Uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2015, pelo Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada (Cpdec), sobre fraude e corrupção no segmento do comércio varejista constatou que muitas empresas são vítimas de desfalques promovidos por seus próprios colaboradores. Esses desfalques se apresentam geralmente de duas formas: 1) roubo de dinheiro, 2) roubo de produtos.
Em 92% dos casos, os desvios de dinheiro foram feitos por colaboradores da área financeira ou gerencial. Em 52% dos casos, os roubos de produtos foram feitos pelos colaboradores, (41% por balconistas e 11% por entregadores e assistentes) e 48% por clientes.
Os roubos de produtos efetuados pelos clientes são maiores em volume, mas menores em valor, isto porque os clientes roubam o que é possível, com maior frequência, em pequenas quantidades; enquanto os colaboradores escolhem o produto do roubo e, por isso, roubam itens de maior valor.
Descobrir os roubos dos clientes é mais fácil, devido às câmaras internas e às contagens de produtos. Mas os desfalques realizados pelos funcionários são bem mais difíceis de descobrir, porque, geralmente, os esquemas são concebidos por quem conhece as fragilidades dos sistemas ou dos processos. Estima-se que mais de 50% dos roubos realizados pelos funcionários do comércio varejista não são descobertos.
O economista americano Robert Klitgaard criou uma fórmula que descreve a fraude como resultado do acesso ao dinheiro, mais o poder decisório, aliados a um déficit de transparência ou falta de vigilância. É comum tratar o roubo e os desfalques como um problema moral, mas não se pode dar ênfase apenas ao papel das pessoas, mas sim às circunstâncias em que o roubo ocorre. Qualquer sistema ou processo, que dependam exclusivamente da honestidade dos envolvidos, terão exposição a um elevado risco.
No estudo promovido pelo Cpdec, foi constatado que os roubos no comércio varejista têm menos a ver com a honestidade e mais a ver com oportunidades. A maioria dos roubos foi feita por pessoas “primárias”. Isso significa que, se as condições forem propícias, haverá um incentivo para que ele ocorra.
O roubo não pode ser combatido apenas com um discurso moral. É preciso adotar medidas preventivas que permitirão ampliar as chances de sucesso. Os processos devem quebrar concentração de poder e tornar mais abertas as etapas em que o problema tem maior possibilidade de ocorrer. Criar modelos de aprovação que envolvam mais de um árbitro, gerar interdependência e promover conferências constantes são algumas medidas que reduzirão os riscos.
Nas empresas que apresentam crescimento rápido, os roubos são mais comuns, porque os dirigentes estão com sua atenção mais concentrada nos aspectos relacionados à garantia das operações, do que nas ações de controle. Essas empresas têm o desafio de compatibilizar crescimento com controle.