O incômodo visível dos fungos

Causada por fungos que podem atingir a pele, os pelos e as unhas, a doença visível é tratável e pode ser prevenida com cuidados pessoais básicos

Uma coceira persistente. Manchas esbranquiçadas ou uma mudança na cor ou na textura das unhas. Sintomas clássicos de algum tipo de micose. Aliás, esse é o nome dado a doenças que são causadas por fungos (microrganismos) que podem ser encontrados na terra, areia, nos animais e até mesmo na pele humana.

O calor e a umidade são as condições ideais para o desenvolvimento e a proliferação desses fungos, que crescem, se reproduzem e causam a doença, ou seja, ambientes úmidos, abafados e com pouca ventilação. “Esses fungos passam a consumir a queratina presente na superfície da pele ou das unhas”, comenta o dermatologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dr. Daniel Dziabas.

Para a dermatologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Isabela Fleischfresser, há ainda fungos específicos que gostam de áreas mais oleosas da pele. “Entre os fungos mais comuns causadores de micoses na pele e nas unhas, estão os dermatófitos (Trychophyton e Epidermophyton) e as leveduras (Malassezia e Candida)”, diz

Dez dicas para que os pacientes previnam o desenvolvimento de micoses

1. Usar somente material próprio ao ir à manicure.

2. Secar-se muito bem após o banho, com atenção especial às áreas das axilas, virilhas e dos dedos dos pés.

3. Evitar contato prolongado com água e sabão.

4. Evitar andar descalço em locais úmidos, como vestiários, saunas e áreas de piscina.

5. Não ficar com roupas molhadas por muito tempo.

6. Não compartilhar toalhas, roupas, escovas de cabelo e bonés.

7. Evitar usar calçados totalmente fechados por longos períodos.

8. Optar por calçados mais largos e ventilados.

9. Evitar o uso de roupas muito quentes e justas.

10. Evitar o uso de roupas feitas com tecidos sintéticos, pois este material prejudica a transpiração da pele.

Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)

Na maioria das vezes, os sintomas são de leves a moderados, mas existem desconfortos, como coceira, descamação e vermelhidão na pele, alteração na morfologia das unhas, além do aspecto estético, que pode ficar bastante desagradável.

A especialista acrescenta que a manifestação da micose pode variar muito. “Fungos podem se manifestar como manchas na pele, às vezes brancas ou até vermelhas, com crescimento lento, descamação nas bordas e sensação de coceira, podem aparecer como fissuras entre dedos dos pés ou até como áreas de pequenas bolhas”, explica.

Além da pele, dos pelos e das unhas, as micoses podem afetar a mucosa oral, a ocular, a mucosa geniturinária e também os órgãos internos, sendo que as superficiais (pele, pelo e unha) são as mais comuns.

“A maioria das micoses superficiais é causada por contato direto ou indireto com o fungo por meio de indivíduos, animais ou materiais contaminados”, diz a dermatologista e coordenadora do Departamento de Micologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dra. Regina Casz Schechtman.

Ela esclarece ainda que quando a doença localiza-se preferencialmente na epiderme (camada mais superficial da pele), a micose é chamada de superficial. “As micoses superficiais são as frequentes em nosso meio por causa da maior facilidade de contato com a camada externa da pele e/ou com a mucosa”, diz.

Já quando o fungo atinge as camadas mais profundas da pele, ou seja, derme e hipoderme, a doença é chamada de micose subcutânea e quando a doença se espalha e atinge os órgãos internos, é chamada de micose sistêmica.

As micoses subcutâneas e sistêmicas diferenciam-se basicamente pela via de penetração do fungo. “Nas micoses subcutâneas, o trauma desempenha papel fundamental e a propagação ocorre por contiguidade ou por disseminação linfática, enquanto que nas micoses sistêmicas, o contágio se faz essencialmente por inalação e a propagação das partículas do fungo que ocorre pela linfa e pelo sangue”, revela a Dra. Regina.

Tipos de micoses

Pelos

Tínea Capilar: manifesta-se como manchas vermelhas de superfície escamosa, que crescem de dentro para fora, com bordas bem delimitadas, apresentando pequenas bolhas e crostas. O principal sintoma é coceira.

Pele

Versicolor: apresenta-se como manchas brancas, descamativas, que podem estar agrupadas ou isoladas. Geralmente, aparecem na parte superior dos braços, tronco, pescoço e rosto. Ocasionalmente, podem se apresentar como manchas escuras ou avermelhadas, daí o nome versicolor.

