Homeopatia como terapia alternativa

A técnica busca um reequilíbrio do organismo, mexendo na forma com que o paciente reage a alguns estímulos. O primeiro passo é entender seus princípios e como esses medicamentos funcionam

Buscar novas formas de prevenção e tratamento, que contenham menos componentes artificiais e mais naturais. A mudança do estilo de vida da população faz com que novas terapias sejam uma alternativa de escolha e ganhem espaço nas gôndolas de farmácias e drogarias, como os medicamentos homeopáticos.

A homeopatia é uma opção terapêutica desenvolvida a partir de um método criado pelo médico Samuel Hahnemann (1755-1843), que consiste em aplicar uma substância altamente diluída capaz de produzir efeitos semelhantes aos que o paciente apresenta. No Brasil, é também uma especialidade médica reconhecida pela Associação Médica Brasileira (AMB). Baseia-se na Lei dos Semelhantes ou Lei Natural da Cura em que se observa que o “semelhante pode curar o semelhante”.

De acordo com o pediatra e homeopata formado pelo Centro de Pesquisa e Aperfeiçoamento em Homeopatia (Cepah) com título de especialista em homeopatia pela Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), Dr. Moises Chencinski, a homeopatia é um tratamento (do grego homós = semelhante, pathós = sofrimento ou doença), que busca transformar o estado de doença em saúde, administrando, em doses mínimas, substâncias capazes de provocar, no homem são e sensível (experimentação com anotação e sistematização dos sintomas apresentados), manifestações semelhantes (não iguais, não as mesmas, segundo a Lei dos Semelhantes) àquelas apresentadas pelo próprio paciente.

Princípios da homeopatia

A homeopatia é embasada em quatro pilares básicos: Lei dos Semelhantes; Experimentação em homem são e sensível; Doses infinitesimais; e Medicamento único.

Para esclarecer cada um dos princípios, a diretora farmacêutica da Boiron Brasil, Maria Isabel de Almeida Prado, explica como eles funcionam:

Lei dos semelhantes

É uma lei natural de cura que foi observada por Hipócrates no século 5 a.C. e que foi amplamente estudada por Hahnemann. As substâncias que, em doses ponderáveis, tóxicas ou fisiológicas, forem capazes de provocar no indivíduo aparentemente sadio, porém sensível, um conjunto sintomático determinado, podem, igualmente, em outros indivíduos doentes e sensíveis, fazer desaparecer os sintomas semelhantes, se forem utilizadas em doses hipofisiológicas. 

Em outras palavras, a homeopatia estimula a reação do organismo de forma similar aos sintomas da doença. Segundo o princípio da cura pelo semelhante, se um indivíduo receber um medicamento sem ter uma patologia, ele passará a apresentar sintomas. Mas se receber o mesmo medicamento estando doente, esses sintomas serão anulados.

Experimentação em homem são e sensível

A homeopatia não faz testes em animais, pois cada espécie possui uma reação própria, diferente da reação dos seres humanos. Hahnemann iniciou os testes dos medicamentos primeiramente em si mesmo. As drogas são testadas em dose hipotóxica e em dose dinamizada, além do conhecimento adquirido por meio das intoxicações, de maneira a revelar todos os sintomas. 

Dessa forma, são observados todos os sintomas apresentados no experimentador, sejam eles físicos, funcionais, emocionais ou mentais. As sensações resultantes são compiladas; a esse conjunto de manifestações apresentadas pelo indivíduo sadio e sensível, durante a experimentação da droga, foi dado o nome de patogenesia. E o conjunto de quadros experimentais devidamente catalogados, ou patogenesias, constitui uma matéria médica homeopática.

Doses infinitesimais

Para evitar o agravamento inicial dos sintomas, Hahnemann passou a diluir as substâncias numa escala centesimal progressiva. Assim, obteve ótimos resultados, pois os medicamentos preparados por essa técnica, além de apresentarem uma redução das agravações dos sintomas observadas nas doses maciças, adquiriram maior potencial curativo. Esse processo farmacotécnico, denominado por ele de dinamização, promove curas mais rápidas e suaves.

Medicamento único

Ao observar e estabelecer sua metodologia de experimentação em homem sadio, Hahnemann estudou cada medicamento isoladamente a fim de obter as patogenesias dos fármacos. Por isso, eram administrados isoladamente, um por vez, por ser mais racional e para evitar interações entre diferentes fármacos.

Escolhendo o tratamento

A homeopatia é reconhecida por ser uma boa forma terapêutica preventiva, mas, de acordo com o Dr. Chencinski, cada caso é um caso e precisa ser avaliado individualmente.

