Males do mundo moderno

Associados à vida cotidiana, distúrbios como ansiedade e estresse têm sido cada vez mais diagnosticados. A procura por tratamento natural impulsiona as vendas de homeopáticos e fitoterápicos

Se por um lado a tecnologia possibilitou a conectividade 24 horas por dia, sete dias por semana, por outro, ela trouxe consigo uma carga maior de responsabilidades, que quando não cumpridas, ocasionam uma série de patologias, entre elas, o estresse e a ansiedade.

Geralmente, a ansiedade é causada por problemas de ordem emocional e familiar, bem como está ligada a um fator externo. “Alguns elementos da vida moderna, como trânsito, pressão no ambiente de trabalho, entre outros, podem exacerbar os quadros. Entretanto, quando ela é acompanhada de sentimentos, comportamentos ou sintomas que incapacitam a pessoa ou a prejudicam fortemente em suas atividades do dia a dia, é preciso investigar se não se caracteriza como um distúrbio ou transtorno de ansiedade”, completa o supervisor e assistente do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), Dr. Luiz Vicente Figueira de Mello.

Quando a ansiedade se torna um distúrbio, logo aparecem os sintomas de nervosismo, medo e insegurança. “Ela se torna patológica quando é desadaptativa, inapropriada, inadequada, exagerada. Nessa forma, desencadeia sintomas físicos, como falta de ar, palpitações, apreensão excessiva, fobias, tonturas ocasionais e, às vezes, insônia, crises de pânico e outros sintomas”, esclarece o Dr. Mello. 

A ansiedade considerada patológica é denominada transtorno de ansiedade e existem diversas apresentações. Entre elas, o transtorno de ansiedade generalizada, o transtorno de pânico, as fobias específicas (fobia social, agorafobia), transtorno de ansiedade de separação, transtorno de ansiedade induzido por substâncias, mutismo seletivo e os transtornos fóbico-ansiosos não especificados. Os transtornos fóbicos de maneira geral são incluídos nos transtornos de ansiedade. “A gravidade de cada transtorno varia conforme a pessoa acometida e outras variáveis a ser avaliadas caso a caso”, ressalta o Dr. Mello.

Além dos sentimentos de insegurança e medo, a ansiedade pode acarretar dor de cabeça, tremor, náusea, insônia, queda de cabelo e falta de apetite. “Um quadro de ansiedade não tratado pode evoluir com exacerbação dos sintomas, bem como com incapacitação do indivíduo para a realização das atividades de vida diária. Em geral, isso acontece em pacientes não tratados ou em situações de maior estresse. Sinais de piora da doença incluem aumento da frequência e intensidade dos sintomas, incapacitação para o trabalho e para a realização de atividades simples do cotidiano”, explica o psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Daniel de Sousa Filho. 

Consequências da ansiedade

Em 60% dos casos, a ansiedade pode evoluir para depressão de várias gravidades, acrescenta o Dr. Mello, destacando que a doença pode agravar transtornos clínicos de outra natureza, como a hipertensão. Segundo o Dr. Sousa Filho, os transtornos de ansiedade podem estar associados a outros transtornos, como depressivo, afetivo bipolar, déficit de atenção e hiperatividade e obsessivo-compulsivo. “Transtornos de ansiedade não diagnosticados ou não adequadamente tratados podem estar associados a uma série de outras doenças, como asma, lesões de pele (vitiligo, psoríase), males gastrointestinais (síndrome do cólon irritável), entre outras”, afirma.

Pesquisas indicam que o distúrbio de ansiedade atinge perto de 18% das populações norte-americana e europeia. No Brasil, estima-se que aproximadamente 12% da população sofra de ansiedade, de acordo com o IPq, um montante que ultrapassa 24 milhões de pessoas. No entanto, esse número pode ser ainda maior. “De modo geral, observa-se no País um subdiagnóstico dos transtornos de ansiedade, uma vez que a população tem pouco acesso a profissionais de saúde mental”, frisa o Dr. Sousa Filho. 

Casos de estresse

Podendo estar ligado ou não a casos de ansiedade, o estresse acontece quando o excesso de atividades (e a quantidade de problemas) sobrecarrega não apenas o físico, mas também o estado mental da pessoa. 

“Assim como a ansiedade, pode ser caracterizado como um transtorno quando associado a prejuízos importantes que impactam a qualidade de vida, as relações, o trabalho e o cotidiano das pessoas”, revela o psiquiatra do Hospital Albert Einstein. Sinais agudos de estresse, diz o especialista, estão incluídos na Classificação Internacional das Doenças em sua décima revisão (CID-10) como reações ao estresse grave e a transtornos de adaptação. 

“Nessas situações, além de lazer e repouso, o indivíduo pode necessitar de psicoterapia, outras modalidades terapêuticas e medicamentos, nos casos mais graves”, afirma o Dr. Sousa Filho, lembrando que as pessoas que apresentam níveis altos de estresse podem desenvolver transtornos de ansiedade e outros transtornos, como os depressivos. “O estresse desencadeia ansiedade e, quando aguda, pode desencadear estresse. São paralelos e muitas vezes coincidentes”, completa o Dr. Mello. 

