Incômodo e urgência da incontinência urinária

Problema mais comum entre as mulheres e os idosos, a perda involuntária de urina tem cura e seu tratamento pode ajudar não só nesta situação, mas a devolver a vida social dos acometidos

Aproximadamente oito milhões de brasileiros sofrem com a incontinência urinária, incômodo presente na vida de pessoas independentemente de sexo, raça ou idade. O problema é caracterizado pela perda involuntária de urina e pode ser causado por diferentes fatores, como a perda da força da musculatura ou pela contração independente da bexiga.

“A incontinência por esforço ocorre quando a urina escapa ao se fazer esforços como tossir, espirrar, carregar peso, subir escada, entre outros. Já a incontinência por urgência acontece quando a bexiga tem uma necessidade premente de urinar – fatores irritativos na bexiga, como inflamações ou infecções, podem desencadear este tipo de perda. Existem pacientes que têm ambas as perdas e necessitam de exames apropriados para determinar qual delas é a mais importante e qual a necessidade de correção”, explica o urologista da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo (SP), Dr. Adriano Cardoso Pinto.

No primeiro caso, a incidência é maior entre as mulheres. Isso acontece por causa da anatomia feminina, que apresenta a uretra mais curta e a pelve mais ampla, fazendo com que a pressão dos órgãos seja maior sobre a bexiga e o períneo.

Tipos de incontinência

De esforço:

Acontece por causa da fraqueza dos músculos pélvicos que dão suporte à bexiga ou pela fraqueza ou lesão do esfíncter uretral. Neste caso, o vazamento ocorre quando a pessoa está em uma atividade que força o abdômen, como tossir, dar risada, carregar peso ou até andar.

De urgência:

Resulta quando a bexiga se contrai independentemente da vontade do paciente e, por isso, também é chamada de bexiga hiperativa. A pessoa pode ter a sensação de que precisa correr para o banheiro, mas muitas vezes não consegue chegar a tempo de evitar o escape.

Mista:

Corresponde à combinação das incontinências de esforço e de urgência.

Por transbordamento:

Ocorre quando a bexiga está tão cheia que chega a transbordar. Pode ser causado pelo enfraquecimento do músculo da bexiga ou pela obstrução à saída da urina, como no caso do aumento da próstata. Por isso este tipo de incontinência é mais frequente em homens.

Funcional:

Acontece quando a pessoa não consegue chegar ao banheiro ou não tem acesso a um urinol quando precisa. Neste caso, ainda que o sistema urinário funcione bem, limitações físicas, mentais ou outras circunstâncias impedem que a pessoa use normalmente o banheiro.

Fonte: Hospital Sírio-Libanês

Além disso, de acordo com o urologista da BP – A Beneficência Portuguesa, Dr. Cesar Nardi, na gravidez, pode haver sobrecarga da musculatura, aumentando a fragilidade da musculatura do assoalho pélvico, fazendo com que a incontinência urinária de esforço apareça mais facilmente com a idade.

Mas esse não é o único fator de risco para a incontinência urinária. “Idade, sedentarismo, obesidade, multiparidade, falta de assistência médica em partos, cirurgias pélvicas (próstata em homens e útero em mulheres) estão entre outros fatores de menor relevância”, alerta o urologista do Hospital Santa Catarina, Dr. Reinaldo Tsuneo Uemoto.

E a atenção vai além. Dados demonstram que a incidência do problema poderia estar aumentando em todo o mundo. Para o médico, isso acontece por vários fatores: maior longevidade de homens e mulheres; maior número de obesos, pelo consumo de dietas calóricas e sedentarismo; maior acesso aos serviços médicos; aumento de cirurgias pélvicas em homens e mulheres; e o conhecimento da população sobre o problema de perda de urina.

Por outro lado, essa pode ser apenas uma “impressão”. “O que ocorre é que mais mulheres estão buscando tratamento. No passado, a perda urinária, principalmente no idoso, era considerada parte do envelhecimento e não se buscava tratamento. Hoje, mais idosos estão ativos e querem uma vida livre de problemas, o que os leva a buscar tratamento para essas patologias”, considera o Dr. Cardoso.

