Mercado de genéricos no Brasil

Com crescimento acima da média, eles são os responsáveis pelo desenvolvimento do setor

Todos os setores da economia foram e estão sendo afetados pela crise econômica e política pela qual o Brasil passa. Os reflexos estão sendo sentidos desde as indústrias, passando pelo varejo e chegando ao consumidor. Porém, os medicamentos ainda são um dos poucos que podem comemorar resultados positivos, sobretudo a categoria de genéricos.

Contudo isso não indica que o mercado não sofreu com a turbulência. Ao mesmo tempo em que a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos) anunciou que os medicamentos genéricos tiveram um desempenho acima da média do mercado farmacêutico, os números apontam o pior índice de crescimento nos últimos três anos. 

Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, as vendas de medicamentos genéricos cresceram 18,7% em unidades comercializadas. Ao todo, foram 270 milhões, entre janeiro e março de 2016, contra 227,4 milhões no mesmo período de 2015. 

Já em desempenho de vendas, março deste ano apresentou um número bastante expressivo: 107,5 milhões contra 81,5 milhões em janeiro. Em valores, as vendas movimentaram R$ 1,456 bilhão no primeiro trimestre de 2016 contra R$ 1,329 bilhão no mesmo período do ano passado, proporcionando uma alta de 9,52%. A projeção de crescimento do IMS Health, para este ano, é de 13% a 15%. 

Opção econômica

A crise econômica pode não ser de todo o mal para o setor de genéricos. Em função do cenário econômico pouco favorável, com aumento das taxas de desemprego e inflação de dois dígitos, os genéricos tornam-se a alternativa mais viável para o bolso enxuto dos consumidores por conta do preço mais acessível. 

“Em tempos de crise, os genéricos tendem a crescer acima do mercado farmacêutico total, em razão, principalmente, da migração de demanda dos medicamentos de referência para os genéricos pelo mercado consumidor, que busca economizar. Como medicamento é um item com o qual o consumidor não pode ficar sem, ele opta por uma alternativa mais econômica, no caso os medicamentos genéricos”, aposta o farmacêutico do setor de lançamentos do Teuto, Thiago Lobo Matos. 

Apesar de o Brasil estar muito distante de mercados como o dos Estados Unidos, onde o setor representa cerca de 80% do volume comercializado, alguns sinais demonstram que a categoria está no caminho certo em busca do aumento na participação de mercado. Segundo pesquisa do Datafolha, em 2012, o índice de confiança era de 70% e, em 2014, já havia passado para 73% – o que mostra um crescente ganho de credibilidade para os brasileiros.

Para a presidente da PróGenéricos, Telma Salles, o receio quanto à eficiência e qualidade dos genéricos é um obstáculo superado. “A desconfiança ocorreu em um primeiro momento, hoje, os consumidores entenderam que são produtos exatamente iguais; também passaram a reconhecer as empresas fabricantes, sabem que são sérias e renomadas. Se não houve um avanço em participação de mercado como gostaríamos, foi por conta de fatores econômicos”, pontua. 

Precificação correta

Apesar de lidar com produtos de saúde, farmácias são comércio, logo, também devem estar atentas às mudanças de comportamento da população. Por isso, o preço baixo costuma ser o atrativo da maioria das lojas, independentemente do tamanho ou da região em que atua. A grande diferença entre farmácias e varejo em geral é que os medicamentos têm preços regulados, o que exige maior atenção no momento de conceder descontos. 

No caso dos genéricos, a lei determina que os produtos sejam, pelo menos, 35% mais baratos que os itens de referência. Ainda assim, o consumidor e a alta concorrência demandam por mais descontos. Diante desse cenário, o varejista precisa traçar estratégias corretas, que permitam oferecer um preço competitivo, mas sem gerar prejuízos ao ponto de venda. Nessa corda bamba, alguns erros são cometidos com frequência. 

De acordo com a consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso, os varejistas tendem a trocar de fornecedores constantemente, em busca de algumas ofertas com preço baixo, mas acabam não tendo vantagem alguma nos demais produtos. “Isso espanta o cliente que vem em busca de um produto que, a cada mês, se apresenta com um preço diferente”, aponta. 

Os equívocos de precificação ocorrem porque lojas de pequeno e médio portes tentam superar os preços fornecidos pelas grandes redes a qualquer custo. O consultor da Desenvolva Consultoria e Treinamento, Marcelo Cristian Ribeiro, aponta as consequências desse comportamento. “O varejista acaba por colocar um preço muito abaixo que o de mercado, sacrificando a rentabilidade geral. Outras vezes, comunica o preço, mas não tem o medicamento disponível, pois falta poder de negociação em volume.”

Quando os genéricos foram lançados no Brasil, em 1999, a resistência ao produto foi enorme. Muitos varejistas acreditavam ser impossível obter lucro ao vender um produto com custo 35% mais baixo. Hoje, quem trabalha bem a categoria sabe que as vantagens são muitas, a começar pela relação indústria-varejo. 