Prevenção e tratamento disponível

Para tratar todos esses sintomas, é cada vez mais crescente à busca por opções consideradas naturais, alternativas e amenas. Com isso, a homeopatia ganha força no varejo farmacêutico e conquista um espaço cada vez mais relevante nas gôndolas das farmácias de todo o País.

A população brasileira, assim como a mundial, está aceitando cada vez mais os medicamentos homeopáticos como opção para prevenção e tratamento de suas doenças. São medicamentos sem efeitos colaterais adversos e com grandes resultados. 

“O mercado de homeopáticos no Brasil tem potencial estimado em 600 milhões a 700 milhões”, analisa o diretor da Boiron no Brasil, Juan Pablo Udry. “No caso da Boiron, por exemplo, o crescimento de vendas foi de 30% no primeiro trimestre de 2015”, diz.

O tratamento do estresse e da ansiedade varia de acordo com o transtorno específico e a intensidade. Para os casos mais leves de ansiedade, por exemplo, são indicadas terapias com especialistas, entre elas, a cognitivo-comportamental, que busca alterar padrões de comportamentos e pensamentos que desencadeiam as crises. 

Já nos casos moderados e mais graves, é recomendada a combinação das terapias com medicamentos, que podem ser alopáticos sintéticos e fitoterápicos. “O tratamento para os transtornos ansiosos depende da gravidade e do subtipo apresentado. Muitas vezes, medicamentosos com antidepressivos e psicoterapia, mais especificamente psicoterapia cognitiva comportamental ou, em alguns transtornos, apenas psicoterapia”, pontua o Dr. Mello, lembrando que os tratamentos levam, em média, de seis meses a dois anos e, se possível, devem ser acompanhados de seis em seis meses mesmo após melhora significativa. As atividades físicas também contribuem para o tratamento da ansiedade.

Além disso, Udry ressalta que tanto a homeopatia como a alopatia têm limitações terapêuticas, e o mais importante é o profissional de saúde estar ciente disto e saber, para cada caso, como orientar, seja pela utilização de um medicamento homeopático, alopático ou fitoterápico. 

“Há alguns anos, os medicamentos homeopáticos eram mais facilmente encontrados nas farmácias de homeopatia e, por isso, especialmente no Brasil, existe uma cultura muito enraizada de que não seriam medicamentos encontrados nas grandes redes de farmácias. Na verdade, a categoria nas drogarias ainda está subdesenvolvida, porém com grandes oportunidades de melhorias em layout e comunicação para o consumidor, mas ela está cada vez mais presente nestes estabelecimentos para o tratamento de diversas doenças”, conclui Udry.

O laboratório Natulab tem apostado em medicamentos para o tratamento dos sintomas e patologias relacionadas principalmente com o estilo de vida do homem moderno, o que inclui ansiedade, insônia e estresse. De acordo com a empresa, entre os fitoterápicos mais vendidos estão os calmantes. “A Natulab possui três produtos destinados ao tratamento da ansiedade e distúrbios do sono, sendo que outros medicamentos estão em desenvolvimento”, revela a empresa.

Os fitoterápicos para estresse, depressão e ansiedade são eficazes e seguros. O acompanhamento dos pacientes e a vigilância farmacológica também são indispensáveis, pondera a médica e presidente da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (Sobrafito), Dra. Maria Fátima de Paula Ramos. 

“A proposta dos fitoterápicos é muito boa porque só utiliza os medicamentos que foram aprovados em estudos clínicos. Todos os medicamentos sintéticos e fitoterápicos precisam passar por teste”, diz a Dra. Maria Fátima. 

“O início da ação do fitoterápico depende do tipo de extrato vegetal, com sua respectiva ação e não há um único padrão para todos os extratos existentes”, completa a responsável pelo Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma, Dra. Rita de Cássia Salhani Ferrari. “Não há uma média genérica que se possa afirmar. No entanto, a maioria dos estudos clínicos realizados com fitoterápicos para testar sua eficácia e segurança costuma ter, no mínimo, quatro semanas de tratamento. Isso corrobora o conceito de fitomedicamentos para doenças de menor gravidade, mas com maior tendência para doenças crônicas do que crises agudas.” 

Fitoterápicos usados para tratar estresse e ansiedade

• Erva-de-são-joão: é uma das mais eficientes para o tratamento da ansiedade.

• Melissa ou erva-cidreira: tem óleos que acalmam.

• Camomila: possui efeito calmante.

• Passiflora: atua como calmante em crises de ansiedade.

• Valeriana: dispõe de propriedades na raiz que ajudam a melhorar o sono.

Autor: Marcelo de Valécio e Tatiana Ferrador

Prazos encurtados

Edição 282 - 2016-05-01 Prazos encurtados

Essa matéria faz parte da Edição 282 da Revista Guia da Farmácia.

Deixe um comentário