamento sempre deve ser feita pelo médico.

Tratamento e prevenção

A pressão alta deve ser evitada durante a vida toda, pois é uma consequência do que foi feito durante os anos anteriores. As pessoas que se mantêm saudáveis ao longo dos anos têm menos chances de desenvolver a doença.

“Em indivíduos com mais de 40 anos de idade ou com algum fator de risco para hipertensão, recomenda-se avaliação médica anualmente. Como medidas preventivas, aplicáveis a todas as pessoas, recomendam-se hábitos de vida saudáveis, prática de atividades físicas regulares, redução da obesidade e sobrepeso, abandono do tabagismo, evitar o consumo de bebidas alcoólicas em excesso e redução do consumo de sódio”, cita o Dr. Luppe.

Para a vida toda

A hipertensão é uma doença crônica que exige tratamento contínuo. O paciente hipertenso deve ser acompanhado periodicamente para o controle adequado da sua pressão, ajuste da medicação, avaliação clínico-laboratorial para outras doenças e complicações cardiovasculares.

Fonte: cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, Dr. André Luppe

Com relação ao sal, uma dieta com mais de 3 g de sódio por dia aumenta o risco de hipertensão. Por isso recomenda-se estar atento ao teor de sódio dos alimentos industrializados e evitar ao máximo o consumo daqueles com teores acima da média. A quantidade de sal colocada no preparo das refeições deve ser reduzida e deve-se evitar o saleiro à mesa.

Uma vez que o paciente apresente valores alterados de pressão, o médico prosseguirá com uma investigação clínica buscando outros fatores de risco cardiovascular e possíveis complicações da hipertensão sobre o organismo, os quais indicarão a melhor forma de tratamento. Em caso de hipertensão arterial secundária, o controle passa também pelo tratamento da condição que a originou.

“O tratamento medicamentoso também é muito importante. Existem vários fármacos seguros, de várias classes, que devem ser utilizados de forma contínua. A doença não tem cura, tem tratamento”, frisa o cardiologista da BP.

Entre os medicamentos disponíveis estão os diuréticos, que eliminam o sódio e a água; os inibidores da enzima conversora da angiotensina, também indicados em outras situações, como em insuficiência cardíaca e infarto agudo do miocárdio; os bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II; entre outros.

As medidas para o tratamento em crianças são parecidas com aquelas utilizadas em adultos – mudanças de estilo de vida e tratamento medicamentoso são as opções. De acordo com o cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, com o aumento da obesidade em crianças e adolescentes, o risco de hipertensão nessas faixas etárias se elevou. É importante enfatizar a educação de hábitos de vida saudáveis o quanto antes, principalmente com relação à alimentação, devido à exposição a altos níveis de sódio em dietas industrializadas. Adquirir o hábito de ler o rótulo e ensinar as crianças a fazê-lo deve ser estimulado.

Dentro do mapa

No Brasil, estima-se que 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos e mais de 60% dos idosos sofram com a hipertensão, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular, segundo os Arquivos Brasileiros de Cardiologia – desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Ainda segundo o documento, existe uma associação direta e linear entre o envelhecimento e a prevalência da doença, relacionada ao aumento da expectativa de vida da população brasileira – atualmente de 72,9 anos – e ao crescimento da população de idosos com 60 anos de idade ou mais na última década.

Aferição da pressão arterial

  • Deixar o paciente em repouso de três a cinco minutos em ambiente calmo.
  • Orientar o paciente a não conversar durante a medição.

Posicionamento:

  • O braço deve estar na altura do coração, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e as roupas não devem garrotear o membro;

Certificar-se de que o paciente não:

  • Está com a bexiga cheia;
  • Praticou exercícios físicos há pelo menos 60 minutos;
  • Ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos;
  • Fumou nos 30 minutos anteriores.

O paciente deve estar sentado, com as pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado.

  • Medir a pressão na posição de pé, após três minutos, nos diabéticos idosos e em outras situações em que a hipotensão ortostática possa ser frequente ou suspeitada.

Fonte: Arquivos Brasileiros de Cardiologia – desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)

“A proporção da doença na população vem se mantendo constante, porém, com o aumento populacional e seu envelhecimento, o número de indivíduos doentes vem aumentando. As doenças cardiovasculares são hoje a principal causa de morte no mundo, sendo que a hipertensão arterial contribui direta ou indiretamente para 50% das mortes por esse tipo de doença. Este dado preocupa bastante, principalmente por tratar-se de uma doença que cursa com poucos ou nenhum sintoma”, frisa o Dr. Luppe.

A última diretriz da SBC estima um predomínio da doença em homens, com uma prevalência no sexo masculino em torno de 40,1%, contra 32,2% no feminino. Além disso, de acordo com a faixa etária, a chance de desenvolver a doença entre os 18 e 29 anos é de 2,8%; dos 30 aos 59 anos, de 20,6%; dos 60 aos 64 anos, sobe para 44,4%; de 65 a 74 anos, é de 52,7%; e alcança 55% após os 75 anos.

Foto: Shutterstock

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Edição 316 - 2019-03-15 Você conhece o seu cliente?

Essa matéria faz parte da Edição 316 da Revista Guia da Farmácia.