Imunidade sempre alerta

Uma verdadeira barreira de combate às agressões externas. Assim é a capacidade que um organismo vivo tem de se proteger, principalmente, contra as doenças

Quem nunca ficou resfriado e ouviu: “você deve estar com a imunidade baixa”. A frase pode ser atribuída a uma série de doenças corriqueiras e até mesmo a situações mais sérias. Mas o que ela realmente quer dizer? Antes de tudo, é preciso esclarecer que as pessoas já nascem com a imunidade pronta ou inata. Essa é a primeira barreira que o ser humano possui contra as agressões ao organismo e é representada pelas barreiras físicas, químicas e biológicas. “Esta imunidade se forma por meio de células especializadas e moléculas solúveis presentes em todos os indivíduos, independentemente de contato prévio com imunógenos ou agentes agressores”, explica a hematologista do Hospital Moriah, Dra. Regina Biasoli. Segundo ela, o sistema imunológico é formado pelas células de defesa e por barreiras físicas no corpo, como a pele e a acidez do estômago, que atuam evitando a entrada de microrganismos ou combatendo infecções quando o organismo fica doente.

Suplementação pode se fazer necessária

O uso de suplementos alimentares e vitamínicos só é necessário quando a dieta alimentar não é suficiente para que o indivíduo atinja as necessidades diárias de nutrientes. Um exemplo é quando há falta de elementos que possam comprometer a imunidade, como deficiência de vitamina D, ferro e zinco. Outro fator que contribui para uma boa imunidade é ter uma boa microbiota. “É importante ter uma boa flora intestinal, que auxilia para que o sistema imunológico se mantenha mais estável e equilibrado e não facilite infecções”, diz a Dra. Ana Paula.

A imunidade é a principal função do sistema imunológico, oferecendo defesa e tornando o indivíduo imune a agentes infecciosos ou nocivos. Como já se sabe, boa parte dela se forma desde a vida intrauterina, mas se aperfeiçoa nos primeiros anos de vida. “Nosso sistema fica totalmente pronto aos dez anos de idade e depois dos 50 anos pode piorar, em um processo denominado imunossenescência”, explica a imunologista e membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Dra. Ana Paula Moschione Castro. Ela reforça ainda que, quando alguém fala em imunidade baixa, é preciso esclarecer esse conceito, já que esse esquema de defesa é muito complexo. “Defeitos neste sistema podem ocasionar doenças que, às vezes, são muito graves, mas no dia a dia ele funciona bem. Entretanto há momentos na vida, como desnutrição, estresse, infecções ou uso de medicamentos, que são prejudiciais e deixam o organismo mais suscetível ao surgimento de patologias”, diz. Para ela, as doenças imunológicas podem ser medidas através de exames, mas esta queda ou disfunção é mais difícil de avaliar. A Dra. Ana Paula conta que a imunidade pode variar de pessoa para pessoa. “O indivíduo não tem um defeito no sistema imunológico, mas pode estar com a imunidade um pouco comprometida e isso depende da idade ou se há alguma doença associada, como, por exemplo, diabetes, problemas renais e desnutrição. Tudo isso pode comprometer a imunidade como um todo”, esclarece.

Alimentos bons para a imunidade

Ricos em:

  • Vitamina C: morango, laranja, acerola, goiaba;
  • Vitamina A: óleo de peixe, cenoura, abóbora, entre outros;
  • Vitamina E: sementes de girassol, germe de trigo, amendoim, avelãs;
  • Zinco: leguminosas como feijão, grão de bico, lentilha;
  • Selênio: castanha do Pará, arroz, frango, farinha de trigo;
  • Magnésio: beterraba, banana, uva, aveia, abacate.

Além desses, o uso de própolis, gengibre, pimenta, cebola e alho, por exemplo, também é indicado para melhorar a resposta imunológica do organismo.

