O aumento dos casos de desidratação

O calor excessivo e o aumento da incidência de doenças intestinais são responsáveis pelo crescimento dos casos. Falta de água e sais minerais podem ser graves

A hidratação do corpo acontece como uma simples equação de matemática. Para que o organismo tenha água o suficiente, é necessário que a ingestão do líquido seja maior do que a perda dele. Caso contrário, acontece a tão conhecida desidratação, extremamente prejudicial para a saúde.

Segundo o clínico geral do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Marcus Gaz, o corpo humano é composto em sua maior parte por água. Ela é fundamental para que aconteçam as reações químicas que fazem as células e os órgãos funcionarem adequadamente. Caracteriza-se por desidratação o estado em que o corpo tem sua concentração de água reduzida dentro das células.

O problema pode ser ocasionado, basicamente, por dois impulsionadores: a baixa ingestão de água ou pela perda excessiva de líquidos. O problema acontece, por exemplo, em uma diarreia que se estende por alguns dias – como em um quadro de virose. Ambos os responsáveis são mais comuns no verão.

Contra a desidratação

Diferentes líquidos ajudam a conter e reverter o quadro de desidratação. São eles:

• Água mineral: é a mais indicada para acabar com o quadro. Além de repor o líquido, ela complementa o nível de sais minerais necessários para o corpo.

• Isotônico: não deve ser usado no dia a dia, mas, sim, em situações de perda rápida, como em um quadros de diarreia ou em prática de exercício físico intenso.

• Solução de reidratação oral: pode ajudar em casos de desidratação moderada, quando somente a água não é suficiente.

Soro caseiro: pode ser feito em casa com um litro de água filtrada ou fervida, uma colher rasa de chá de sal e duas colheres rasas de sopa de açúcar.

• Leite materno (para bebês até seis meses de vida): é o líquido ideal para os bebês e, após esta idade, beber água em intervalos curtos e em pequenos goles.

Fontes: nutricionista da BP – A Beneficência Portuguesa, Weruska Barrios; nutricionista do Hospital Moriah, Dra. Carla de Carvalho Teixeira; e clínico geral do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Marcus Gaz

A causa da desidratação, de acordo com a nutricionista do Hospital Moriah, Dra. Carla de Carvalho Teixeira, ocorre se a água eliminada pelo organismo através da urina, suor, respiração e lágrimas, não for reposta adequadamente. Isso pode acontecer, também, por causa da transpiração excessiva; nos indivíduos com diabetes, devido ao aumento de micções; e o uso descontrolado de diuréticos.

“No calor, acabamos aumentando a excreção de líquidos e, muitas vezes, não aumentamos a ingestão de água. A criança, por exemplo, brinca muito mais, se distrai e não para para tomar água ou suco. Os problemas gastrointestinais, como a diarreia, consumo de alimentos com qualidade sanitária duvidosa e vômitos, fazem com que haja perda excessiva de líquidos sem a reposição na mesma intensidade”, revela a nutricionista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Weruska Barrios.

A especialista explica que, para que seja diagnosticado um quadro de desidratação, é preciso que a perda de líquido seja igual ou maior do que 1% do peso do paciente. Ou seja, se uma pessoa pesa 70 kg e perde 700 mL de líquido, entra em um quadro de desidratação moderada. E o problema não está ligado somente à perda de água, mas dos sais minerais que compõem a água que se bebe.

Sintomas e como tratar

A nutricionista do Hospital Moriah explica que os principais sintomas na desidratação leve e moderada são a sede exagerada, boca e pele secas, olhos fundos, ausência ou pequena produção de lágrimas, diminuição da sudorese, sonolência, dor de cabeça, cansaço, fraqueza e tontura.

É preciso estar atento, inclusive, à sede do dia a dia. Todas as pessoas devem beber água em pequenas porções durante todo o dia, ainda que se sintam saciadas. Isso porque a sede já é um primeiro indício de desidratação, ainda que em um nível mínimo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade ideal para o consumo diário de água é de 2,5 litros para um homem de 60 kg e 2,2 litros para uma mulher de 58 kg.

“Normalmente, nos estágios iniciais, apresentamos sede, o que motiva a ingestão de líquidos e corrige a desidratação. No entanto, em situações mais graves, como naquelas em que a pessoa não consegue ingerir líquidos, os sintomas se agravam, provocando aceleração do coração, queda da pressão arterial, sonolência e lentificação e até convulsão e parada cardíaca em casos extremos”, diz o Dr. Gaz.

Crianças e idosos

Os mais acometidos pela desidratação são, também, os públicos que mais necessitam de atenção. Em crianças e idosos, qualquer desequilíbrio acaba causando consequências mais graves. Isso acontece, pois as crianças desidratam com mais facilidade pelas características biológicas delas, e os idosos, geralmente, têm menos sede e menos acesso à água. É difícil para um idoso acamado, por exemplo, solicitar água ou manifestar sede.
No caso de bebês, é indicado um volume de água frequente, por isso, muitas vezes, há a insistência na recomendação do leite materno de três em três horas. Além disso, são idades que frequentemente têm um quadro de diarreia, porque são mais frágeis.

Fontes: nutricionista da BP – A Beneficência Portuguesa, Weruska Barrios; e clínico geral do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Marcus Gaz

Os sintomas mais perigosos acontecem porque a desidratação grave altera os sais minerais do corpo, reduz a produção de urina, levando à falência dos rins ou à diminuição da pressão arterial com falência do coração e alteração do estado mental. Por isso, é importante buscar um profissional nos primeiros sintomas de gravidade, especialmente em situações em que o paciente não consegue ingerir água e outros líquidos pela boca, como quando está vomitando muito.

A melhor maneira de se manter hidratado é tomando água mineral. No entanto, em situações de desidratação já manifestada, ela pode ser insuficiente. Nesse caso, o uso de isotônicos e soluções de reidratação oral pode ajudar, mas as alterações do corpo secundárias precisam, muitas vezes, ser medicadas com soluções endovenosas.

Além da água, diferentes líquidos podem ajudar a evitar ou tratar a desidratação. É o caso dos sucos naturais e águas aromatizadas. Comer frutas, principalmente as ricas em água, como melancia e melão, também ajuda a repor o líquido do corpo.

A atenção fica para os refrigerantes. “Eles não ajudam na hidratação, principalmente por causa do sódio e do açúcar. Se for a versão zero, tem muito sódio a mais, então não ajuda. Pelo contrário, poderá competir em algumas situações metabólicas e causar até mais sede”, pontua a nutricionista da BP.

Foto: Shutterstock

Estrelas do mês

Edição 302 - 2018-01-01 Estrelas do mês

Essa matéria faz parte da Edição 302 da Revista Guia da Farmácia.