Candidíase: pode se manifestar de diversas formas, como placas esbranquiçadas na mucosa oral, comum em recém-nascidos (o popular, sapinho); lesões fissuradas no canto da boca (queilite angular) mais comum no idoso; placas vermelhas e fissuras localizadas nas dobras naturais (inframamária, axilar e inguinal); ou envolver a região genital feminina (vaginite) ou masculina (balanite), provocando coceira, manchas vermelhas e secreção vaginal esbranquiçada.

Unhas

Onicomicose: trata-se de uma alteração na coloração das unhas, que podem ficar amareladas, esbranquiçadas, esverdeadas ou, até mesmo, enegrecidas; na espessura, ou seja, a unha tende a ficar mais grossa; ou ainda, no formato das mesmas que pode ficar alterado, com defeitos.

Fontes: dermatologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dr. Daniel Dziabas; e Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)

Nas micoses sistêmicas, o indivíduo pode estar com baixa imunidade e, por consequência, adquirir a doença de forma grave ou disseminada. Já as micoses superficiais manifestam-se por prurido (coceira) que acompanha áreas de pele com placas avermelhadas e descamação.

Também podem atingir os pés, os fios do couro cabeludo e da barba e haver ainda queda dos cabelos na área afetada. “As micoses subcutâneas podem aparecer na pele como verdadeiros abscessos e as micoses sistêmicas podem gerar quadros pulmonares e cerebrais, como também meningite ou osteomielite em pacientes acamados ou debilitados”, conta a médica.

Ainda segundo a Dra. Regina, pacientes diabéticos, em uso de corticoide por via oral por longo tempo, pacientes transplantados e os com câncer são os mais suscetíveis para adquirir as micoses sistêmicas.

Cuidado redobrado

O verão é um período propício para o desenvolvimento dos fungos causadores de micoses e por várias razões. A primeira delas é o aumento da sudorese, ou seja, as pessoas suam mais e a umidade é o grande favorecedor do crescimento dos fungos.

Em segundo lugar vem o fato da pele estar mais exposta, com menos roupa, calçados mais abertos, aumentando as chances de contato com áreas ou lugares onde haja algum fungo causador da doença.

Já a transmissão do fungo pode acontecer por contato interpessoal, por objetos contaminados ou pelos animais. “Algumas vezes, o fungo está no próprio ambiente, neste caso, tem mais relação com a pele fornecer um local propício ao seu desenvolvimento. É claro que lugares úmidos e de uso público, como banheiros de academias e clubes, podem concentrar maior quantidade de fungos. Neste caso, usar sandálias de dedos diminui a possibilidade de contato”, alerta a Dra. Isabela, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A planta dos pés é uma das áreas mais afetadas pela micose e o motivo está mais uma vez na umidade. “As pessoas passam o dia com o mesmo sapato e, com isto, a associação entre o abafamento da região e o suor da pele contribui para que a micose dos pés seja tão comum. A virilha é outra área do corpo que também pode ser bastante afetada”, afirma.

Para prevenir as micoses superficiais, é necessário que os pacientes mantenham a pele sempre seca. Já nas micoses subcutâneas, todo o cuidado deve ser tomado para que não haja penetração com trauma do agente fúngico.

Diagnóstico e tratamento

O exame clínico é essencial para identificar a presença da doença, mas para saber exatamente qual é o fungo causador, é preciso ir mais fundo. O Dr. Dziabas, da SBD, explica que o paciente pode ser submetido a um exame micológico direto e à cultura para fungos.

“Nesses dois exames, o material utilizado é o que foi raspado da lesão de pele ou da unha afetada. No primeiro exame, podemos identificar a ‘espécie’ do fungo e, no segundo, seu ‘nome e sobrenome’”, explica.

Segundo o médico, o tratamento pode ser feito com antifúngicos tópicos (em creme, spray ou loção) ou via oral, dependendo da intensidade do quadro. “O tratamento para micose na pele demora de um a seis meses. Já para a micose de unhas, esse tempo pode se estender por até um ano. Se não tratadas, as micoses podem aumentar progressivamente e também sofrer infecção secundária por bactérias, pois a micose pode servir de ‘porta de entrada’ para bactérias, que podem causar infecções mais graves, como a erisipela”, alerta.

Vale lembrar que os medicamentos de uso oral são indicados para casos mais resistentes de micose, ou em áreas mais extensas. Entre as classes de medicamentos empregadas no tratamento das micoses, estão os antifúngicos e substâncias antibióticas que agem direta ou indiretamente contra os fungos.

Foto: Shutterstock

Doenças de inverno

Edição 305 - 2018-04-01 Doenças de inverno

Essa matéria faz parte da Edição 305 da Revista Guia da Farmácia.