Além disso, Maria Isabel destaca que cabe ao profissional de saúde, médico ou farmacêutico, orientar o seu uso. No caso de doenças agudas, os medicamentos homeopáticos atuam rapidamente, como, por exemplo, na gripe. São também eficazes em doenças crônicas, atuando no terreno do paciente e no seu modo reacional, exigindo acompanhamento clínico.

“Para um paciente em crise de asma aguda, podemos usar a homeopatia (desde que avaliado por um médico, em consulta). E a ação desse medicamento é rápida. Já para que um paciente tenha seu quadro de asma controlado (doença crônica), pode ser indicado outro medicamento, mas que, devido ao fato de ser uma situação mais antiga, pode requerer um tempo maior e acompanhamento”, esclarece a especialista. 

Quem consome a homeopatia

A grande maioria dos consumidores conhece bem a homeopatia e já faz tratamento utilizando esses produtos. Assim, o paciente já busca algo específico. 

Mas há um público que se destaca, como mostra a gerente de marketing da Boiron Brasil, Camila Fuscaldo. “Na sua maioria são mulheres. Isso porque elas geralmente são as responsáveis por comprar medicamentos para a família”. Existe também, hoje em dia, uma tendência das mães em procurarem medicamentos com menos riscos e efeitos colaterais para seus filhos e isto inclui os homeopáticos. Além disso, são mulheres preocupadas com bem-estar, saúde e segurança na hora de tomar medicamentos que são eficazes e não agridem o organismo.

 

Por ser uma terapêutica reacional, ela depende da capacidade do paciente em reagir aos estímulos do medicamento. “O tempo de tratamento homeopático pode variar. Cada caso é individual e deve ser avaliado em função da gravidade e melhora dos sintomas”, avalia Maria Isabel.

Cada paciente tem uma forma particular de reagir aos estímulos que dependem de vários fatores (idade, outras doenças associadas, doenças anteriores, tratamentos anteriores que já foram usados, etc.). 

“Se um indivíduo tem uma dor de cabeça há 15 anos e for tratado com homeopatia, necessitaremos, em média, de dois anos de tratamento para que haja um reequilíbrio e não precise mais tomar medicamentos para isso. Isso não quer dizer que a pessoa ficará tomando medicamentos durante todo esse tempo e nem que terá dores de cabeça por todo o período. Isso significa que precisará passar por consultas, acompanhamento e, quem sabe, fazer uso de medicamentos para não ter mais este incômodo”, explica o Dr. Chencinski. 

Como trabalhar a categoria

A homeopatia é uma categoria que vem crescendo no varejo farmacêutico. Por esse motivo, a gerente de marketing da Boiron Brasil, Camila Fuscaldo, destaca que é importante que as lojas tenham uma categoria de homeopatia definida e treinamentos frequentes para que os farmacêuticos e balconistas tenham segurança na hora da indicação. 

“Recentemente, por exemplo, a Boiron realizou uma ação na rede de drogarias Araújo, em Minas Gerais, e disponibilizou ‘homeoconsultores’ para dar dicas e explicar mais detalhes sobre tratamento e prevenção de doenças com homeopatia.”

Para a farmacêutica especializada em marketing de varejo da Ferrara Soluzioni, Tatiana Ferrara Barros, essa categoria é bem diferenciada. A filosofia da homeopatia é diferente, bem como o mecanismo de ação dos medicamentos homeopáticos. “Assim, o primeiro passo é entender os princípios da homeopatia e como os medicamentos funcionam. Outro ponto é a exposição desses produtos, pois o cliente precisa saber que a farmácia oferece esta opção.”

Mas se a pessoa está com uma dor de cabeça agora, não dá para esperar dois anos para reequilibrar o organismo para cuidar desta patologia. Assim, a homeopatia também age nessa área, com medicamentos que podem ser iguais ou diferentes do “medicamento de fundo”, mas administrados com a mesma fundamentação, à base da semelhança, apenas em forma diferente (método plus, doses repetidas várias vezes ao dia, etc.) para atingir o objetivo mais rapidamente, às vezes, do que com outro tipo de tratamento medicamentoso ou não.

“Concluindo: não confunda demorado com prolongado. O fato de dizermos que o tratamento pode ser longo não quer dizer que o paciente terá sintomas durante esse tempo todo. É possível melhorar bem rapidamente, em pouco tempo de tratamento. Porém, poderá ser necessário manter o tratamento por um tempo prolongado para retornar ao seu equilíbrio, sem necessidade de usar qualquer medicamento continuadamente”, finaliza o especialista. 

Foto: Shutterstock

Brasileiro deixa a desejar

Edição 297 - 2017-08-01 Brasileiro deixa a desejar

Essa matéria faz parte da Edição 297 da Revista Guia da Farmácia.

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