Mesmo diante da pressão da concorrência, os especialistas em varejo garantem que é possível ser competitivo, sem sacrificar a rentabilidade da farmácia. “O percentual de desconto nos genéricos é bem maior no preço de fábrica. Enquanto nos medicamentos de referência, a indústria costuma conceder descontos de 7% a 11%; nos genéricos, o fabricante disponibiliza uma condição comercial de 60% a 70% de desconto”, destaca o coordenador de treinamento do Teuto, Claudio Louzada. 

Vale lembrar que boas condições de preço são concedidas quando há uma relação de fidelidade e confiança entre o varejista e o fabricante ou distribuidor. Por isso, Silvia destaca novamente a importância da escolha do fornecedor da farmácia. “É preciso ter ótimos parceiros, que permitam trabalhar com margens interessantes. O fundamental é não sair fazendo ‘leilão nas compras e nas vendas’ porque desta forma sempre se sai perdendo.”

O segredo da rentabilidade está em estabelecer uma média ponderada na hora de definir a precificação da farmácia. Na prática, é preciso despertar a percepção dos clientes em relação às vantagens dos genéricos. “Em produtos que o consumidor adquire de forma continuada, cujo gasto já está inserido no orçamento mensal da família, é fundamental que o varejista seja competitivo.” 

Com maior desconto nos produtos certos, a chance de conseguir a fidelização do cliente aumenta muito mais. “Com um atrativo para voltar, o consumidor vai à loja com muito mais frequência e acaba levando outros medicamentos, além de produtos de Higiene & Beleza (H&B), que costumam trazer muita rentabilidade ao varejista”, orienta Louzada. 

Top 10 Marcas 

1ª. Losartana Potássica (Neo Química)

2ª. Citrato de Sildenafila (Neo Química)

3ª. Sinvastatina (Sandoz)

4ª. Citrato de Sildenafila (Eurofarma)

5ª. Losartana Potássica (EMS)

6ª. Losartana Potássica (Medley)

7ª. Losartana Potássica (Eurofarma)

8ª. Pantoprazol (Aché)

9ª. Clopidogrel (Sandoz)

10ª. Pantoprazol (Medley)

Fonte: IMS Health

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Boas perspectivas 

Apesar de ainda enfrentar entraves no momento do registro de medicamentos, o ano promete ser abundante em lançamentos de genéricos. Um levantamento realizado pela PróGenéricos mostra que, em 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a cópia de 35 medicamentos de referência. 

“Claro que há muito a ser aprimorado, mas nos últimos dois anos, a Anvisa vem se mostrando bem competente no enfrentamento dos problemas. E a priorização foi para os genéricos inéditos. Tem sido feito um trabalho muito bom. Percebemos o esforço e a resposta tem sido satisfatória”, elogia Telma.

A expectativa é de que as novas moléculas gerem um ganho de R$ 615 milhões por ano. E não deve parar por aí: estima-se que a lista de medicamentos inovadores que poderão ganhar cópias só tende a crescer. Até 2025, as novidades que irão surgir no mercado deverão ser capazes de gerar um faturamento extra de R$ 1,7 bilhão. 

Genéricos altamente rentáveis já começaram a surgir nas prateleiras. A Neo Química, divisão de genéricos da Hypermarcas, prepara, ainda para este ano, o lançamento de genéricos de três dos 35 medicamentos que perderam a patente recentemente: tadalafila, celecoxibe e cloridrato de olopatadina. 

A EMS, que lidera o mercado de genéricos há três anos, também tem lançamentos importantes para 2016, com aproximadamente dez moléculas já aprovadas pela Anvisa, sendo que, destas, sete são inéditas, ou seja, representam a primeira versão genérica do medicamento após a expiração da patente.

“Juntos, apenas esses lançamentos de novos genéricos, previstos para chegarem às farmácias nos próximos três meses, representam um mercado de no mínimo R$ 500 milhões em faturamento”, destaca o diretor comercial da unidade de Genéricos da EMS, Aramis Domont.

Reforçando o cenário de contradição, a Sandoz, divisão de genéricos da Novartis, sofreu as consequências do mau momento vivido pela economia brasileira, mas, ainda assim, a fábrica instalada em Cambé (PR) registrou recorde de produção, com 1,6 bilhão de comprimidos produzidos – aumento de 23% em relação ao ano anterior. 

“Foi maior que a projeção, alavancada por alguns lançamentos bem-sucedidos, recuperação de portfólio, mas, principalmente, por um cuidadoso e consistente trabalho de nossa equipe para entender e atender cada vez melhor às necessidades de nossos clientes e pacientes”, acredita o diretor-geral da Sandoz Brasil, André Brázay. 

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Autor: Flávia Corbó e Vivian Lourenço

 

Proporções Pandêmicas

Edição 285 - 2016-08-01 Proporções Pandêmicas

Essa matéria faz parte da Edição 285 da Revista Guia da Farmácia.

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