Infecções de garganta, nariz e ouvido: conexões doloridas

As infecções que acometem os sistemas respiratório e auditivo estão relacionadas e podem se tornar mais graves se não bem cuidadas. Anti-inflamatórios e analgésicos fazem parte do tratamento

Pequenos canais ligam a garganta, nariz e ouvido. Ainda que essa não seja uma lembrança do dia a dia, ao ter uma infecção em uma dessas regiões, fica clara – principalmente com a dor e o incômodo – a ligação entre eles. Uma dor de garganta pode, por exemplo, ser a responsável por uma infecção no ouvido.

O sufixo “ite” entre doenças significa inflamação. Crônicas ou não, as doenças que acometem o sistema respiratório e auditivo podem causar dor e incômodo, se não forem bem tratadas. Por isso, entender as diferença entre cada uma delas é essencial na orientação correta.

“Basicamente, não existem diferenças ao pensar nos agentes causadores dessas doenças, que podem ser os vírus ou as bactérias. E sem se esquecer dos fungos que causam as micoses, principalmente, no conduto auditivo externo”, revela o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Cícero Matsuyama.

Porém, apesar dos causadores serem os mesmos, sintomas e tratamentos dependem de qual parte do corpo foi acometida. É aí que entra a importância de saber a diferença entre as infecções mais comuns.

Os tipos de infecções de garganta, nariz e ouvido

As principais doenças de garganta são as rinofaringites, as laringites e as amigdalites. Ou seja, cada uma delas significa a inflamação em alguma parte do sistema respiratório: faringe, laringe ou amígdalas. Elas causam dor local, dificuldade de deglutição, febre, mal-estar, dores musculares e dor para se alimentar.

“A laringite já é um pouco diferente porque ela leva à rouquidão. Uma das características de quem tem a patologia é a tosse. Ainda que os acometidos pela amigdalite e pela faringite também possam ter tosse, a dor local é o sintoma em maior evidência”, comenta o otorrinolaringologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Danilo Anunciatto Sguillar.

Já as patologias que acometem o ouvido são as otites, que podem ser externas ou médias. As médias estão mais relacionadas ao inverno e as externas mais ao verão. Isso porque as otites externas acontecem, normalmente, pelo excesso de água no ouvido. E isso é comum quando as pessoas passam muito tempo em piscinas ou no mar, sendo consideradas doença “de nadador”.

Já as otites médias acontecem, principalmente, a partir de uma sinusite ou uma rinofaringite. A interligação entre a garganta, o nariz e os ouvidos faz com que o acúmulo de secreção corra para o ouvido médio, acumulando-se na região.

“Um dos nervos responsáveis pela sensibilidade da garganta inerva, também, o conduto auditivo externo. Por isso, uma pessoa tem dor de ouvido, principalmente na deglutição, quando está acometida por uma inflamação de garganta”, complementa o Dr. Matsuyama.

Um vilão chamado inverno

De acordo com o otorrinolaringologista do Hospital Santa Catarina, Dr. José Carlos Burlamaqui, é preciso ter mais cuidado no inverno. É nessa época que a temperatura está instável e o ar seco, o muco fica muito espesso e acaba ficando nos seios do rosto, piorando os quadros das infecções de garganta, nariz e ouvido.

“As pessoas que mais sofrem são aquelas que, imunologicamente, são mais suscetíveis, crianças pequenas e as pessoas mais velhas. Além disso, cometidos por diabetes, em sua forma muito grave, submetidos a implantes, HIV positivo com carga viral alta e obesos são outros grupos de risco”, comenta ele.

Como evitar o problema

A transmissão dos vírus é feita por meio das secreções das tosses e dos espirros, desse modo, lavar as mãos correta e frequentemente é essencial para evitar a transmissão. Além disso, ao espirrar ou tossir, é necessário proteger a boca e o nariz com lenços ou com a parte interna do braço.

