O novo papel do farmacêutico

Com a conquista de leis que ampliam o papel do farmacêutico no cuidado da saúde da população, a grade curricular dos cursos de ensino superior está sofrendo mudanças importantes

Os princípios, fundamentos, condições e os procedimentos da formação de farmacêuticos em âmbito nacional são definidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do Ministério da Educação (MEC). Em linhas gerais, a duração da graduação em Farmácia deve ser de cinco anos, podendo ser ajustada para quatro anos de acordo com o Projeto Pedagógico de Curso (PPC).

A formação dos farmacêuticos deve ser pautada em princípios éticos e científicos, capacitando o aluno para o trabalho nos diferentes níveis de complexidade do sistema de saúde, por meio de ações de prevenção de doenças, de promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como em trabalho de pesquisa e desenvolvimento de serviços e de produtos para a saúde.

“Além disso, a formação do farmacêutico deve ser humanista, crítica, reflexiva e generalista. Sendo assim, a construção do perfil de egresso é a pedra fundamental para a elaboração do projeto pedagógico do curso, nele contidos a matriz curricular, as ementas, os estágios, os modelos de avaliação, os projetos de extensão, enfim, de toda a construção do curso”, comenta o coordenador do curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, Prof. Valter Luiz da Costa Júnior.

Essas diretrizes nortearam os cursos superiores de Farmácia por muitos anos. No entanto, uma série de conquistas recentes permitiu a ampliação do papel do farmacêutico no cuidado da saúde da população.

Faixa salarial média para cada área de atuação

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Fonte: relatório Perfil do Farmacêutico no Brasil, do Conselho Federal de Farmácia (CFF)

Em 2013, foram publicadas duas resoluções importantes, que regulamentaram a existência da farmácia clínica e criaram a prescrição farmacêutica. No ano seguinte, foi promulgada a Lei 13.021, que formaliza os preceitos da assistência farmacêutica.

Diante dessas mudanças, o Conselho Federal de Farmácia (CFF), junto aos conselhos regionais, refletiram que os farmacêuticos egressos das instituições de ensino, com o currículo atualmente vigente pelo MEC, não estariam amplamente aptos, com tantas novas atividades e competências, a exercer esse cuidado farmacêutico.

O CFF e os conselhos regionais formularam, então, uma proposta de revisão das diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em farmácia e a enviaram ao MEC.

“O texto foi elaborado em um processo de construção coletiva, democrático e transparente, que resultou de uma série de eventos promovidos pelo CFF e demais entidades farmacêuticas, a partir de 2014, e contemplam, em seu bojo, quatro mil horas, com cinco anos de integralização e três eixos para a formação: Cuidado em Saúde (50%), Tecnologia e Inovação em Saúde (40%) e Gestão em Saúde (10%). Os estágios devem ser iniciados, no máximo, até o terceiro semestre, e os cursos apenas poderão ser coordenados por farmacêuticos”, explica o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.

A Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/CNE) acatou a proposta e, em 19 de outubro de 2017, publicou a Resolução 06/2017, instituindo as novas DCNs para o curso de Farmácia. Para Costa Júnior, as novas diretrizes estão alinhadas com a demanda social pelo serviço farmacêutico.

“Atualmente, se exige do profissional a aplicação de conhecimentos específicos na resolução dos diversos problemas decorrentes da farmacoterapia e o delineamento do profissional está intrinsecamente ligado ao ensino. Assim, os cursos de Farmácia devem garantir uma formação articulada ao contexto social, entendendo a profissão como uma forma de participação e contribuição social.”

Caminhos e escolhas

Atualmente, mais de 400 instituições de ensino superior possuem graduação em farmácia. Juntas, elas oferecem mais de 49 mil vagas todos os anos. Considerando que mais de 103 mil estudantes costumam prestar vestibular para Farmácia anualmente, há uma média de 2,06 candidatos por vaga. Mesmo depois de enfrentar a concorrência, nem todos os egressos concluem o curso, já que o número de formandos anuais fica em torno de 16 mil.

De acordo com dados do CFF, a maioria dos profissionais formados em farmácia (67,9%) graduou-se em instituições particulares, enquanto 32,1% são remanescentes de instituições públicas. Com relação à região de origem da graduação, 41,3% formaram-se na Região Sudeste; 28,1% na Sul; e 30,5% nas demais regiões.

Cerca de 70% desses formandos inicia a vida profissional atuando em farmácias comunitárias, de acordo com o CFF. No entanto, durante a graduação, a indústria farmacêutica é uma das áreas que mais desperta interesse, assim como pesquisa clínica, farmácia hospitalar, análises clínicas e toxicológicas também são áreas muito procuradas.

