Irritação frequente

Ácaros, fungos, animais domésticos e pólens são alguns dos principais agentes causadores de alergias. Estima-se que aproximadamente 30% da população sofra com complicações

Espirrar uma, duas, três, várias vezes seguidas pode não ser apenas um desconforto causado por uma gripe ou resfriado. Na maioria das vezes, é sinal de alergia, como a rinite alérgica, por exemplo, que pode ser causada por inúmeros agentes.

No Brasil, estima-se que a rinite  atinja cerca de 30% da população e a asma, de 10% a 15%, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Dr. Fábio Morato Castro. Nos Estados Unidos, a alergia é a quinta doença crônica mais prevalente em todas as idades e a terceira mais comum em crianças. Em 1980, somente 10% da população ocidental sofria de alergias. Hoje, o número é três vezes maior.

As alergias, como explica o pneumologista do Hospital Samaritano de São Paulo, Dr. Antonio J. Appezzato, são situações nas quais o organismo apresenta uma resposta imunológica inadequada frente ao estímulo desencadeado por um agente denominado alérgeno, ocasionando uma resposta inflamatória exuberante. “Quando esta resposta se localiza nas vias aéreas, podemos ter a manifestação de doenças, como as rinites ou rinossinusites e a asma.”

Como surge uma alergia

“Não é alérgico quem quer, mas sim quem já tem uma predisposição, pois alergias, como rinite ou sinusite, vêm do casamento entre fatores genéticos e ambientais”, explica a alergista da Asbai, Dra. Ana Paula Castro. Para a médica, podem ser exemplificados como esses fatores ambientais a exposição a ácaros, fungos, pólen ou até pelos de animais.

Já o pneumologista do Hospital Villa-Lobos, Dr. Elie Fiss, esclarece que uma infecção também pode desencadear um processo alérgico. “Existem pacientes que após quadros infecciosos – como a gripe – apresentam doenças do aparelho respiratório”, diz o especialista. Porém, o médico lembra que ainda nesses casos a genética (predisposição) é um fator altamente relevante. Para a Dra. Ana Paula, a rinite é, nos dias atuais, a doença crônica mais comum do mundo. “Por volta de 40% da população tem possibilidade de desenvolver a alergia”, opina.

Principais sintomas e prevenção

Os sintomas que os portadores de rinite alérgica apresentam são obstrução nasal (entupimento), coriza, espirros (algumas vezes o paciente espirra mais de 20 vezes seguidas) e coceira no nariz, que também pode ser na garganta ou nos olhos. “A presença de um ou mais sintomas é sugestiva para o diagnóstico clínico da asma: falta de ar, tosse seca, chiado e opressão no peito”, esclarece a alergista do Hospital Alvorada, Dra. Brianna Nicoletti.

Lacrimejamento dos olhos, sangramentos nasais (epistaxes), prurido em regiões, como palato (coceira no céu da boca) e conduto auditivo, também podem surgir.

Como prevenção, o presidente da Asbai orienta que a limpeza, ambientes arejados e ensolarados, fáceis de limpar, são medidas fundamentais. “Existem ainda aspiradores com filtros especiais, capas protetoras de travesseiro e colchão, acaricidas, etc.”

Se apenas a limpeza do ambiente não resolver, há necessidade de usar medicamentos. “Nos casos mais graves e de difícil controle, a imunoterapia específica pode ser associada”, assinala.

métodos preventivos

O tratamento das alergias respiratórias avançou muito nos últimos anos. O enfoque atual é a prevenção. Ela requer uso diário de anti-inflamatórios (corticoides tópicos) ou em casos extremos, como uma asma grave, por exemplo, corticoides sistêmicos e até imunossupressores (como ciclosporina) e anticorpos monoclonais anti-imunoglobulina (omalizumab).

Apesar da evolução dos medicamentos para o tratamento da alergia, muitos ainda causam efeitos adversos no organismo, como explica o Dr. Appezzato, por isso é necessário que o farmacêutico fique atento e oriente o consumidor para as possíveis reações.

Os descongestionantes tópicos ou orais são de vasoconstrição. Eles ajudam a aliviar a congestão nasal pelo estreitamento (constrição) dos vasos sanguíneos e redução do fluxo de sangue e inchaço, o que permite às pessoas respirarem mais facilmente.

Há ainda aqueles que são formulados à base de soro, podendo ser usados a qualquer hora do dia, com o objetivo de higienizar as narinas e eliminar as bactérias que a poluição ou o ar seco fazem com que se acumulem nos seios da face.

O pneumologista do Hospital Samaritano explica que os anti-histamínicos de 1ª geração tendem a apresentar maior efeito de sedação. “Sempre que possível, optar pelos de 2ª geração, os quais são mais efetivos, com posologia mais fácil e menor risco de induzir a sedação, se comparados aos de 1ª geração.”

Orientação essencial

Informar o paciente quanto à importância de ter um plano de ação bem estruturado com seu médico é uma das responsabilidades dos farmacêuticos; além disso, eles podem orientar sobre os riscos e as reações medicamentosas. “O paciente não deve ficar tratando apenas as crises, mas procurar um tratamento preventivo.”

Além disso, o Dr. Appezzato considera que as orientações relacionadas ao controle ambiental e à utilização de dispositivos para uso tópico nasal ou inalatório são extremamente úteis e podem ser reforçadas pelo farmacêutico.

De acordo com a Dra. Brianna, uma pesquisa feita em 11 países da América Latina, entre eles o Brasil, publicada na revista Salud Publica, da Organização Panamericana da Saúde, aponta o resultado dessa situação: 97,6% das pessoas que sofrem de alergias respiratórias lidam de forma incorreta com a doença e costumam procurar ajuda médica somente em momentos de crise da doença. 

Autor: Ludmilla Pazian e Vivian Lourenço

Mercado ilegal de medicamentos

Edição 275 - 2015-10-01 Mercado ilegal de medicamentos

Essa matéria faz parte da Edição 275 da Revista Guia da Farmácia.

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