Fatores de risco

Sexo:

A incontinência urinária por esforço acomete mais as mulheres porque elas possuem a uretra mais curta e a pelve mais ampla, fazendo com que a pressão dos órgãos intra-abdominais seja maior sobre a bexiga e o períneo. A gravidez também pode deixar a musculatura do assoalho pélvico mais frágil.

Idade:

Conforme a idade avança, é mais comum que os músculos que sustentam a bexiga e o músculo esfincteriano, que envolve a bexiga, se tornem mais fracos, aumentando a incidência da incontinência urinária. Além disso, idosos podem ter mais dificuldade de locomoção para chegar ao banheiro.

Obesidade:

Estudos demonstram que a incidência da incontinência urinária aumenta até 10% para cada quilo por m² de aumento do Índice de Massa Corporal (IMC). Além disso, o sedentarismo ajuda na fraqueza dos músculos da região.

Fontes: urologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dr. Adriano Cardoso Pinto; e urologista do Hospital Santa Catarina, Dr. Renaldo Tsuneo Uemoto

Boa notícia

Uma das principais missões, não só do médico, mas de todo profissional de saúde, é mostrar aos pacientes que a incontinência urinária tem cura. Ao menos é o que acredita o Dr. Nardi, frisando a importância do tratamento para a vida social do acometido, que acaba deixando de se relacionar com outras pessoas e de sair de casa por ter medo de estar cheirando mal ou por ter que usar fralda ou absorventes íntimos.

“O uso de fraldas, absorventes ou roupa íntima é um paliativo, e não um tratamento. É preciso que o paciente e o médico investiguem a causa da perda de urina e tratem o problema, pois quase sempre é curável”, alerta ele.

Opções ao consumidor

Ambos os produtos – fraldas ou absorventes – são indicados para incontinência urinária, mas com formatos e recomendações distintas. Cada apresentação é específica para diferentes níveis de incontinência.

Por exemplo, para pacientes com pequenos escapes de urina ou incontinência leve, é indicado o uso de absorventes específicos para escapes de urina.

Já para pessoas com pouca ou nenhuma mobilidade e acamados, o uso de fraldas é indicado, pois além de serem confortáveis, com maior performance e horas de proteção, são mais fáceis de serem colocadas pelo cuidador familiar ou profissional.

Pacientes que mantêm uma rotina e vida social ativa procuram por produtos discretos, além de conforto e segurança, e, por isso, a roupa íntima descartável é a mais indicada, pois veste como uma calcinha ou cueca e contribui para manter a vida no ritmo normal.

Exposição correta

Pesquisas realizadas com o shopper com o objetivo de entender seu hábito de compra mostram que a escolha do produto é baseada principalmente no nível de incontinência urinária: leve, moderada, intensa e severa.

A partir disso, é possível que a escolha seja feita entre as opções disponíveis nas gôndolas (absorventes, roupas íntimas e fraldas). Por isso a exposição dos itens da categoria de Cuidado Adulto deve ocorrer de maneira educativa, deixando claro para o consumidor a segmentação de produtos e os níveis de incontinência.

Fonte: diretora de marketing das marcas Bigfral e Moviment – do grupo belga Ontex, Marina Inserra

Existem medicamentos que aumentam a capacidade de conter a urina na bexiga, chamados de antimuscarínicos, e os que diminuem a contração vesical, ajudando na perda por urgência. Poucos medicamentos, segundo o Dr. Cardoso, ajudam na perda por esforço. Um deles é a duloxetina, um antidepressivo que funciona em casos iniciais.

Além disso, o paciente pode fortalecer a musculatura da região com fisioterapia ou, se for o caso, fazer uma cirurgia. Atualmente, o procedimento coloca uma “tela” na uretra – ou artificial ou uma faixa da pele do abdômen ou da lateral da coxa – para dar apoio e acabar com a incontinência.

Foto: Shutterstock

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Edição 313 - 2018-12-04 Como vender mais em 2019

Essa matéria faz parte da Edição 313 da Revista Guia da Farmácia.