“O fator imunológico está diretamente ligado às patologias. Um quadro que começa com uma amigdalite e vira bacteriano pode ocorrer por alguns motivos, como dormir pouco, se alimentar mal. Por isso, é aconselhável que o paciente beba bastante água, durma sempre no mesmo horário, alimente-se bem e tenha um estilo de vida saudável. Além disso, evitar o contato com pessoas doentes e manter os lugares arejados são atitudes que ajudam”, comenta o otorrinolaringologista da BP.

O médico explica, ainda, que os ditos populares também podem estar corretos. Dormir e sair de casa com o cabelo molhado, tomar friagem e andar descalço são exemplos de maneiras de resfriar o corpo, fazendo a imunidade oscilar. Com isso, crescem as chances do corpo ser acometido por uma doença.

Tratamentos para infecções de garganta, nariz e ouvido

Analgésicos e antitérmicos

Quando a pessoa já está infectada, analgésicos e antitérmicos ajudam a diminuir o incômodo. Existem, também, dois tipos de anti-inflamatórios: não hormonais e hormonais. O primeiro são os mais comuns, como o ibuprofeno e a nimesulida. Já os hormonais são os corticoides. É possível tratar as infecções de garganta e ouvido de cunho viral com os dois tipos de medicamentos.

“Os quadros inflamatórios surgem quando há um aumento da produção de prostaglandina. A prostaglandina é gerada por meio da ação de uma enzima chamada Ciclooxigenase (COX). Os anti-inflamatórios agem inibindo a ação da COX. Sem COX, há menor produção de prostaglandinas e menos estímulos para ocorrer inflamações”, ensina a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.

Por outro lado, o otorrinolaringologista do Hospital CEMA alerta para o uso de anti-inflamatórios sem prescrição médica, que pode ser extremamente perigoso. A primeira orientação aos pacientes deve ser a utilização de analgésicos (dipirona ou paracetamol). Afinal, essas afecções são autolimitadas, devendo melhorar em aproximadamente cinco dias.

Antibióticos para infecções de garganta, nariz e ouvido

No caso de infecções bacterianas, é necessária a prescrição médica de antibióticos. De acordo com a farmacêutica, essas são algumas das principais classes disponíveis no mercado:

  • Betalactâmicos: têm como mecanismo de ação a inibição da síntese da parede celular bacteriana.
  • Antibióticos que alteram a topoisomerase: interferem na ação da enzima topoisomerase II no superenovelamento do DNA bacteriano, não permitindo sua transição ou replicação.
  • Polimixinas: agem alterando os fosfolipídios da membrana celular da bactéria.
  • Glicopeptídeos: agem inibindo a síntese da parede celular bacteriana.

Assistência médica

“As imunizações preconizadas na rede pública ou privada têm ajudado muito na prevenção das possíveis complicações. Porém, a procura pela assistência médica adequada e especializada, nos casos da não melhora após alguns dias da instalação da doença, se faz necessária para um bom restabelecimento corporal dos pacientes”, alerta o otorrinolaringologista do Hospital CEMA.

A orientação pela procura de um médico deve ser feita não só quando o paciente reclama de dores persistentes no ouvido e garganta, bem como quando há dificuldades de deglutição. Ou ainda, quando houver dificuldade de abrir a boca, dificuldade respiratória ou apresentar febre muito alta.

Portanto, os quadros arrastados, que duram mais de cinco a sete dias, merecem atenção especial. É preocupante quando não há melhora ou há piora. Além disso, preocupa um quadro que tem uma leve melhora e afunda novamente. Nesse momento, a doença pode ser bacteriana, necessitando de uma avaliação médica.

Foto: Shutterstock

Cuidados contra doenças respiratórias no inverno

Terceira idade em destaque

Edição 307 - 2018-06-01 Terceira idade em destaque

Essa matéria faz parte da Edição 307 da Revista Guia da Farmácia.