Fonte: nutricionista Elizabeth Panisset

Vale ainda dizer que a baixa imunidade representa uma diminuição das defesas do organismo contra parasitas como vírus, bactérias e fungos, que acabam causando doenças frequentes. “Algumas diminuem naturalmente a imunidade do organismo, como Aids, lúpus, câncer, anemia, obesidade, desnutrição e alcoolismo. Não há um exame específico para detectar a baixa imunidade, mas alguns sinais são bem importantes, como infecções recorrentes, febre constante e interpretação, em conjunto, de exames indiretos de rotina, que junto com o exame físico médico podem levar a esta conclusão”, alerta a Dra. Regina. Ela relata alguns sinais de que algo pode não estar bem com a imunidade do indivíduo. “Mais de duas pneumonias em um ano, estomatites de repetição ou monilíase recorrente por mais de dois meses, oito ou mais otites no período de um ano, abscessos de repetição, já ter tido infecção grave como septicemia ou meningite, infecções intestinais de repetição etc.”, fala.

Não há como mensurar o número de pessoas que possam apresentar problemas com imunidade. Segundo a Dra. Ana Paula, o que se sabe é que uma para cada 800 pessoas pode ter algum problema. “Mas existem, por exemplo, as doenças alérgicas que são muito frequentes e que também estão relacionadas à imunidade, uma interpretação inadequada do sistema imunológico”, diz.

Estabilidade é a chave

Estar com a imunidade “em dia” significa ter um sistema estável. A Dra. Ana Paula esclarece que não existe o conceito imunidade alta. “Existem doenças autoimunes, que são uma desregulação. O sistema de defesa se atrapalha e começa a atacar o organismo. Isso não é imunidade alta, se chama autoimunidade”, explica. Segundo a médica, para manter a imunidade estável é preciso ter uma boa alimentação, hábitos de vida saudáveis, praticar atividade física moderada, evitar o tabagismo e o uso de drogas. “Tudo isso ajuda a manter a imunidade estável e evita a suscetibilidade de mais infecções”, diz.

Popularmente usado para caracterizar que a pessoa tem boa defesa no organismo, o termo imunidade alta não deve ser usado do ponto de vista médico. “A interpretação técnica deste termo pode caracterizar uma forte reação imunológica do organismo, com formação exagerada de anticorpos, fugindo da normalidade. É bom ter imunidade equilibrada, nem de mais, nem de menos, para proteção adequada do organismo, para que o próprio sistema imune não vire um vilão e ‘ataque’ a própria pessoa”, orienta a Dra. Regina.

Diferencie pela gravidade

O que pode provocar queda na imunidade?

  • Doenças crônicas;
  • Carência de vitaminas;
  • Pouco repouso;
  • Abuso de medicamentos;
  • Alcoolismo;
  • Medicamentos corticoides;
  • Imunossupressores.

Sintomas da imunidade baixa

  • Cansaço excessivo;
  • Febre e calafrios frequentes;
  • Náuseas e vômitos;
  • Diarreia;
  • Doenças simples que ficam graves, como gripes que duram semanas;
  • Otites;
  • Herpes na região genital;
  • Herpes labial;
  • Estomatite;
  • Amigdalite.

Fonte: hematologista do Hospital Moriah, Dra. Regina Biasoli

E para ter o sistema imune regulado é preciso investir em bons hábitos. A nutricionista Elizabeth Panisset afirma que os nutrientes podem ter impacto sobre o sistema imune regulando diretamente a produção e a diferenciação de células de defesa. “Entre eles estão o ômega-3 e ômega-6. A regulação do sistema imunológico também pode sofrer interferência do excesso de alimentação ou do jejum prolongado, diminuindo assim a resposta imunológica”, comenta.

Segundo ela, além da quantidade de energia que se ingere, a imunidade também sofre interferência do consumo de vitaminas e minerais. “A vitamina E tem importante papel sobre a manutenção da imunidade, protegendo o organismo dos danos causados pela produção de radicais livres. A vitamina C, igualmente antioxidante, tem propriedades anti-inflamatórias e bactericidas. A vitamina A também entra nesse grupo de antioxidantes que melhoram a imunidade”, explica. A nutricionista exemplifica: “entre os minerais, podemos citar o selênio, ferro, zinco e  cobre, que são responsáveis pela manutenção da imunidade. Sua carência pode gerar imunossupressão. Os minerais funcionam como cofatores de enzimas que agem na resposta imunológica e na formação de células de defesa”, finaliza.

Foto: Shutterstock

O voto da vitória

Edição 311 - 2018-10-01 O voto da vitória

Essa matéria faz parte da Edição 311 da Revista Guia da Farmácia.