O mercado dos bens de consumo em 2019

No início do ano sobram previsões e profecias sobre os negócios

Falemos claro: quem vive de vender dinheiro (bancos), informações (palestras e assemelhados) e expectativas (governo) têm interesse em vender otimismo e, com alguns malabarismos, e muita fé, prometem que 2019 será o ano da retomada do crescimento. Eu discordo dessas profecias. A previsão otimista para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está em torno de 2% ao ano, o que é muito pouco para o Brasil.

A despeito das dificuldades gerais da economia, o segmento da saúde tem apresentado bom desempenho, em particular nos produtos de menor valor unitário, como os medicamentos genéricos. Veremos que outros segmentos apresentam desempenho semelhante, sugerindo caminhos para os negócios das farmácias neste ano.

O consumo tende a cair quando há desemprego alto e baixa capacidade de consumo, porém, a demanda por bens prioritários cai menos, resiste à crise geral ou até mesmo aumenta, beneficiando-se do redirecionamento do consumo dos produtos mais caros para os de menor preço. Essa é uma das explicações para o desempenho dos medicamentos genéricos, com aumento de 11,4% nos dez primeiros meses de 2018, enquanto o mercado farmacêutico geral cresceu 6,9% (dados da IQVIA). Não houve lançamentos de genéricos, reforçando a hipótese do aumento de consumo e migração dos produtos mais caros para os mais baratos, segundo informa a Pró Genéricos.

Relatório da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontou que supermercados e farmácias lideraram a abertura de lojas em 2018, “indício da fraqueza da recuperação da economia”, indicando que os produtos de baixo valor unitário que não dependem de crédito vão bem. Para 2019, Carrefour e Pão de Açúcar, redes de varejo de bens de primeira necessidade, devem ampliar os investimentos, atingindo R$ 2 bilhões e R$ 1,8 bilhão, respectivamente.

Além da conjuntura de baixo crescimento, o foco no mercado de produtos mais baratos tem atraído gigantes mundiais. Walgreens Boots Alliance e a Verilly informam investimentos em serviços e produtos para redução dos custos com os cuidados aos pacientes crônicos, como adesão à medicação, diagnóstico e gerenciamento da saúde. A Walgreens é uma empresa de venda de medicamentos com faturamento de US$ 131,5 bilhões em 2018 e a Verilly, empresa do Google para o segmento saúde.

Avaliando o comportamento dos genéricos e os movimentos de grandes empresas do varejo, percebemos a tendência do aumento do investimento com foco nos produtos essenciais e mais baratos. É razoável esperar que particularmente no Brasil essa tendência se mantenha por dois ou três anos. 

Por Maria Cristina Amorim – Diretora-Executiva da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan)

Elas já são maiorias

Edição 315 - 2019-02-02 Elas já são maiorias

Essa matéria faz parte da Edição 315 da Revista Guia da Farmácia.