Mais de 400 instituições de ensino superior possuem graduação em farmácia. Juntas, elas oferecem mais de 49 mil vagas todos os anos. Considerando que mais de 103 mil estudantes costumam prestar vestibular para Farmácia anualmente, há uma média de 2,06 candidatos por vaga

De acordo com o coordenador do curso de Farmácia da Universidade Anhembi Morumbi, Geraldo Alécio de Oliveira, a preferência dos estudantes depende muito das opções de empregabilidade.

“No estado de São Paulo, por exemplo, a área de indústrias farmacêuticas é a principal escolha. Porém, em outros estados, os estudantes buscam as áreas de análises clínicas e hospitalar. Contudo, os setores que mais empregam farmacêuticos em todo o território nacional são as drogarias e as farmácias de manipulação”, comenta.

De fato, a pesquisa O Perfil do Farmacêuticos no Brasil, feita pelo CFF, mostra que 81,1% dos profissionais pesquisados atuam em algum tipo de farmácia ou drogaria.

“O varejo contribui muito para a colocação dos egressos do curso, em particular devido ao número de postos de trabalho e ao novo perfil da profissão que começa a modificar a visão de que as unidades de varejo são, na realidade, estabelecimentos de saúde e que, desta forma, podem e devem prestar diversos serviços farmacêuticos à população”, explica Costa Júnior.

Atualização constante

A etapa da graduação é fundamental para a construção do conhecimento básico de um profissional. No entanto, é preciso estar ciente de que a busca por informação não deve se encerrar junto com a entrega do diploma. Estima-se que 50% do conhecimento fica obsoleto em aproximadamente três anos, logo, o profissional que não investe em uma capacitação constante se torna facilmente substituível em seu ambiente de trabalho.

“Já não basta mais que o farmacêutico possua apenas a graduação. Torna-se necessário que cada vez mais ele se especialize na área escolhida, quer por meio de cursos de pós-graduação lato sensu, quer por meio de cursos de especialização stricto sensu. Como exemplo, podemos citar o concurso para farmacêutico nas forças armadas brasileiras. Os editais têm exigido especialização do farmacêutico, quer em indústria farmacêutica, quer nas análises clínicas”, aconselha Jorge João.

Os caminhos para atualização são diversos e devem ser escolhidos considerando o contexto organizacional em que o profissional está inserido e quais são as metas futuras.

Há dez anos, diante do espaço e da relevância que os não medicamentos conquistaram dentro do varejo farmacêutico brasileiro, a Contento Comunicação criou uma nova publicação: a revista Essencial, especializada em pautas sobre produtos de beleza e correlatos.

“É preciso fazer algumas reflexões, como, por exemplo: que habilidades são esperadas para se diferenciar na função atual? O que o mercado valoriza? Quais são os seus gaps e pontos fortes? Qual é a meta desejada?”, orienta a diretora do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada (Cpdec), Rosângela Curvo Leite.

Feita essa análise, é possível decidir a trilha a seguir. O mercado oferece inúmeras opções: programas em formatos mais tradicionais e acadêmicos, como pós-graduação, mestrado, doutorado e Mestre em Administração de Negócios, conhecido como MBA, na sigla em inglês, até cursos livres de curta duração.

Há ainda os cursos oferecidos pelas entidades da classe farmacêutica. Dentro do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), por exemplo, há o Núcleo de Educação Permanente (NEP), que promove cursos e atividades diversas, tanto presenciais quanto a distância.

Existe também a possibilidade de se manter atualizado por meio de publicações especializadas no setor farmacêutico. A Contento Comunicação publica uma série de materiais voltados à profissionalização e atualização dos profissionais, principalmente àqueles que atuam no varejo.

Há 25 anos, o Guia da Farmácia circula mensalmente entre farmácias de todo o País, levando conteúdo sobre gestão, saúde, varejo, além de debates da atualidade. Em meses alternados durante o ano, a revista ainda vem acompanhada de um Suplemento Especial, que aborda temas relevante para o mercado, como Genéricos, Suplementos e Vitaminas, Correlatos, entre outros.

Há dez anos, diante do espaço e da relevância que os não medicamentos conquistaram dentro do varejo farmacêutico brasileiro, a Contento Comunicação criou uma nova publicação: a revista Essencial, especializada em pautas sobre produtos de beleza e correlatos.

A Contento Comunicação ainda trabalha com publicações especiais, como o Treina PDV Farma, uma plataforma de cursos criada para contribuir com a qualificação e atualização dos profissionais que atuam no varejo farmacêutico. Elaborado por especialistas do mercado, o conteúdo é exposto de maneira prática e totalmente aplicável ao dia a dia das farmácias e drogarias. O varejista pode optar por acessar cursos rápidos e gratuitos ou se cadastrar no programa de capacitação, que oferece material mais detalhado.

Foto: Shutterstock

Estrelas do mês

Edição 302 - 2018-01-01 Estrelas do mês

Essa matéria faz parte da Edição 302 da Revista Guia da Farmácia.